quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mobilizemo-nos para a Mudança!

(...) Infelizmente os Estatutos da UM já foram feitos para tentar perpetuar a oligarquia que tem gerido a UM nos últimos anos. Já me pronunciei noutra ocasião sobre o facto dos funcionários terem sido reduzidos ao mínimo nos vários orgãos da UM. Este facto não deve ser alheio aos resultados de eleições ocorridas para a Assenbleia e para o Senado em que a lista dos funconários não alinhados com a reitoria teve uma vitória esmagadora sobre os outros claramente alinhados com a reitoria. (...) Assim, conclui-se que só podemos contar connosco: os professores e investigadores, ...
Jaime Rocha Gomes:
"Ventos de mudança para os professores da UM" em Prálem d'Azurém

domingo, 21 de dezembro de 2008

Vale tudo porque o único critério é vencer!

(...) Para usar o lugar-comum conhecido, o ter substituiu o ser. O critério de vida é vencer. Sempre, a qualquer preço. Vencer significa derrotar e liquidar os outros. Quem vence tem razão. E tem razão porque vence. É a democracia no seu pior. Maior. Mais alto. Mais depressa. Mais pesado. Mais forte. Mais rápido. Já não se trata de jogos olímpicos, eles próprios transformados em feira de animais. Trata-se da vida quotidiana. Para se chegar lá, ao "topo", para se ser "líder", tudo o que se pode fazer deve ser feito. Incluindo aldrabices, ilegalidades, golpes, mentira, publicidade enganosa e corrupção. Tudo o que justifique ganhar votos, vender mercadoria e eliminar os rivais não só pode ser feito, como deve ser feito. Sob pena de ser designado na praça pública por perdedor, incapaz ou parvo. E ninguém quer ser parvo!
António Barreto, Público, 21/12/08

Comentário:

Os "vencedores"/predadores têm desde logo uma vantagem, que é a de não terem que se preocupar com códigos de conduta ética e moral face às suas vítimas: vale tudo para atingirem os seus fins. Mas como não sou dos que se contentam com a injustiça consolada na presunção da sua superioridade moral, costumo dizer que as boas causas precisam de combatentes tenazes, determinados, com uma estratégia inteligente e que não se deixem desfalecer perante as regras do "vale tudo".

sábado, 20 de dezembro de 2008

Regulamento Eleitoral do Conselho Geral: progressos que se saúdam!

Um grupo de professores, em comunicado dirigido à Academia, em 11 de Dezembro, fazia a “defesa de um processo eleitoral justo” alegando, sobre a proposta de Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, que era:

manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de candidatos suplentes seja igual ao número de candidatos efectivos (doze) e que É também manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de subscritores ou de proponentes de cada lista seja de quarenta ….

E acrescentavam:

A este propósito lembramos que na mais recente eleição para a Assembleia Estatutária da UM, as duas listas candidatas apresentaram-se a eleições sem quaisquer proponentes, o que torna mais incompreensível que se pretenda agora regulamentar um número de proponentes tão elevado.

Na sequência da reunião do Senado de 15 de Dezembro, a nova redacção do Regulamento Eleitoral, sobre estes aspectos, passa a ser:

as listas respeitantes aos professores e investigadores contêm a identificação de doze candidatos efectivos e de doze suplentes, subscritas por vinte e cinco membros, do respectivo corpo eleitora;

Os subscritores do comunicado dirigido à Academia alegavam ainda, sobre a proposta de Regulamento Eleitoral, o seguinte:

O artigo 17.º, n.º 3, do Projecto de Regulamento Eleitoral dispõe que “[h] havendo divergência entre o número de votantes e o número dos boletins de voto, prevalecerá, para efeitos de apuramento, o segundo”. Os signatários consideram estranho que se admita um cenário em que o número de votantes não seja igual ao número de boletins de voto entrados nas urnas.

Na redacção final do Regulamento Eleitoral esta cláusula deixa de existir.

Sublinho que, quer a redução de 40 subscritores para 25, quer a eliminação de uma cláusula que admitia a possibilidade de haver mais boletins de voto nas urnas do que votantes (coisa muito bizarra...), são progressos que se saúdam, do ponto de vista da desejável transparência do processo eleitoral e da promoção da participação democrática na eleição do Conselho Geral.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Não vai certamente a UM pregar como Frei Tomás!

Quando leio que no Projecto de Regulamento Eleitoral consta que [h] havendo divergência entre o número de votantes e o número dos boletins de voto, prevalecerá, para efeitos de apuramento, o segundo, a primeira ideia que me ocorre é que só pode tratar-se de um lapso. Porque se o número de votantes não for exactamente igual ao número de boletins de voto entrados nas urnas, o acto eleitoral tem que ser declarado nulo e as eleições terão que ser repetidas. Não faz sentido que se venha a considerar como válida, para efeito de apuramento de resultados, um possibilidade que é ilegal.

A Universidade do Minho tem uma Escola de Direito onde certamente se teoriza sobre o Estado de Direito e se preconiza o estrito respeito da legalidade. Não vai certamente a UM pregar como Frei Tomás.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

AS ELEIÇÕES PARA O CONSELHO GERAL DA UM: em defesa de um processo eleitoral justo!

No passado dia 5 de Dezembro foram publicados em Diário da República os novos Estatutos da UM, conforme a informação do Gabinete do Reitor, nesse mesmo dia, a toda a Academia. A partir daí desencadeiam-se os processos conducentes à eleição dos novos órgãos da UM, designadamente do Conselho Geral.

Este novo órgão colegial reveste-se de uma importância fundamental no futuro, sendo dotado das competências, entre outras, de eleger o Reitor, de apreciar a acção do Reitor, bem como do Conselho de Gestão e tomar iniciativas com vista ao bom funcionamento da Universidade. Impõe-se pois que as eleições para o Conselho Geral decorram de forma absolutamente transparente e em conformidade com os princípios da participação democrática e do pluralismo de opiniões e de orientações, nos termos do artigo 3.º dos Estatutos da Universidade do Minho.

Ora, o Projecto de Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, divulgado pela Reitoria da Universidade do Minho no passado dia 5/12/08, a ser apreciado em reunião do Senado, no dia 15/12/08, suscita-nos sérias reservas quanto à garantia dos princípios enunciados.

1. O artigo 7.º, n.º 1, do Projecto de Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral determina que as listas respeitantes aos professores e investigadores devem conter “a identificação de doze candidatos efectivos e de doze suplentes, subscritas [propostas] por um mínimo de 40 [50/60] membros do respectivo corpo eleitoral”. Significa isto que a viabilização de uma candidatura pressupõe a necessidade de 64 professores.

1.1. Afigura-se-nos manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de candidatos suplentes seja igual ao número de candidatos efectivos (doze). Atente-se no facto de que nas eleições para um órgão de soberania - a Assembleia da República -, prevê-se que o número de candidatos suplentes em cada círculo eleitoral não seja inferior a dois nem superior a cinco (cfr. artigo 15.º da Lei Eleitoral da Assembleia da República). Note-se ainda que nas eleições para os órgãos das autarquias locais, prevê-se que o número de candidatos suplentes seja igual a um terço do número de candidatos efectivos (cfr. artigo 23.º da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais).

Perante o exposto, os signatários entendem que não há nenhuma razão plausível que sustente a necessidade de 12 candidatos suplentes, sendo 12 os candidatos efectivos. É nossa convicção que o Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, para ser um regulamento eleitoral justo, deve determinar que o número de candidatos suplentes requeridos para a apresentação de uma lista seja de um terço ou – quando muito – de metade do número de candidatos efectivos.

1.2. É também manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de subscritores ou de proponentes de cada lista seja de quarenta – deixando-se em aberto a possibilidade de que seja de cinquenta ou de sessenta (!). A este propósito lembramos que na mais recente eleição para a Assembleia Estatutária da UM, as duas listas candidatas apresentaram-se a eleições sem quaisquer proponentes, o que torna mais incompreensível que se pretenda agora regulamentar um número de proponentes tão elevado.

Os signatários exprimem a sua convicção de que o Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, não deve fixar um número mínimo de proponentes ou de subscritores para cada lista, de forma a salvaguardar o princípio do pluralismo de opiniões e de orientações.


2. O artigo 17.º, n.º 3, do Projecto de Regulamento Eleitoral dispõe que “[h] havendo divergência entre o número de votantes e o número dos boletins de voto, prevalecerá, para efeitos de apuramento, o segundo”. Os signatários consideram estranho que se admita um cenário em que o número de votantes não seja igual ao número de boletins de voto entrados nas urnas.

Independentemente de quais sejam as suas opiniões ou orientações, todos concordarão que um Regulamento Eleitoral não pode conter uma regra de teor semelhante ao do art. 17.º, n.º 3. Os signatários propõem que a regra em causa seja, pura e simplesmente, suprimida.

3. As reservas dos signatários quanto à justiça do Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral são extensíveis aos Regulamentos Eleitorais para as Assembleias Estatutárias das Escolas, devendo sublinhar-se que, a aplicarem-se as regras propostas, haverá Escolas em que será de todo inviável a constituição de duas listas.


Braga e Guimarães, Universidade do Minho, 11 de Dezembro de 2008

Subscrevem os professores:

Fernando António Portela Sousa Castro
José António Cadima Ribeiro
José Manuel Pereira Vieira
Maria Eduarda Ferreira Coquet
Nuno Manuel Pinto Oliveira

sábado, 1 de novembro de 2008

A DECISÃO INTELIGENTE!

Há dias, a propósito do post Saúde/doença e chefias um colega sugeriu-me a consulta do site http://en.wikipedia.org/wiki/Groupthink. Assim fiz, e dou então conta do que considerei relevante nessa minha pesquisa.

Groupthink – um termo cunhado por William Whyte em 1952 – é uma forma de pensamento característica de pessoas pertencentes a grupos que minimizam a contradição em favor do consenso permanente, rejeitando a análise, a avaliação crítica e a livre expressão de ideias. A criatividade individual, a singularidade de cada um, e o pensamento independente anulam-se em favor da coesão do grupo. Nos seus encontros os membros do grupo evitam expressar pontos de vista que saiam fora da zona confortável do pensamento consensual.

Tais grupos acabam por tomar péssimas decisões, pois não há lugar para a dúvida, o questionamento e a reflexão em torno de diversas alternativas. A diversidade de alternativas vai-se esvaindo da "mente colectiva" para dar lugar a um só caminho possível. O silêncio é tomado como sinónimo de unanimidade.

Ora, a destruição do campo de possiblidades é equivalente à destruição das soluções mais inteligentes. Acredito nisto profundamente... na vida pessoal e profissional, no ensino, na formação, na aprendizagem, etc.

Em 1961, John F. Kennedy, Presidente dos Estados Unidos, tirou sérias lições do imenso perigo que pode resultar de más decisões políticas, quando se confrontou-se com o desastre da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba. Um ano depois, face à Crise dos Mísseis, de novo em Cuba (1962), usou de todos os meios para garantir que tomaria a melhor de todas as decisões possíveis – estava-se na eminência de uma guerra nuclear.

Havia então que evitar qualquer risco de groupthink no processo de decisão. Convidou então especialistas externos para, nas reuniões do grupo de decisão política, expressarem os seus pontos de vista e permitiu que os membros do grupo os questionassem cuidadosamente. Encorajou os membros do grupo a discutir possíveis soluções com pessoas de confiança, em diferentes departamentos de estado, e chegou a dividir o grupo em vários sub-grupos a fim de quebrar parcialmente a coesão do grupo.

John Kennedy ausentava-se deliberadamente das reuniões para evitar que as pessoas se deixassem condicionar pelo peso da sua opinião. Por fim, a Crise dos Mísseis foi resolvida de forma pacífica, em boa medida graças à visão inteligente que estes métodos permitiram criar.

Em conclusão, qualquer grupo, empresa ou organização muito têm a perder quando se deixam tomar por uma cultura groupthink, o pensamento único.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Saúde/doença no trabalho e chefias!

Uma notícia do DN (12/10/09) dá conta de um estudo realizado na Finlândia, publicado na revista Journal of Occupational and Environment Medicine, que muito tem a ver com alguns dos temas que têm sido objecto da minha atenção neste blog.

O Instituto Finlandês de Saúde no Trabalho daquele país fez uma revisão sistemática de 27 estudos, realizados entre 1970 e 2005, que investigavam a relação entre a natureza das chefias e o nível de bem-estar dos trabalhadores. Uma das conclusões é que há realmente chefes tóxicos.

Os trabalhadores que apreciam as suas chefias, têm uma probabilidade de ficarem doentes, abaixo dos restantes, em 27%. Mas se falarmos de baixa médica, então os trabalhadores que gostam dos seus chefes têm uma probabilidade de ficarem em casa, incapacitados de trabalhar, inferior à dos restantes em 46 %. Impressionante, é quase metade.

Muitas pessoas sabem da sua experiência que o mau ambiente de trabalho pode tornar-se demolidor para a sua saúde. Para evitar isso são necessários bons líders, no topo e nos níveis intermédios. É por isso que o estudo finlandês considera muito “importante que o desempenho dos superiores seja avaliado e que se promovam aqueles que tenham uma conduta exemplar”.

"Mutatis mutantis" assim seja nas universidades.

Aqui está um excelente tema de investigação para a especialidade de Educação para a Saúde.

sábado, 11 de outubro de 2008

RENOVAR A CULTURA INSTITUCIONAL, ENGRANDECER A UNIVERSIDADE!

A futura eleição do Conselho Geral da UM será uma oportunidade de reflexão e debate que poderá ser melhor ou pior aproveitada. Tendo em vista esse processo avanço com um primeiro contributo:

1. O engrandecimento da Universidade do Minho é indissociável de uma transformação da sua cultura institucional.

A natureza do exercício do poder académico, nos diversos níveis hierárquicos da instituição, é uma dimensão fundamental dessa cultura. Entenda-se antes de mais que, numa sociedade democrática, alicerçada no Estado de Direito, a todas as formas de poder está cometida a nobre função de promoção do bem comum.

2. Os exemplos em que tais poderes perseguem interesses pessoais e de grupo, tendem a promover um clima de opressão, de violação dos legítimos direitos das pessoas e de privação da liberdade de expressão. Nesse contexto institucional a criatividade definha, a inovação e a capacidade empreendedora das pessoas dão lugar à passividade, instalam-se a desconfiança e as estratégias individuais de sobrevivência, as relações interpessoais degradam-se e deixa de haver espaço para saudáveis dinâmicas de trabalho em equipa.

O resultado final são o sentimento de mal-estar das pessoas e a baixa de produtividade académica.

3. O exercício do poder académico não pode estabelecer linhas de balcanização que colocam de um lado os que lhe são “próximos” e de outro os que assumem a liberdade de uma postura independente. Isso é frequente entre nós, e não raras vezes se tomam os primeiros como paladinos do bem da instituição e os últimos como os inimigos da instituição.

Esta forma de maniqueísmo perversa precisa de ser erradicada da Universidade do Minho.

4. O poder académico não pode deixar de ser exercido com um sentido de grande dignidade institucional, pondo de parte todas formas de discriminação e todas as formas de arregimentação com recurso a procedimentos obscuros.

Balizar-se-á pelos princípios da estrita legalidade, da equidade, da justiça, do respeito que a todos é devido e pela garantia absoluta dos direitos legalmente protegidos, a todos, sem excepção.

5. Não pode haver dúvidas quanto à garantia da legalidade dentro da UM. Se assim não for alastra a todo o tecido institucional a ideia de ausência de um poder arbitral, isento e independente, que actue em conformidade. Instalam-se por diversos recantos da instituição poderes discricionários que impunemente actuam à margem da lei.

O estrito respeito da legalidade significará uma grande transformação.

6. Torna-se então necessário trabalhar no sentido de dotar a Universidade do Minho de um conjunto de valores de integridade académica, de mecanismos de auto-regulação eficazes e de instâncias de recurso, com garantia de isenção e imparcialidade, que sejam efectivamente capazes de agir.

7. O Conselho Geral prevê no âmbito das suas competências “propor as iniciativas que considere necessárias ao bom funcionamento da Universidade (artº 29, alínea f).

Aí está uma via possível para promover transformações necessárias.

sábado, 16 de agosto de 2008

CADA VEZ MAIS PODER, CADA VEZ MAIS MEDO!

Com a devida autorização, publico mais uma das mensagens que recebi via email. Faço-o sem a identificação do autor porque, no actual clima institucional e considerando a situação particular de cada um, entendo ser legítimo dar voz aos sentimentos das pessoas que se queiram manifestar, mesmo sob anonimato.

Caro Colega Joaquim Sá

Acabo de ler os seus esclarecimentos no blogue e tenho a sensação de que a universidade ficou 'louca', um psicopata, tal como descrito, não é caso raro e chega mesmo a cargos de direcção, onde tudo se torna possível - e, cuidado, pois há o que ri muito, mas é tudo fachada, o interior é desértico, e como nunca actua sozinho, há, com certeza, também os que não riem e não falam quando é devido, gente estrategicamente muito opaca.

Regulamentos, leis e outros documentos tornam-se o campo de 'leituras desejantes', onde lêem o que lá nunca esteve nem estará. Uma iliteracia indigna de um aluno de liceu, mas tudo devidamente justificado ... "juridicamente".

Infelizmente, a cultura política que temos por aqui é esta: é dizer amém por um lado e, por outro, é preciso massacrar para promoverem o medo da plateia, com a sua consequência natural, que é a bajulação e o silêncio ante o desmando em cadeia. Cada vez mais poder, cada vez mais medo.

Não se deixe massacrar pela impiedade e pela iliteracia na aplicação de critérios de julgamento, a universidade não é tudo para ser humano, há valores muito mais importantes e compensadores.
'Seguro vai para a fonte...'

Um abraço fraterno,

Um outro comentário já publicado que aqui destaco:

Caro Colega,

sou professor na UM e compreendo muito bem por experiência própria o tipo de processos que relatou e as ilegalidades que na UM se alimenta através .... Ainda que de forma anónima, escrevo-lhe tão somente para lhe manifestar a minha solidariedade e dizer-lhe que faz todo o sentido continuarmos a manifestarmo-nos.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

ACTUAR NOS PALCOS INSTITUCIONAIS!

Com a devida autorização publico a mensagem que me foi enviada pelo colega Joaquim E. Neves.

De: Joaquim E Neves [mailto:Joaquim.Neves@dei.uminho.pt]
Enviada: ter 29-07-2008 18:07
Para: Joaquim Gomes Sá
Assunto: Re: As vicissitude de um provimento definitivo

Colega Joaquim Sá

Permita-me que lhe manifeste, muito mais do que solidariedade pessoal perante o seu provimento de nomeação definitiva, um estranho sentimento estimulante de intervenção cívica, para a qual este tipo de situações nos desafiam e responsabilizam.

Reconheço o seu nome associado ao remetente de mensagens que circulam nestas listas de distribuição, bem como a sua pessoa, pela participação nas tertúlias recentemente realizadas por um grupo de reflexão da Universidade do Minho. Identifico, igualmente, a situação narrada como paradigmática da forma indigna, mas que se vem tornando habitual, de tramitação de certos processos burocráticos na Universidade do Minho, onde o interesse público é subordinado pela lei discricionária do mais forte, muitas vezes ditada à medida de interesses particulares de intervenientes concretos.

Contudo, dado que a denúncia isolada destas decisões, marginais a um referencial de valores partilhados, coloca os seus relatores na situação do passarinho duma conhecida anedota ( http://members.tripod.com/~Bicicchi/passarinho.htm ), importa estabelecer uma estratégia de intervenção mais eficiente, reunindo, mais do que um coro de vozes, os instrumentos e os intervenientes necessários para actuar, concertadamente, nos palcos institucionais.

Estando convencido que uma intervenção sistemática, pautada pela afirmação de valores próprios, mereceria o aplauso da academia, gostaria de ver o seu nome, juntamente com o meu, num eventual Casting, para seleccionar os protagonistas da mudança que, nesta Universidade, é incontornável.
Cumprimentos

Joaquim E Neves

terça-feira, 29 de julho de 2008

A PSICOPATIA CORPORATIVA

Segundo o professor Carlos Goldenberg da Universidade de S. Paulo, Brasil, cientistas e instituições de investigação devem estar sob observação e controlo do ponto de vista de princípios éticos. Em vista dessa preocupação, criou em 2003 o curso Enginethics, cuja finalidade é promover a ética na engenharia. O seu interesse pelo tema decorre do facto de ter tido conhecimento de um estudo segundo o qual 70% das empresas de alta tecnologia criadas nos Estados Unidos, fechavam as suas portas ao fim de pouco tempo de existência. Estudou o fenómeno e concluiu que um dos factores importantes do insucesso residia no facto de os seus dirigentes não tratarem adequadamente todos os aspectos relacionais dos seus negócios com a sociedade, especialmente não se conduzirem em conformidade com valores éticos claros. Surgiu, então, a ideia de inserir a ética na formação de “profissionais integrais”

http://www.ripa.com.br/index.php?id=814&tx_ttnews%5BbackPid%5D=471&tx_ttnews%5Btt_news%5D=720&cHash=3fd7c28b3d)

Questionado sobre como pode a falta de valores levar uma empresa à falência, responde que a arrogância aliada à ignorância é o caminho para a auto-destruição de uma organização. Dá como exemplo o caso de alguém que tendo adquirido prestígio e poder, começa a dar palpites e a interferir de forma perigosa em domínios que não são da sua especialidade, o que pode dar origem ao que designa de “suicídio corporativo”.

No curso é dada grande relevância ao estudo da personalidade do psicopata corporativo, no sentido de os futuros “profissionais integrais” serem capazes de identificar os traços dessa personalidade em indivíduos aparentemente empáticos, carismáticos e envolventes. Desse modo ficam aptos a prever e prevenir o “desastre corporativo”. O conceito de psicopata corporativo emerge da reflexão sobre comportamentos altamente competitivos das pessoas, em ambiente de trabalho, que conduzem a atitudes imorais e desprovidos de ética, numa conquista obcessiva de poder e ascensão hierárquica dentro das organizações.

Robert Hare, professor da University of Britsh Columbia, Canadá, e seus colaboradores, publicaram na revista New Scientist resultados de um estudo segundo o qual as características de certos trabalhadores psicopatas são favoráveis a que tenham sucesso na carreira. É no caos organizacional que pessoas com tal perfil alcançam rapidamente o topo.

Michael Shemer, num artigo da revista on-line Scientific American (http://www.sciam.com/) intitulado Do All Companies Have to be Evil?, escreve:

“Evil often happens in hidden places, removed from social accountability, such as in the deep recesses of Abu Ghraib. The first line of defense against evil, then, is transparency, open communication and the constant surveillance of every aspect of a system.”

sábado, 26 de julho de 2008

PROVIMENTO DEFINITIVO: UM PROCESSO "EXEMPLAR" AO LONGO DE 13 MESES

Na sequência da mensagem anterior, enviada à Academia, recebi várias mensagens solidárias e algumas perguntavam-me os factos e as pessoas. Mereceu-me particular atenção uma das mensagens. Transcrevo essa mensagem e a minha resposta.

Enviada: sex 25-07-2008
Para: Joaquim Gomes Sá
Assunto: RE: A toda a acdemia

Caro colega:

(…) fui levada a pensar, (...) que, possivelmente (aliás considero ser a única justificação) as pessoas que têm comportamentos do género dos que identifica em colegas desta universidade, não saberão agir de outro modo. Isto é, o quadro de referências/valores (?) delas foi-se construindo, destruindo-se, com base em facilitismos e mediocridades de tal modo intensas e marcantes que perderam a capacidade de juízo crítico e autoavaliação. Isto é tanto assim que chegam a pensar que os outros, aqueles que ainda vivem pensando no bem comum, no mérito individual e respeito pelas ideias dos outros, mesmo que diferentes das suas, e agem com base nos princípios mínimos de boa relação humana, "devem estar loucos"!

Será que esta justificação é suficiente para ficarmos quietos e deixarmos andar as coisas como estão? Penso que não.

Não sei o que vai conseguir mudar com esta sua longa exposição, valeu a sua atitude pela coragem em denunciar!

Um abraço solidário

A minha resposta

Cara colega,
Muito obrigado pela sua solidariedade. Tenho reflectido muito sobre a natureza das pessoas que agem deste modo. Como não haveria de pensar?

Veja.
O meu processo de provimento definitivo demorou 13 meses penosos (um caso similar pela mesma altura foi encerrado de forma célere), numa ameaça constante de um desfecho negativo, por motivo da acção persecutória de um casal de Professores Catedráticos: um fez (e faz) toda a sua carreira de científica no Centro de Engenharia Biológica da UM e o outro é proveniente do Instituto de Engenharia Biomédica (Porto). Ambos se tornaram Professores Catedráticos no grupo disciplinar de Matemática Elementar e Estudos do Meio Físico para a Criança da UM. Em regime de alternância têm dividido entre si a direcção do departamento ao longo de muitos anos

Sobre o meu provimento, havia um parecer externo positivo, mas o casal queria impor o seu parecer negativo. Esse parecer foi escrito debaixo de contestação, por via de incidente de suspeição, cujos fundamentos foram ignorados.

O parecer negativo afirma que o "Professor Joaquim Sá não refere como preparou, implementou e avaliou o desenvolvimento das disciplinas. Para nenhuma das disciplinas se referiu ao seu enquadramento curricular, aos objectivos a atingir, à selecção e organização dos conteúdos programáticos, aos processos de ensino-aprendizagem, aos métodos de avaliação dos alunos nem à lista biográfica relativa às principais obras a serem consultadas pelos alunos”.

Ou seja, invoca-se para um processo de provimento definitivo (Artº 44º do ECDU, nº 2) o que se aplica ao concurso para Professor Associado (Artº 20º do ECDU): o relatório da disciplina. Pior, eu teria de preparar não um relatório de disciplina, mas tantos relatórios quantos as disciplinas leccionadas. Como não fiz os relatórios das disciplinas, concluiu a relatora que “…Dada esta gravosa lacuna no seu relatório quinquenal (…) sou de parecer inequívoco que o Professor Joaquim Sá mostra não possuir competência, aptidão pedagógica e actualização…”.

Ora, sobre matéria pedagógico-didáctica e formação de professores, posso referir, pelo menos, que sou autor e principal co-autor de 4 livros, um dos quais em 2ª edição, sendo esse trabalho muito alicerçado na investigação realizada em sala de aula, com professores e alunos do 1º ciclo e do Jardim-de-Infância. Esses livros são amplamente utilizados em instituições de formação de professores. E, sem falsa modéstia, esse trabalho abre caminho a uma área académica nova no País, que é a do ensino e aprendizagem das ciências experimentais por crianças, o que está assinalado por quem prefaciou o 1º livro, em 1994. E foi um trabalho desenvolvido sempre na maior adversidade. O juízo daquele parecer é pois insultuoso e só por maldade pura pode ser justificado.

Entretanto em, em relatórios posteriores, a relatora contraria o critério que aplicou ao meu caso, seguindo o que é a interpretação geral da lei sobre o processo de provimento definitivo.

Perante sucessivas ilegalidades (sem atendimento aos meus apelos dentro da UM), apresentei uma queixa ao MCTES e a Inspecçao-Geral da Ciência, Inovação e Ensino Superior fez as suas averiguações. O relatório da Inspecção, homologado pelo Ministro da Ciência e Ensino Superior, recomenda que aqueles dois docentes não participem na deliberação sobre o meu provimento. Todavia essa recomendação não foi acolhida.

Com o arrastamento do processo cheguei a receber uma carta dos Serviços de Documentação que me informavam ter eu deixado de ser utilizador das bibliotecas - o que não podia ser pois eu era Associado. Um zelo extraordinário... e humilhante também. Ainda estou à espera de um pedido de desculpas.

Quando iam decorridos quatro meses após a entrega do relatório quinquenal, não havia decisão e o quinquénio do meu contrato já tinha expirado. Pedi informação sobre o processo por carta, comunicando que estava em casa sem visão, depois de um transplante de córnea, razão por que não podia solicitar a informação pessoalmente. Recebi como resposta um “pedido de audiência escrita”, por carta registada, assinada pela "Professora Catedrática Decano", como gosta de se auto-intitular. Às questões sobre o relatório quinquenal eu deveria responder no prazo de 15 dias.

Obviamente, para mim, considerando as pessoas e as circunstâncias, não era por mero acaso que tal carta coincidia com a difícil condição de visão; já tinham passado 4 meses e o parecer negativo já estava escrito e não foi modificado. Por outro lado, quem enviava o dito inquérito fazia-o à revelia do Conselho Científico de Catedráticos e Associados com provimento definitivo, que havia desencadeado o processo. Portanto, fê-lo à margem da legalidade.

Tornou-se para mim claro que se iria recorrer a um expediente qualquer para me negarem liminarmente o provimento definitivo, caso não respondesse às questões naquele prazo - era esse o objectivo. Respondi pois ditando para a minha esposa o que deveria escrever.

O problema de visão era muito complexo (era conhecido dos colegas), não sabia sequer que evolução poderia ter - estava por isso bastante abatido emocionalmente. Ser atacado, em tais circunstâncias, com aquela brutalidade, foi para mim e toda a família um verdadeiro horror. Eu não tinha ainda percebido que poderiam ir tão longe, de tal modo que só depois disto eu interpus um incidente de suspeição, que desde o início se justificava, mas que veio a ser ignorado.

Senti-me com um naúfrago a quem lhe retiram a única tábua de salvação e com ela lhe dão uma pancada na cabeça para que se afunde de vez.

Naturalmente, interrogo-me se isto é comportamento de pessoas normais. O que vivencio e observo na Universidade não pode deixar de me fazer pensar em psicopatas. Vasculhei um pouco os traços característicos dos psicopatas e lá estão:

- a completa ausência de empatia com a vítima;
- indiferença pelo sofrimento humano que provocam;
- ausência de sentimento de culpa;
- emocionalmente insensíveis;
- relações meramente instrumentais para obtenção de vantagens;
- simulados e astutos na ocultação do seu lado maligno.

Vejo com nitidez estes traços de carácter à minha volta.

E o que dizer de quem me enviou um conjunto de questões para responder por escrito, com prazo bem determinado, quando eu não estaria em condições físicas e psíquicas para o fazer? E que continua persistindo numa atitude de provocação e na obstinação de me sabotar projectos, etc?

Nenhum rebate de consciência faz esta gente reavaliar os seus actos ignóbeis e corrigir a sua conduta. A crueldade dos actos praticados é um juízo que não são capazes de fazer. Como bem diz, fizeram-se sem um quadro de referências e valores que lhes dê um sentido de moralidade e avaliação crítica da sua conduta. Fizeram-se no quero, posso e mando absoluto.

Nenhuma restrição se lhes impõe: nem o poder académico nem a sua consciência moral. O único critério quanto aos meios de que lançam mão são os seus desígnios pessoais - todos os meios são legítimos desde que sirvam esse propósito.

O que é particularmente grave é que em redor muita gente interioriza tais procedimentos como a normalidade institucional e aceita viver resignado com isso. Mais uma vez concordo consigo: os que mantêm a sua lúcida individualidade e pensamento próprio só "podem estar loucos".

Mas eu insisto que não podemos aceitar viver à mercê desta insanidade mental.

Há um grande défice de ética académica. A promoção de uma cultura de ética académica é uma necessidade básica de uma Universidade que não se cansa de dizer que é humanista.

Joaquim Sá

PS: É muito grande o manancial de provas de que disponho para tudo o que afirmo.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

"FORTES" E COBARDES!

Por um destes dias ficou mais uma vez bem patente o fenómeno que adiante descrevo.

Na UM há um certo tipo de "colegas", que são particularmente metódicos e calculistas no firme propósito de causar danos a quem não se submete aos seus desígnios pessoais. Sentem-se e actuam como se literalmente estivessem acima da lei e fazem com que todos em redor acreditem que ninguém lhes “pega”, por mais brutais que sejam os seus actos. Mas essa gente, quando se confronta com uma reacção e denúncia enérgicas, fica cobardemente assustada. Tornam-se então cordeiros mansos, sorrateiros, são até capazes de chorar (literalmente) tentando comover quem possa ficar do seu lado na eventualidade de a justa punição ser aplicada por via disciplinar. Se isso acontecesse seria o descalabro da farsa e da mentira em que vivem.

Mas entretanto, nada acontece, a borrasca passa, o tempo de aperto foi-se e uma vez atrás de outra vão ficando ilesos e incólumes. De cada vez que percebem ter “escapado”, logo voltam ao mesmo padrão de conduta, "fortes" na provocação e escárnio sobre as pessoas que atacam. Vão-se "safando" sempre e desse modo acumulam um "currículo" de patifarias que é de um modo geral conhecido, mas que se faz de conta que não existe, e tudo se passa como se estivessem investidos de uma plena autoridade académica.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

OS TRIBUNAIS COMO ARMA DE INTIMIDAÇÃO

Num Estado de Direito Democrático servem os Tribunais para aplicar a Justiça. Porém, em Portugal, o cidadão comum está longe de ter essa percepção – é um lugar comum dizê-lo. A justiça, quando chega, vem sempre fora de tempo, indiferente à ruina irreversível da vida de muitas pessoas, que não suportaram os danos da injustiça inicial mais os danos do tempo de espera por uma justiça que já não o chega a ser.

Os pobres não conseguem que um bom advogado se interesse por uma questão que queiram levar a Tribunal. Podem até ser recebidos, mas os seus processos ficam lá no fundo das prioridades, acabando no esquecimento e na perda de paciência de quem espera. Já para os ricos e poderosos qualquer questão se torna prioritária para advogados de grande nomeada. Os ilimitados honorários são forte argumento para um empenhado esforço nas manobras dilatórias, nas jogadas processuais e nos truques de retórica que conseguem convencer o juiz da inocência do cliente bem pagante.

Mas há um lado da justiça dos "fortes" que é particularmente perverso: o recurso aos tribunais para a intimidação dos cidadãos. Certos poderes recorrem com facilidade à queixa contra cidadãos cujo “crime” mais não é do que terem uma conduta cívica que condiciona e incomoda a pretensão de livre arbítrio de tais poderes. Tomam-se por vítimas para atacar quem não se submete à sua vontade. Sei da minha própria experiência o que isso é, e não pude deixar de me recordar do sucedido em 1997 quando li no blog http://universidadealternativa.blogspot.com/ o seguinte:

“FORAM FAZER QUEIXA AO JUIZ! [...] A DENÚNCIA, INTENTADA À MINHA PESSOA [...] TEM UMA VEZ MAIS UM CARIZ INTIMIDATÓRIO. DIZ RESPEITO, SEGUNDO ELES, AO ENVIO DE NOTÍCIAS e COMENTÁRIOS sob a forma de e-mails PARA O BLOG DO PROFESSOR CADIMA RIBEIRO.” (Identifica-se como autor do texto Nuno Soares da Silva).

Em 1997, na qualidade de dirigente da Associação Cívica Arco-Íris, depois de bem informado, denunciei publicamente um plano para extinguir a Escola de S. João do Souto (1º ciclo). O plano estava já em marcha e ao ser extinta a escola, no mesmo local seria construída uma unidade hoteleira, bem no centro da cidade. Mas a Direcção da Escola, os professores, a Associação de Pais, as famílias residentes e o Presidente da Junta de Freguesia pretendiam conservar a escola naquele local.

A escola apresentava-se muito degradada, como pude constatar, e a directora reclamava obras urgentes por parte da Câmara Municipal, tornando público o seu protesto pela situação existente. A autarquia mantinha-se intransigente, alegando os responsáveis que o edifício não tinha condições “fisicotecnodidácticas” para funcionar como escola. Na sequência da minha denúncia o Sr. Presidente da Câmara de Braga moveu contra mim uma queixa-crime. As averiguações feitas no processo de inquérito apuraram de forma bem eloquente os factos que sustentavam as minhas alegações; concluiu o Juiz que eu tinha agido de boa-fé na defesa legítima de um interesse público. O negócio abortou e pouco tempo depois fizeram-se avultados investimentos de recuperação do edifício, gozando hoje a escola de boa saúde, livre de qualquer ameaça.

Com isto incomodaram-me sem razão, andei em stress e aborrecido com essa situação, fui duas vezes ao Tribunal, tive que arranjar um advogado etc. E no final provou-se que eu não tinha feito nada de condenável, pelo contrário, tinha agido na “defesa legítima de um interesse público”. A queixa-crime contra mim foi notícia nos jornais, mas não foi notícia o despacho do seu arquivamento. E no final não disponho de qualquer meio para exigir ser ressarcido dos danos que tudo isto me causou. Era justo poder fazê-lo, mas não posso.

É nisto que consiste a utilização dos tribunais como arma de intimidação e de dissuasão de uma conduta de cidadania – uma perversão do sistema democrático. Pessoas ou poderes a quem uma determinada conduta cívica incomoda, sabem que podem impunemente e de forma gratuita causar sérios danos na vida de uma pessoa de bem. Um cidadão que viva de forma digna, no estrito respeito da lei e em boa harmonia com a sociedade pode assim dar de caras com um agente da polícia à porta, intimando-o para comparecer em Tribunal.

É esse carácter intimidatório que aparenta a queixa apresentada contra Nuno Silva Soares. E a ser verdade que se invoca o envio de notícias e comentários em forma de email, e não algo que tenha sido publicado, fica para responder uma importante questão: será que a obtenção da matéria recolhida para a queixa lançou mão da violação das caixas de correio electrónico? A ver vamos... São grandes as suspeitas e rumores na UM sob essa matéria.

Não se deixem intimidar os que se movem com elevado sentido cívico e ético na defesa do bem comum. O mundo seria bem pior sem a sua determinação e coragem.

Não nos esqueçamos porém que a raposa dá as papas a comer à cegonha num prato raso. Por mais que se esforce, a cegonha jamais conseguirá sequer provar as papas.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Matemática 9º ano: 2007 - 72,8% negativas; 2008 - 44,9% negativas. Quem não se alegra com mais sucesso?

Notícia do Públio-on line:10.07.2008 - 21h59 Isabel Leiria

Negativas na prova de Matemática do nono ano caem quase 40 por cento num ano.

Depois do sucesso no exame nacional de Matemática do 12.º ano, com a média nacional dos alunos internos a disparar para os 14 valores (em 20), agora foram os alunos do 9.º que revelaram uma melhoria muito significativa em relação à prova de 2007. A percentagem de negativas caiu de 72,8 por cento para 44,9 por cento, o que significa que há menos 38,3 por cento de notas negativas face à prova de 2007.

Em comunicado, o Ministério da Educação (ME) sugere algumas explicações para esta evolução. A saber: o “esforço dos professores e alunos” e os “instrumentos de apoio”. “Os alunos que agora fizeram exames trabalharam pelo segundo ano consecutivo no contexto do Plano de Acção para a Matemática”, lembra o ME.

Este programa, estreado em 2006 nas escolas básicas com 2.º e 3.º ciclo, não deu quaisquer frutos em termos de resultados nos exames nacionais no ano passado. Em 2007 aconteceu mesmo o pior resultado de sempre, com quase três em cada quatro alunos a chumbar na prova.

Mas para os professores da disciplina existem outras razões que podem explicar o sucesso deste ano, que se traduz numa duplicação das positivas. Tanto a Associação de Professores de Matemática (APM) como a Sociedade de Professores de Matemática (SPM) consideraram, no dia em que foi conhecida a prova, que o exame tinha sido o mais fácil de sempre (foram estreados em 2005).

“Em todos os casos os conceitos avaliados são simples e testados com exemplos demasiado elementares”, apontou a SPM em comunicado, acrescentando que havia questões que podiam ser resolvidas por alunos do 2.º ciclo e até do 1.º (até ao 4.º ano) e que de fora tinham ficado tópicos “importantes do 9.º”, como equações e polígonos. A APM fez um comentário semelhante e escreveu que, sendo muito provável que os resultados venham a ser melhores face aos dos anos anteriores, tal não significará necessariamente que “existiu uma melhoria nas aprendizagens dos alunos”.

Esta alegada maior facilidade poderá ajudar a explicar o facto de a percentagem de notas de nível 5 (a mais alta) ter subido de 1,4 por cento para 8,3 por cento. As classificações equivalentes a Bom (nível 4) dispararam de oito por cento para 21,4. A que se juntam 25,5 por cento de Satisfaz. Tudo somado, houve mais alunos a ter positiva do que negativa a Matemática. A classificação mais baixa de todas (nível 1), por exemplo, foi atribuída a apenas 3,3 por cento. Em 2007, foram 25 por cento a ter esta nota.

O director do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), organismo responsável pela elaboração das provas, sempre rejeitou estas críticas e alegou que o exame tinha sido “muito claro”, o que fez com que “a leitura fosse mais simples, mesmo quando as questões eram mais complexas”. Além disso, a prova contou com mais meia hora de duração em relação aos anos anteriores.

Comentário:


Esta política do "sucesso" é um insulto à inteligência das pessoas, uma falta de decoro total. Chegados aqui haverá alguma coisa que possa ser levada a sério na actuação do Ministério da Educação? O que não é para levar a sério não merece a consideração de um crítica séria. Como cidadão, sinto revolta, indignação e impotência ...


segunda-feira, 7 de julho de 2008

A reeleição da lista dos funcionários não docentes – OBRIGADO PELO VOSSO EXEMPLO!


No passado dia 26/06/08 a Comissão Eleitoral divulgou a eleição dos representantes dos funcionários não docentes para o Senado e a Assembleia da Universidade, a saber: a) para o Senado - Albano José Dias Serrano, Amaro António M. Rodrigues, António Ovídio M. Domingues, Maria Fernanda Teixeira Ferreira; b) para a Assembleia - António José Teixeira Sousa, José Emílio Palmeira, Maria Emília Sampaio C. Rodrigues, Maria Fernanda Teixeira Ferreira, Maria José Lage Alves, Mauro Miguel Moutinho P. Fernandes. Nada de especialmente relevante haveria nesta informação se estivéssemos simplesmente na presença de uma eleição, a que concorreram duas listas, tendo uma sido derrotada (Unir a Academia) e outra saído vencedora. Mas foi muito mais do que isso o que aconteceu.

Num primeiro momento da eleição dos representantes dos funcionários não docentes a única lista candidata foi rejeitada por uma maioria de votos brancos. Esse facto não foi notícia, e eu soube disso já algum tempo depois. Confesso que não conhecia até então algo semelhante. De um modo geral, em qualquer eleição a que se apresenta uma única candidatura, esta acaba por ser eleita, sendo frequente lamentar-se a reduzida participação eleitoral, bem como e a fragilidade do mandato dos eleitos, em tais circunstâncias. Situações que revelam um elevado grau de alheamento em relação ao processo eleitoral. Não foi esse o caso daquela eleição. Fiquei pois perplexo com a força de afirmação da vontade e do sentir dos funcionários, expressa naqueles votos brancos.

Procurei entender melhor o fenómeno. Que tipo de lista suscitava tanta rejeição? Porque não se teria constituído uma lista alternativa, capaz transformar o protesto dos votos brancos em votos de apoio a essa alternativa?

Obtive duas respostas simples:

a) a lista era promovida e constituída por certas chefias que nos últimos anos foram nomeadas pelo Sr. Reitor;

b) o clima existente entre os funcionários, resultante de certas formas de exercício do poder, inviabilizou a possibilidade de se constituir uma lista alternativa

Não tendo sido eleitos os representantes dos funcionários, organizou-se novo acto eleitoral. A força dos votos brancos tornou inevitável a constituição de uma lista alternativa que, sem surpresa, ganhou as eleições em 28/03/07. Mas o que estava em jogo parecia demasiado importante para quem as tinha perdido: a lista e os poderes que a apoiavam. Foram pois as eleições impugnadas judicialmente por causa dos cadernos eleitorais - que na eleição anterior não tinham qualquer problema -, envolvendo processos muito pouco edificantes. O juiz anulou as eleições e deu um prazo de três meses para repetir o acto eleitoral. Mas havia muita pressa e, no dia seguinte à decisão do Tribunal, o Sr. Reitor decidia o afastamento dos funcionários eleitos dos órgãos a que pertenciam.

A repetição das eleições ocorreu no dia 25 de Junho, tendo sido reeleita a mesma lista de funcionários, face a uma outra lista que pretendia Unir a Academia. No dia 26, os funcionários eleitos divulgam um comunicado de que transcrevo um excerto:

Registamos, com apreço, o facto dos funcionários terem confirmado, de forma inequívoca, o sentido de voto manifestado na eleição de 28 de Março de 2007, conduzindo, deste modo, à nossa (re)eleição.

Ficou, assim, não só claramente legitimada (para quem a questionava) a nossa participação nos órgãos colegiais de governo da Universidade, como se confirmou que os resultados antes verificados não foram fruto do erro e do acaso, mas sim de uma vontade esclarecida e responsável do corpo de funcionários da Universidade.

Entendemos ainda esta votação como a expressão da confiança e apreço em nós depositados, pelo trabalho desempenhado não só nos órgãos de governo, como no nosso quotidiano, com seriedade e independência, norteados apenas pela defesa dos interesses dos funcionários e da Universidade do Minho.

Ao longo dos últimos meses, regemo-nos sempre por um sentido institucional, em que procuramos preservar, acima de tudo e em diferentes instâncias, a imagem e a credibilidade da Universidade, sentido este que, a nosso ver, com pesar, não foi por todos compartilhado.

São palavras de uma grande dignidade, serenidade e sentido de serviço institucional, no momento em que finalmente fazem vencimento os seus valores e princípios, bem como a sua capacidade de interpretarem o sentimento profundo e a vontade do corpo de funcionários não docentes.

O que é de uma grande indignidade em tudo isto são as tentativas do poder em sonegar ao corpo de funcionários não docentes o legítimo direito de terem nos órgãos de governo da UM aqueles que os representam. É profundamente deplorável que se tenha pretendido calar a voz dos funcionários, afastando os seus representantes. Só a coragem, a determinação e a clarividência dos funcionários eleitos impediu que tal desiderato se tenha consumado. E com isso ganhou toda a Academia. Ganhámos todos, funcionários docentes e não docentes.

MUITO OBRIGADO PELO VOSSO EXEMPLO!

sábado, 5 de julho de 2008

Os nossos jovens já são bons a Matemática mas muito maus a Português!

Evolução das médias a Matemática A do 12º ano:

2004: 8,8
2005: 8,1
2006: 8,1
2007: 10,6
2008: 14

As notas dos exames nacionais de Matemática A foram as mais altas de todas as disciplinas, atingindo uma média de 14 valores. A percentagem de chumbos desceu de 18 para sete por cento. Por oposição, os resultados de Português foram os piores dos últimos 12 anos.

Notícia do Público: 5/7/08

Comentário
:

A receita para o sucesso escolar está encontrada. Basta agora aplicar às outras disciplinas a mesma filosofia de avaliação que conduziu ao sucesso na Matemática. Teremos assim em 2-3 anos o milagre-maravilha de termos passado de um sistema de ensino atrasado para um sistema de ensino de superior qualidade. Quando os estudos comparativos internacionais disserem o contrário, logo se verá como descalçar a bota. Para já, enquanto o pau vai e vem folgam as costas. No imediato, para efeitos de política interna, o que interessa é a aparência de que o ME está a superar o tradicional insucesso em Matemática. Mas o ME criou para si e para os cidadãos um grande dilema: qual é afinal o critério aferidor da qualidade das suas políticas? As boas notas na Matemática ou o estrondoso fracasso no Português?

Agora a sério:

As pessoas que pensam estes problemas e que sinceramente, de boa-fé, têm contributos para dar (sociedades científicas, académicos, associações de professores, etc), em nome do interesse geral do País, já perceberam que as suas ideias e críticas contam apenas com o desdém e o desprezo do poder. Tudo isto é de uma arrogância desmedida e de uma grande falta de respeito, para que alguém se sinta motivado para um trabalho de séria reflexão e análise cujo destino é chacota politiqueira. É um sentimento terrível que vai privando o País do relevante contributo da massa crítica de que dispõe, na abordagem dos problemas da educação.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

DE VENTO EM POPA PARA O “SUCESSO” ESCOLAR - o ilusionismo que nos amarra ao atraso endémico


A minha filha fez exame de Matemática A do 12º ano. Preparou-se intensamente de tal modo que eu achei por bem recomendar-lhe, por várias vezes, que fosse para a rua arejar um pouco. Ao chegar a casa, depois do exame (23/06/08), disse-me que esperava tirar 20, mas antes que eu rejubilasse com a notícia, logo acrescentou que a prova era muito fácil, que uns 3 ou 4 colegas também esperavam tirar 20, que não havia nenhuma questão que distinguisse aqueles que estudaram razoavelmente a matéria daqueles que pudessem ir “um pouco mais além”, que tinha feito em três horas um exame que nos testes da escola se faz em 90 minutos, que tinha feito calmamente o exame por duas vezes e concluiu, com frustração, que “para isto não precisava de se ter matado a estudar”. No dia do exame à tarde, no Público on-line, alunos do Colégio Valsassiana, (sempre bem colocado nos ranking das escolas), davam testemunhos que iam no mesmo sentido.

Ora, todos os professores têm a noção de que a tendência natural dos alunos é queixarem-se das dificuldades das provas que vão realizando ao longo do seu percurso escolar, mesmo quando honestamente reconhecem que o esforço de superação das dificuldades é da natureza de qualquer processo de aprendizagem. Portanto, quando há alunos que se manifestam frustrados por considerarem demasiado fácil um determinado exame nacional, da responsabilidade do Ministério da Educação, manda o bom-senso que os tomemos a sério e que se tenha na conta de um aviso o sentimento de injustiça que manifestam, face a uma prova que não lhes reconhece o mérito e o esforço.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Matemática, "a prova comporta um grande número de questões de resposta imediata e elementar, não aferindo conhecimentos matemáticos importantes (...). Confirma-se a tendência já patente no exame nacional do 9 ºano, da semana passada, em propor exercícios que correspondem aos primeiros exemplos usados para introduzir as noções." E acrescenta: “O padrão utilizado pelo G.A.V.E. para avaliar o desempenho dos alunos não permite distinguir aqueles que efectivamente trabalham dos que pouco trabalham, e não ajuda os professores a incentivarem os alunos a aprofundar os seus conhecimentos.”

Concordo que esta orientação encerra em si uma mensagem indutora de uma dupla desmotivação: a dos alunos para o esforço de um sucesso efectivo e a dos professores para promoverem esse esforço nos alunos. Motivar os alunos para o esforço de um trabalho exigente é cada vez mais complexo e difícil.

No actual panorama de desânimo e impotência que reina entre os professores, os sinais que são dados no sentido da desresponsabilização em relação ao essencial “liberta-os” para a burocracia e o controlo a que estão sujeitos nas escolas. E quem na sua integridade profissional não é capaz de fazer essa opção, inquieta-se, divide-se entre a sua consciência e a pressão externa, enfim, sofre. (Um dos traços mais marcantes da actual conjuntura da política educativa é o risco de degradação da identidade profissional dos professores.)

Segundo a Sociedade Portuguesa de Química, no exame de Física e Química A do 11º ano há questões demasiado elementares que "exigem apenas que o aluno saiba ler um texto ou os eixos de um gráfico", não precisando "sequer de ter grandes competências a nível da interpretação".

A tudo a Sra. Ministra da Educação responde que é demagogia, que certas pessoas acordam pela manhã mal dispostas e se lembram de dizer que os exames são excessivamente fáceis. Regozija-se com os 90 % de alunos com positiva a Português e 82 % com positiva a Matemática, apontando-os como consequência das políticas seguidas pelo Governo, que terão permitido enorme recuperação. Para as tais provas de Português e de Matemática, recomenda a Directora Regional do Norte que não sejam corrigidas por professores que dão notas “fora da média” [leia-se abaixo da média], porque “os alunos têm direito ao sucesso”.

A fórmula para o sucesso não é pois a competência dos professores e o trabalho dos alunos. O sucesso é um direito universal, tendencialmente garantido a todos por igual. E a nova fórmula para o sucesso são os exames com um grau de dificuldade adequado ao "sucesso" e critérios de correcção em conformidade.

Não sei se a Ministra da Educação já tem preparado o discurso quando vierem a público os resultados do próximo estudo PISA, que avalia os jovens de 15 anos em literacia em matemática, em língua materna e em ciências. Aí não será o ME a fazer as provas, nem há margem para "adequar" os critérios de correcção - isso será um sério obstáculo ao sucesso.

Se pudéssemos tomar a sério a teoria do sucesso que vem ganhando terreno, seria de esperar uma grande “recuperação” dos alunos portugueses, no próximo estudo internacional de literacia. Mas, bem podemos esperar sentados: nada de parecido acontecerá. Afirmo sem qualquer hesitação que continuaremos bem no fundo da escala, no conjunto de cerca de 30 países.

Não tenho vocação para profeta da desgraça. Afirmo-o com o conhecimento que tenho da realidade e com o conhecimento dos processos de transformação da realidade educativa que promovo e investigo.

Desculpem caros leitores a presunção desta minha certeza… Concedam-me antes o benefício de admitirem que me move a ambição e a convicção de que é possível sairmos do fundo do poço, em termos da qualidade das aprendizagens das nossas crianças e jovens.


PS.:
Ao nível da UM espero bem que a taxa de sucesso escolar acima dos 75% prevista no QUAR (Quadro de Avaliação e Responsabilização) não me imponham a desresponsabilização, obrigando-me, porventura, a baixar ainda mais a bitola dos meus critérios de avaliação. Não tenho aspirações a ganhar o prémio da "Responsabilização" deste novo paradigma do sucesso estatístico.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

POR UMA UNIVERSIDADE QUE NOS ENGRANDEÇA

O Grupo de Reflexão sobre a Universidade do Minho (GRUM), tendo acompanhado, desde o primeiro momento, o processo de elaboração dos estatutos da Universidade, oportunamente manifestou a sua preocupação quanto aos termos em que o debate estatutário vinha decorrendo e à ambição posta na reformulação da estratégia da Instituição e do seu modelo de organização e de governo.


Empenhados que estávamos em contribuir para o estabelecimento de um modelo de governação da Universidade do Minho que a qualificasse e a projectasse nacional e internacionalmente, manifestámos a nossa convicção, ditada pelas vivências pessoais e pela reflexão mantida, de que reformar a Universidade era mais que fazer a simples acomodação das estruturas e modelo de governação existentes ao que aparecia disposto no RJIES.


Em particular, sendo nosso entendimento de que o Conselho Geral era(é) uma peça essencial para o sucesso da reforma em curso, empenhámo-nos em ver consagrados nos estatutos da Universidade os instrumentos que lhe assegurassem relevância estratégica e um funcionamento ágil.


Terminada que está a elaboração dos estatutos, apraz-nos constatar a utilidade da nossa intervenção, com expressão no acolhimento final pela Assembleia Estatutária de alguns dos princípios que emergiram na reflexão que animámos, nomeadamente no que se refere ao número de membros do Conselho Geral, e a alguma flexibilidade organizacional e eficiência na gestão de recursos supostamente visadas, atentos ao que aparece enunciado nos estatutos propostos para homologação.


Empenhados que estivemos e estamos no sucesso da reforma do ensino superior nacional, só ainda esboçada, e no sucesso da Universidade do Minho, em particular, entendemos entretanto que esta não é a hora de abandonar o debate e o labor em favor de uma Universidade renovada na sua forma de funcionamento e nos seus desígnios em termos de oferta de formação, de produção de conhecimento científico e tecnológico e de interacção com o meio, nas dimensões extensão universitária e animação cultural. Essa acção far-se-á fora do contexto deste Grupo de reflexão, que esgotou as virtualidades que estiveram na base da sua criação.


É para este labor e para a construção deste projecto de afirmação da Universidade do Minho que, nesta hora, nos atrevemos a convocar a comunidade académica minhota.


Catarina Serra; Carlos Couto; Clara Oliveira; Eduarda Coquet; Fernando Castro; Francisco Macedo; J. Cadima Ribeiro; Jaime Rocha Gomes; Joaquim Neves; Nuno Neves; Vasco Eiriz

Mensagem distribuída na rede electrónica da UM em 20/06/08


Comentário:


Onde impera a Liberdade o debate e o pensamento crítico são a seiva que alimentam uma comunidade viva - são por isso desejados e estimulados por aqueles que exercem a liderança. Não sendo esse o caso, ser protagonista do exercicio crítico e do debate no seio da UM é uma difícil aventura. Bem haja pois todos aqueles que conseguem manter vivo o espírito de participação desinteressado.

sábado, 7 de junho de 2008

Novos Estatutos UM: denominação das unidades orgânicas

Artigo 70.º(Enumeração e denominação das unidades de ensino e investigação)


1. Existem na Universidade as seguintes unidades de ensino e investigação:
a) Escola de Ciências;
b) Escola de Engenharia;
c) Instituto de Educação;
d) Instituto de Letras e Ciências Humanas;
e) Instituto de Ciências Sociais;
f) Escola de Economia e Gestão;
g) Escola de Direito;
h) Escola de Ciências da Saúde;
i) Escola de Arquitectura;
j) Escola de Psicologia;
k) Escola Superior de Enfermagem.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A designação da nova unidade orgânica IEP/IEC: proposta da Assembleia do IEC

Fundamentação da escolha, em Assembleia de Instituto, da proposta de designação da nova unidade orgânica resultante da reestruturação do IEC e do IEP:

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E DE ESTUDOS DA CRIANÇA

A Assembleia do Instituto de Estudos da Criança, reunida no dia 30 de Maio de 2008, pronunciou-se maioritariamente sobre a escolha do nome da nova unidade orgânica, com base nos seguintes considerandos:

1. A nova unidade orgânica emerge da fusão de duas escolas anteriormente existentes, em situação de paridade. A nova escola da UM, resultante da integração do Instituto de Estudos da Criança e do Instituto de Educação, representa a aposta da Universidade numa escola forte, que se pretende de referência ao nível nacional e internacional, fazendo convergir o património académico e identitário construído por ambos os institutos, ao longo dos seus anos de funcionamento, traduzido nos seus projectos de ensino, de investigação e de extensão em diferentes domínios científicos.

2. O Instituto de Estudos da Criança não é uma escola estritamente de educação. Se o IEC nasceu em torno de um projecto de formação de educadores e professores da educação básica, o seu desenvolvimento, ligado à auscultação das solicitações sociais, à emergência de novas áreas académicas, à competência construída dos seus docentes e investigadores, assim como aos requisitos epistemológicos do seu objecto de estudo – a criança – traduziu-se numa expansão de áreas de investigação/intervenção que transcendem o campo da educação.

Para além das áreas científico-pedagógicas directamente relacionadas com a educação e a formação de educadores/professores, o IEC tem uma procura e uma oferta consolidada e amplamente reconhecida a nível nacional e internacional, no campo interdisciplinar dos Estudos da Criança, em âmbitos tais como: as políticas sociais para a infância, a intervenção psico-social (pobreza infantil, trabalho infantil, protecção de crianças em risco), a saúde infantil e bem-estar, o lazer e tempos livres, os estudos artísticos, a violência escolar, a intervenção precoce, a sociologia da infância, a animação sócio-comunitária, a literatura infantil, entre outras.

Por tudo isto, o IEC é procurado por um público abrangente, que não se limita aos agentes educativos, estendendo-se a sociólogos, técnicos do serviço social, psicólogos, animadores sócio-culturais e artísticos, médicos, agentes da comunicação social, enfermeiros e outros profissionais que intervêm nos mundos da criança.

3. Os Estudos da Criança constituem uma área académica em grande expansão a nível internacional. Uma década depois da criação do IEC, encontram-se hoje, em muitos países, unidades orgânicas universitárias com a designação de Estudos da Criança (Child Studies, Children’s Studies ou Childhood Studies), um campo multidisciplinar que se desenvolve com autonomia no mundo académico, tendo lugar institucional bem definido. Todas elas têm uma (maior ou menor) interface com a educação (e as ciências da educação), mas encontram expressão própria no diálogo com outras áreas científicas.

4. A designação “Instituto de Educação e de Estudos da Criança” é uma mais-valia para a escola emergente e para a Universidade. A inclusão do nome “Estudos da Criança” na designação da nova escola não só assume a continuidade dos projectos académicos da Universidade do Minho na mudança agora iniciada, como lhe confere o seu carácter inovador, marcando a diferença e a mais-valia da escola emergente relativamente a instituições congéneres.

Estes argumentos sobre a designação da nova escola não põem em causa os compromissos assumidos pelo IEC no processo de audição das unidades orgânicas. Pelo contrário, consideramos que este é um momento histórico que nos oferece grandes oportunidades e desafios, e que teremos que enfrentá-los com abertura e imaginação, mas também com serenidade e respeito por aquilo que cada escola construiu até hoje, enquanto patamar para a fundação de uma nova escola com identidade e cultura próprias.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Escola de Educação, Instituto de Educação ou Instituto de Educação e Estudos da Criança?

Conforme a nota informativa nº 5 da Assembleia Estatutária, foi deliberado proceder-se a uma “Reestruturação do IEP e IEC, através da criação de dois novos Institutos, um na área da Educação e outro na área da Psicologia”. Na sequência dessa decisão foi convocada uma Assembleia do IEC, para 30 de Maio passado, com vista a uma auscultação sobre três possíveis designações da nova unidade orgânica, a saber: Escola de Educação, Instituto de Educação e Instituto de Educação e Estudos da Criança. Não me tendo sido possível estar presente nessa Assembleia, divulguei na véspera, por email, a seguinte posição sobre esta questão.

Caros colegas

Não podendo estar presente na Assembleia de amanhã, para auscultação dos docentes do IEC, quanto à designação da nova unidade orgânica na área de educação, gostaria de partilhar convosco o seguinte:

1. A expressão “Estudos da Criança” tem o seu equivalente a nível internacional na expressão “Child Studies”. Uma pesquisa na Internet permite concluir que esse domínio de estudos se caracteriza por uma abordagem psico-social e cultural da criança, com sede em instituições académicas que não têm a ver coma formação de professores de crianças. Há instituições de “Child Studies”, cuja filosofia preconiza que as crianças façam parte da comunidade institucional, funcionando como colégio e centro de estudos. Nesse caso é natural que aí se formem os professores dessas crianças. Todavia, a situação mais comum, quanto ao significado de “Child Studies”, está expressa na resposta a uma questão contida no portal da Universidade de Carleton, Canadá (http://www.carleton.ca/)

What Could a Degree in Child Studies Do for me?

A degree in Child Studies from Carleton University will qualify you for a variety of managerial positions, including senior administrative, directorial, and research positions in public and private sector agencies. Our graduates find challenging work in day-care centers, half-day programs, infant and toddler centers, private home day-care agencies, after-hour programs, hospital playrooms, infant stimulation programs, and community centre programs.

Desse ponto de vista o Instituto de Estudos da Criança não é um projecto académico de “Estudos da Criança”. Acresce que em dada altura da vida do IEC, houve um projecto de curso de formação de profissionais de assistência aos idosos (gerontologia), que não vingou. Esse propósito certamente não é congruente com a identidade científico-académica de um projecto de “Estudos da Criança”.

2. O IEC é como sabemos a continuidade do CEFOPE – Centro de Formação de Professores e Educadores de Infância – que veio substituir e ampliar o âmbito de competências da Escola da Magistério Primário. Na sua matriz original, que permanece actual, o IEC é fundamentalmente uma instituição de formação de professores de crianças e de investigação nos domínios científicos afins.

Após a institucionalização da designação IEC, desenvolveram-se outras actividades académicas que cabem na categoria de “Child Studies”, antes referida, mas isso não altera o facto de que o IEC é antes de tudo uma instituição de Educação.

Neste momento é oportuno lembrar que a institucionalização do IEC foi precedida de uma “avaliação externa” do CEFOPE (1995). Respondemos a inquéritos, prestámos depoimentos e todavia os resultados dessa avaliação não chegaram ao conhecimento dos docentes. Como observador atento que sempre tenho sido, posso afirmar que tudo se passou como se nenhuma “avaliação externa” pudesse contrariar a “inevitabilidade” da institucionalização do então CEFOPE como Escola autónoma na UM: o IEC.

3. Para além das razões antes enunciadas, outros motivos suscitam a minha discordância em relação à designação “Instituto de Educação e Estudos da Criança” para a nova unidade orgânica “na área da educação”. Note-se que aquela designação pode significar Instituto de Educação [da Criança] e [de] Estudos da Criança, o que remete exclusivamente para a “Criança”. Acresce a este viés o facto de a “Criança”, no final, ser uma palavra-chave que de forma incontornável qualifica a nova unidade orgânica - qualifica-a de forma muito redutora em relação à realidade que pretende designar.

4. À parte isso, várias questões se colocam:

- O que é que distingue a “Educação” dos “Estudos”?

- Se os “Estudos” dizem respeito à “Criança” porque é que os adolescentes não deverão ser objecto de “Estudos”?

- Se a ”Educação” tem como alvo os adolescentes onde fica então a “Educação” da “Criança”?

São muitas perguntas …“Instituto de Educação e Estudos da Criança” é pois uma construção linguística estranha, sendo de todo inadequada para designar uma instituição académica. A clareza ou a confusão da designação vale sobretudo para o exterior e não para quem está lá dentro. Teríamos que contar a toda a gente a história que estamos a viver para que pudessem entender a razão de ser de uma designação confusa e incorrecta.

5. Em minha opinião a palavra-chave da designação da nova unidade orgânica deverá ser “Educação”. Poderá ser uma “Escola” ou um “Instituto”. Seria uma Escola ou Instituto onde seriam bem acolhidas e teriam pleno cabimento as novas áreas académicas, entretanto criadas, no domínio dos Estudos da Criança.

Cordiais saudações académicas.

Joaquim Sá

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O TRABALHO DA "POBREZA"! E NA UNIVERSIDADE COMO É?

O "trabalho" da pobreza
17.05.2008, João Fraga de Oliveira (Público)

Não é admissível que, para não correr o risco da miséria, alguém tenha de se sujeitar à indignidade e ao risco.


No passado dia 11 de Maio, em Fátima, o bispo D. José Saraiva Martins, a propósito do "escândalo" da fome como "realidade triste e vergonhosa", apelava ao "respeito pelo homem e pela sua integridade", partindo do princípio de que "todos os homens têm o dever de ter uma vida digna" e frisando que "os valores da dignidade são inegociáveis".

Há já vários anos que o principal referencial da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também já adoptado pela União Europeia (UE), é o direito de todas as pessoas a um trabalho digno (decent work).

Que relação poderemos estabelecer entre estas posições, a da Igreja, por um lado e, por outro, a da OIT e da UE, num contexto, mais que conhecido e denunciado por insuspeitas entidades, de encarecimento da alimentação, da saúde e da educação, baixos salários, quebra do poder de compra, endividamento pessoal e familiar, pobreza (mais ou menos encoberta) em que, ultimamente, muitas pessoas, em Portugal, (sobre)vivem?

Se para o crescente número de desempregados esta situação é desesperante, mesmo para a maioria de quem trabalha cada vez é mais difícil e incerto ganhar a vida. Mas um outro lado mais lunar, mais encoberto, desta realidade são as repercussões nas condições em que as pessoas ganham a vida, nas suas condições de trabalho. As condições de vida pessoal, familiar e social são indissociáveis das condições de trabalho.

Para quem está empregado, o medo de também cair no desemprego (acentuado pela eventual situação de precariedade do emprego em que se encontre) encontra na degradação das condições de vida um "caldo" onde germina, cresce e se generaliza uma atitude de não exercitação (ou até, tão-só, de reivindicação) dos seus direitos, mesmo dos mais elementares, mais básicos (e, por isso mesmo, constitucionalmente fundamentais), como é o direito a condições de trabalho que garantam a dignidade, a saúde, a integridade física, a vida.

É que, não nos iludamos, parafraseando um ilustre sociólogo português, tendemos a ser cada vez menos trabalhadores (sobretudo na exercitação dos nossos direitos) na medida em que tendemos a ser cada vez mais consumidores.

Resulta daqui o risco de emergirem e se desenvolverem situações que são a negação, perversa, do ciclo virtuoso (que, assim, se torna vicioso) que deve existir entre as condições de trabalho e as condições de vida (realização pessoal e profissional, saúde, dignidade, estabilidade económica, constituição e manutenção da família, etc.). E, assim, a mesma pobreza e sofrimento na vida pessoal e familiar que resulta da degradação das condições de trabalho (baixos salários, sobreduração, sobreintensificação, falta de condições de segurança, saúde e higiene), podem ser, perversamente, instrumentos da obtenção (ainda) de mais trabalho, da indigna exploração de quem trabalha.

Perante isto, não podem o Estado, o poder político e a administração, bem como as instituições pertinentes, alhearem-se e deixar funcionar o "livre negócio" de valores que são "inegociáveis". Devem, sim, caracterizar a situação e construir estratégias, recursos, metodologias e instrumentos de acção (em que a informação também tem um importante papel) que previnam e corrijam as consequências sociais que podem advir de uma outra face da pobreza e do "trabalho" que, na sombra, esta também faz (ou ajuda a fazer): a degradação das condições de trabalho.

É que, sob o ponto de vista da democracia e da cidadania, por mais que haja quem nos queira acomodar e conformar a um discurso meramente tecnocrata, gestionário e relativista dos referenciais mínimos da dignidade das pessoas, como tal e como trabalhadores, não é admissível que alguém, para não correr o risco da miséria e da consequente perda da dignidade na sua vida pessoal e familiar, tenha que, no trabalho, se sujeitar à miséria da indignidade e do risco.

Não é admissível que alguém, para ganhar a vida, para se manter socialmente digno, tenha que, como trabalhador, sujeitar-se à indignidade de não exercitar os seus direitos e ao risco de perder quotidianamente vida ou, mesmo, ao de, num instante, perder a vida.

Funcionário público, licenciado em Gestão de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho.

COMENTÁRIO:

Excelente artigo, de elevada pertinência para os mais variados contexto laborais, inlcusive a universidade. Ver posts anteriores:

segunda-feira, 5 de maio de 2008

FENPROF E SNESup EXIGEM AO MCTES NEGOCIAÇÕES URGENTES

Comunicado de Imprensa

Negociações com o MCTES são urgentes

A FENPROF e o SNESup reclamam negociações urgentes com o Ministro Mariano Gago com os seguintes objectivos principais:

• Reduzir drasticamente a enorme precariedade das carreiras

• Desbloquear a progressão nos escalões e as promoções

O Ministro Mariano Gago tem fugido, desde a sua tomada de posse, à realização de reuniões que garantam efectivas negociações com as organizações sindicais, com vista à resolução dos graves problemas que vêm afectando a situação profissional dos docentes e investigadores, nomeadamente a grande precariedade e a grave limitação das perspectivas de melhoria salarial, seja pela progressão nos escalões, seja por mudanças de categoria.

A resolução destes problemas tornou-se ainda mais premente devido aos violentos cortes financeiros que o Governo tem imposto às instituições e devido às alterações legislativas aprovadas para a Administração Pública que implicam um novo sistema de vínculos e uma nova regulação da progressão nos escalões, e trazem elementos de grande intranquilidade para a futura situação profissional de docentes e investigadores.

É inaceitável que o Governo e o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior se mantenham numa posição anti-negocial, prejudicando o conjunto dos docentes do ensino superior e dos investigadores.

Na última reunião, entre o Ministro e a FENPROF e o SNESup, em conjunto, havida a 2 de Junho de 2007 (há já mais de 11 meses), foi por Mariano Gago anunciado que iria elaborar um documento com propostas relativas às carreiras para ser debatido no âmbito das instituições e por todos os docentes e investigadores e, posteriormente, negociado com os Sindicatos. Esse documento seria divulgado em finais de Setembro. Mais uma vez, tal como numa reunião efectuada ainda em 2005, com a FENPROF, onde fez idêntico anúncio, faltou à palavra.

Perante esta situação intolerável, a FENPROF e o SNESup, interpretando o sentimento dos docentes e investigadores, decidiram exercer pressão sobre o Governo e o Ministro, através da mobilização dos colegas, para que a abertura urgente de negociações para a discussão e procura das melhores soluções, seja uma realidade, particularmente em relação aos dois principais problemas que afectam os docentes e os investigadores: precariedade e bloqueamento das progressões e das promoções.

É contraditório que o Governo afirme preocupar-se com a avaliação e a recompensa do mérito, no que se refere à generalidade dos trabalhadores da Administração Pública, mantendo, ao mesmo tempo, no ensino superior e na investigação uma situação de bloqueio desse mesmo processo, com consequências negativas no plano sócio-profissional.

Os docentes do ensino superior e os investigadores já são avaliados com exigência através de concursos, provas e relatórios. Portanto, não aceitam uma situação em que na prática não têm de oportunidades de promoção e de progressão nas carreiras. Esta situação poderá levar a consequências negativas no plano da motivação e do investimento na profissão, com prejuízo da qualidade e da eficácia das suas actividades.

Para afirmar a vontade colectiva dos docentes e investigadores, encontra-se já, desde meados da semana passada, em subscrição on-line, um Abaixo-Assinado exigindo negociações ao Ministro e apresentando um conjunto de reivindicações, o qual, em tão pouco tempo, já recolheu quase dois milhares de assinaturas, número que cresce dia a dia.

A FENPROF e o SNESup solicitaram, por ofício de 1 de Abril p.p., uma reunião a Mariano Gago para negociação. Até ao momento, passado um mês e meio, o Ministro não se dignou, sequer, a acusar a recepção dessa carta.

A FENPROF e o SNESup darão ao Ministro mais uma semana para que este lhes responda, como, quanto mais não seja, mandam as mínimas regras de boa educação. Findo este prazo, estão na disposição de desencadear outras formas de acção que tornem publicamente bem patente o descontentamento que a sua atitude está a provocar entre os docentes e os investigadores.

A entrega do abaixo-assinado será um dos momentos privilegiados para uma das acções, não se excluindo outras que impliquem o envolvimento dos colegas nas suas próprias instituições. A FENPROF e o SNESup não aceitarão negociar no período de exames e, muito menos, no período de férias, pelo que, o final do mês de Maio e o mês de Junho, é o período adequado para o efeito.

As duas organizações sindicais já pediram encontros conjuntamente, ao CRUP e ao CCISP e projectam também solicitar reuniões ao Primeiro Ministro, à Assembleia da República e ao Presidente da República, se esta situação de bloqueio negocial por parte do Ministro persistir.

Lisboa, 15 de Maio de 2008

A FENPROF /O SNESup

quarta-feira, 30 de abril de 2008

As legítimas preocupações dos docentes não-doutorados no Senado

Caros colegas não-doutorados.

A moção que decidimos apresentar ao Senado Académico, na sequência da reunião de não doutorados do dia 23 de Abril, foi amplamente discutida na sessão ordinária do dia 28 de Abril, mas não reuniu consenso suficiente para ser posta a votação. Em alternativa, e por proposta do Sr. Reitor, enquanto presidente do órgão, ficou registada em acta a seguinte menção ao assunto:

"Foi ainda manifestado e registado pelo Senado Universitário um sinal de solidariedade para com a preocupação transmitida pelos representantes dos docentes e investigadores não doutorados relativamente a uma eventual alteração do actual enquadramento legal de que resulta a assumpção de expectativas legitimamente criadas em relação à conclusão do percurso formativo dos docentes de carreira."

Ficou em aberto a possibilidade de se proceder a uma reformulação da moção com o objectivo de integrar a ordem de trabalhos da próxima reunião ordinária do Senário, a realizar em 28 de Julho.
Saudações académicas.

Sandra Marinho, Luís António Santos, Pedro Portela

Comentário:

São preocupações muito legítimas que bem justificam uma atitude solidária. Saúdo o grupo de docentes que decidiu mobilizar os colegas e dar expressão às suas preocupações. Nos tempos que correm sinais destes são motivo de esperança.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS PARA CRIANÇAS


Fui professor de Físico-Química do Ensino Secundário até ingressar na carreira universitária para ser formador de educadores de infância e de professores do 1º ciclo, na componente de Ciências. Confrontado com essa responsabilidade, não pude deixar de me colocar uma questão fundamental:

- que sei eu acerca do que fazer para que estes jovens venham a ser capazes de ensinar ciências às crianças?

Eu tinha feito um Mestrado em Ensino das Ciências e tinha lido uns quantos livros e artigos acerca do que se ia fazendo noutros países, desde a década de 60; mas isso não resolvia a questão. Estávamos em 1990 e não existia literatura que me pudesse elucidar acerca da educação científica nas nossas escolas primárias, quer do ponto de vista dos alunos, quer do ponto de vista dos professores.

E mesmo que existisse, as questões persistiam:

- como vou fazer destes jovens, professores de ciências de crianças, se eu próprio não sei – de experiência vivida - como ensinar ciências às crianças?

- como vou formar professores de crianças se me intimida a simples ideia de ter um grupo de crianças à minha responsabilidade?

A minha única vivência com crianças, em contexto de ensino, resumia-se à vaga e já distante recordação do que fora a minha instrução primária.

Senti-me compelido a enfrentar o desafio de eu próprio me tornar competente no ensino de ciências experimentais a crianças. Por isso, de um modo informal, fui estabelecendo contacto com professores do 1º ciclo e pedia-lhes que me permitissem ensaiar o ensino experimental de alguns tópicos por mim planificados; por outro lado, colaborava com os alunos estagiários a orientar actividades de ensino planificadas sob minha supervisão. E assim, desta forma exploratória, que durou cerca de 2 anos (90/91 e 91/92) fui ganhando confiança e autonomia na condução de uma turma.

E os resultados desse trabalho caiam-me em abundância no regaço, como fruta madura em tempo de colheita.

O envolvimento das crianças nas actividades, a sua alegria e satisfação constantes, a atmosfera de efervescência intelectual nos grupos e, sobretudo, o desmuronar de ideias feitas acerca das aprendizagens "possíveis", deram-me o sentimento de ter descoberto algo fascinante. A experiência era empolgante e, o que quer que ela significasse, em termos da carreira académica, diziam-me as crianças que eu tinha que dar continuidade ao trabalho iniciado. Foi assim que surgiu o projecto de doutoramento e a subsequente actividade de investigação que tenho desenvolvido.

A permanência nesta temática, ao longo destes anos, suscitou alguma perplexidade em alguns colegas que me chegaram questionar sobre o porquê desta “paixão”. Assumo a paixão e para ajudar à sua compreensão dou a palavra a Karl Popper, quando falava aos seus alunos:

"(...) penso que só há uma caminho para a ciência ou para a filosofia, (...): encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe - a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderão trabalhar com um sentido, até ao fim dos vossos dias."

E não há dúvida de que todo o trabalho realizado é apenas o começo. A concretização do Mestrado em Ensino Experimental das Ciências no Ensino Básico, na Universidade do Minho, a iniciar no próximo ano lectivo, poderá dar uma expressão maior à formação dos professores para o ensino experimental nas escolas do 1º ciclo.

Artigo publicado no jornal ComUM, edição impressa nº 6, em 6/04/08

domingo, 6 de abril de 2008

ÉTICA!

ÉTICA É RECONHECER E RESPEITAR O ESPAÇO DO OUTRO.

ÉTICA É SENTIR-SE LIVRE E DISPONÍVEL PARA NOVAS E ENRIQUECEDORAS EXPERIÊNCIAS, SEMPRE COM O OBJECTIVO DE EXPANDIR A SUA CONSCIÊNCIA, A PERCEPÇÃO E A INTUIÇÃO.

ÉTICA É USAR A MENTE NUMA DIMENSÃO MAIS ELEVADA, ELEGANTE, NOBRE E ÍNTEGRA.

Renato Rasiko

Comentário:

Aqui está um conceito de ética que a cultura institucional das Universidades de todo não promove. E com isso ficam mais pobres as Universidades, ficamos mais pobres todos nós, fica mais pobre a sociedade.

segunda-feira, 31 de março de 2008

O QUE RESTA DO HUMANISMO PARA ALÉM DA RETÓRICA?

(…) quem ousaria opor-se á prevalência
do discurso humanista, sob pena de cair
na extrema barbárie de ser contra o homem?
(…) Mas que homem? Que tipo de homem?
Interrogações que abrem dúvidas no unanimismo
à volta do humanismo.
(José Gil, 2004)

“Humanismo”, aí está uma palavra que tenho cada vez mais dificuldade em utilizar. O último processo eleitoral ocorrido na UM veio reforçar o fundamento de tais reservas. Com efeito, se ambos os projectos se apresentaram à academia com enunciados humanistas, valores democráticos, preconizando o primado da liberdade, o que haveria de ser discutido?

A discussão faz-se com recurso à palavra, contrapondo argumentos ao que é tido por diferente, contrário. Todavia, se nos enunciados fundamentais não há contradição mas convergência, toda a discussão é um exercício de retórica redundante, em torno de uma mesma coisa. Navega-se num consenso difuso, sem vectores, como se o objecto de discussão - a vida académica - fosse uma realidade sem esboço de forma, desprovida de arestas, de vértices, de tudo o que aponte um sentido de diferença ou de ruptura. O debate não existe e o pensamento fica enclausurado: o dos candidatos, o dos que querem intervir no debate e o dos que ouvem.

Que sentido faz discutir-se o direito de participação na vida académica se não há coragem para abordar a premente necessidade de mecanismos de acção eficazes que ponham cobro ao cinismo com que se aviltam as pessoas nos seus direitos legítimos? Há alguma noção de quanto isto corrói a vida das pessoas e o potencial humano da instituição?

A simples garantia do estrito respeito da legalidade dentro da UM teria o efeito de uma autêntica revolução na cultura institucional... Para melhor, muito melhor, na direcção de uma Universidade em que o humanismo em vez de um slogan eleitoral seja uma vivência substantiva, parte integrante do quotidiano das pessoas.

Ter-se-ia então que entrar na desmontagem do carácter instrumental do discurso humanista para finalidades diferentes das enunciadas, o que se torna um exercício intelectual bem mais complexo. Essa instrumentalidade está frequentemente em lados aparentemente opostos. Por isso, se quisermos o debate substantivo na academia, teremos que entrar na discussão da (in)coerência entre os princípios enunciados e a conduta dos personagens. Porque, para efeito de consumo público, é humanista o opressor, é-o o oprimido e é-o também o justo. Há os que reclamam liberdade e democracia quando olham para o alto, fincando bem as botas em cima dos que estão por baixo.

Dificilmente haverá melhor critério para se sair do impasse do que a possibilidade de se fazer um juízo sobre quem proclama os valores humanistas, em função da sua praxis no lugar, no tempo e com as pessoas com que se faz o seu quotidiano. Isto remete-nos para o tema das públicas virtudes versus vícios privados, no mundo académico.

Uma certa casta de humanistas, democratas, politicamente posicionados de forma muito “correcta” à esquerda, decidiram, depois do fulgor de Abril, que o destino tinha para eles o desígnio de grande notoriedade. Universidades adentro, foram tecendo uma estratégia de ascensão muito própria. Sempre bem encostados ao poder, de verbo fácil, confundem discurso académico com discurso político, confundem ciência com ideologia e qualquer ideia de rigor de investigação é um vício positivista, incompatível com a pós-modernidade académica, de que são os pioneiros.

Estabeleceram a sua bitola de humanismo, a cartilha a que devem obedecer os seguidores que assim podem provar dos benefícios do poder. Se alguém não assimila de forma “correcta” esse padrão humanista aplica-se uma implacável correcção dos desvios. E não lhes treme a voz quando, perante o despedimento arbitrário e ilegal de um(a) colega (a correcção do desvio), argumentam que o “parecer jurídico do sindicato não tem valor vinculativo”. Testemunhei tais comportamentos humanistas no ano 2001.

Dos pregadores Frei Tomás não esperemos nada. Bem melhor será que saibamos ao que vão.

Artigo publicado no ComUM, edição impressa de 3 de Março de 2008

quinta-feira, 20 de março de 2008

HOJE MAIS DO QUE NUNCA: EXPANDIR A POTÊNCIA DE VIDA (2)

Como uma mensagem de Páscoa, aqui deixo, na íntegra, um comentário deixado no post Hoje mais do que nunca: expandir a potência de vida


E valerá realmente a pena, lutarmos contra a opressão sobre as tentativas constantes de silenciar quem se manifesta contra??? Sinceramente não sei. Não vivi o 25 de Abril de 1974, mas sou uma apaixonada por história e felizmente sempre tive professores que me davam a beber a sua sabedoria e experiência, sim eu que em criança coleccionava recortes de jornais sobre o tema e com que meus pais brincavam e diziam "ai rapariga vais dar revolucionária.". Mas sabem, meus pais estavam errados, porque não se pode sequer exigir o que é nosso por direito a LIBERDADE. Senão vejamos, o que está a acontecer com o processo de avaliação dos docentes: 100000 docentes nas ruas de Lisboa e para quê??? Para a Ministra no Parlamento afirmar "A minha obrigação não é dar as respostas que a senhora deputada quer ouvir. A minha obrigação é responder com resultados. Respondo com aquilo que faço, com a política educativa" e esta senhora ainda se acha com razão, tudo porque o engenheiro (...) Sócrates a anda a levar ao colo e a segurá-la no Ministério. Não sou docente mas senti necessidade de estar presente na vigília feita na cidade de Braga numa sexta-feira à noite e aqui fica o meu relato num site onde professores desabafam, trocam experiência e materiais de trabalho."Sou de Braga nascida e criada e ontem senti a obrigação de estar ao vosso lado, ao lado dos meus ex-professores e dos meus futuros colegas. Sou sincera não estava à espera de ver muita gente, cheguei à Avenida eram 22:25 e não vi ninguém, decidi ir dar uma volta... e a verdade é que as lágrimas caíram, porque vi um "mar" de emoções, umas saudosas outras de revolta e indignação mas nas ondas desse mar de gente sentia-se a UNIÃO de um povo que já fez a Revolução à 33 anos. Lembrei-me inevitavelmente do meu professor de História que com a memória viva a correr nas veias nos relatava não só a história em si mas a sua experiência. Mas voltando ao que ontem vivi, senti um orgulho imenso na minha futura profissão, juro, senti que somos capazes de voltar a fazer a revolução. Cheguei à praça do Município e só consegui dizer "LINDO" porque realmente aqueles olhares, aqueles cânticos, que mesmo espontâneos, eram perceptíveis. Foi como que uma viagem no tempo, primeiro porque muito humildemente senti o que muitas vezes a minha mãe me conta o que viveu, os dias da revolução do 25/04/1974, porque o que sempre realçava era que o poder do povo "jamais será vencido.". Depois vi os meus professores, as pessoas que orientaram o meu caminho, me deram de beber do seu saber, que muitas vezes me "puxavam" orelhas, mas que, acima de tudo, partilharam o que de melhor tinham e fizeram de mim uma pessoa melhor, e por fim, porque senti e tive a certeza que o meu futuro é a EDUCAÇÃO, que o futuro do nosso país está nas nossas mãos e que a escola será sempre em primeiro lugar dos alunos e em segundo dos professores, porque a escola deve ser feita para eles alunos pelos professores, pais e comunidade. Espero não ter sido muito maçadora e desculpem se a narrativa não for a mais correcta mas a verdade é que neste momento as palavras saltam-me da alma e por vezes o conter e explicar o que vai na alma é confuso. E para si Sr.ª ministra não se esqueça que o valor da educação é superior ao valor dos diamantes porque a educação molda seres, faz uma nação."Sinceramente não sei se valerá a pena, naquela noite achei que sim...sinto que neste momento quer na sociedade quer na Universidade existe um ambiente pidesco e silenciador de almas prontas a mover montanhas...

20 de Março de 2008 0:46