sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vozes discordantes: os "inimigos" internos da UM!

Transcrevo a seguir a tomada de posição do colega Paulo J. S. Cruz, a propósito do debate em curso sobre a actuação do suposto jornal UMdicas, divulgado na UM em 6/02/08.

Caros Colegas,

É preocupante que se pretenda que a Universidade do Minho despenda energias em debates laterais, rotulados de "questões de princípio", cuja persistência parece resultar de uma estratégia deliberada para inibir a discussão dos seus verdadeiros desafios e impedir um processo de reforma que o momento actual deveria exigir. Não me parece que a Universidade deva dissipar a energia e o tempo dos seus elementos em questões demagógicas e enredadas num conceito estranho do que é e deve ser uma "Universidade Democrática". Temos vindo a assistir a intervenções exacerbadas mas esvaziadas de substância, que, insistentemente, ao abrigo de uma aparente promoção do debate interno, ofendem os membros da Academia que entendem não alimentar tal processo. Infelizmente, limitam-se a procurar gerar entropia, desfocar a comunidade académica dos seus verdadeiros problemas e comprometer as possibilidades de um verdadeiro debate. Os desafios de assegurar a relevância da Universidade Minho, no espaço de ensino superior europeu e no seio da sua envolvente sócio-económica, não se compadecem com processos de destruição interna de motivação duvidosa. Há o tempo de eleger os nossos órgãos e de sufragar programas de acção… E há o tempo de construir o projecto Universidade do Minho! As ameaças à Academia só deveriam proceder do exterior. No entanto, lamentavelmente, parece ter desenvolvido dentro de si uma vertigem que a atordoa e a tenta desviar da razão…

Com os melhores cumprimentos,

Paulo J. S. Cruz

Comentário:

Presume-se então que o colega não ficará ofendido, se um folheto informativo - impresso nesta universidade, pago com o seu dinheiro e amplamente distribuído no exterior - decidir colocar a sua fotografia em grande plano, com um subtítulo "Por que no te callas?", e lhe juntar uma notícia falsa de conteúdo atentatório do seu bom-nome e dignidade.

É bom fazermos o exercício de nos colocarmos no lugar do outro, neste caso o nosso colega que foi alvo da atenção do UMdicas. A isso se chama capacidade de empatia - ajuda-nos muito a tratar os outros com o mesmo respeito com que gostamos de ser tratados.

O colega não se indignará com tal situação e recomendará que fique quieto quem pretenda ter para consigo uma atitude solidária. Argumentará que qualquer gesto de repúdio por essa forma de actuação:

a) "ofende os membros da Academia que entendem não alimentar tal processo;"

b) será um dispêndio de "energias em debates laterais, rotulados de "questões de princípio";

c) dará alento a "questões demagógicas e enredadas num conceito estranho do que é e deve ser uma "Universidade Democrática";

d) etc...

É claro que neste caso, apesar de todo o discurso eufemístico, o colega fez a sua escolha. É livre de a fazer...

Mas sou levado a retomar José Hermano Saraiva:

"O funcionamento eficaz, durante um período muito longo (dois séculos) de um serviço de controlo da actividade intelectual e de repressão de opiniões e práticas confessionais é, sem possibilidade de dúvida, um facto de extrema importância" [na nossa História].

Ora, aqui está boa parte da idiossincracia que nos amarra ao atraso cultural, científico, económico e cívico: a cultura repressiva da livre expressão do pensamento que estrangula as ideias e definha a capacidade de inovação do País.

O colega acredita que o projecto da Universidade do Minho se faz por cima do silenciamento das vozes discordantes. Digo-lhe eu que isso é aniquilar grande parte do potencial criativo da nossa Universidade.

Atribui-se a si uma seriedade que contrapõe à suposta leviandade dos que pomovem "processos de destruição interna". Mas, com toda a franqueza, não acho que acredite ser mais empenhado no bem do instituição do que aqueles que critica. Essa atitude radica-se em motivos de outra natureza.

Tem mais a ver com o facto de que certos poderes precisam de construir a imagem de que eles próprios e os seus modos de actuação se confundem com o interesse da instituição... país... município, etc. e, consequentemente, com os interesses directos das pessoas. Na outra face da moeda estarão os que discordando de tais poderes, representam danos para as pessoas. É uma táctica muito conhecida.

Há sem dúvida diferentes perspectivas quanto ao modo de fazer face ao futuro da UM, bem como quanto ao modo de fazer o quotidiano da UM. O quotidiano de hoje é muito preocupante... mas são encorajadores os sinais de mudança.

2 comentários:

J. Cadima Ribeiro disse...

Caro Joaquim Sá,
Diz que "são encorajadores os sinais de mudança". Oxalá tenha razão, caro colega!
Cordiais cumprimentos,

Anónimo disse...
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