segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Esta gente "virtuosa"...

Frequentemente a revolta vem ter comigo e, por mais voltas que dê ao pensamento, acabo sempre por retornar ao ponto em que a minha dignidade não suporta o sentimento de ser esmagado como uma formiga que se chuta para fora do carreiro. Havemos de pôr a nu a verdadeira face deste gente "virtuosa".

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Assédio sexual e assédio moral: faces da mesma moeda

A propósito do post anterior pode ler-se em Novos Rumos Novos Desafios
http://um-novosdesafios.blogspot.com/2010/08/assedio-moral-na-uminho.html :

Sou mulher e não vi retratado o assédio que tenho sentido há muitos anos, o assédio sexual perverso que se faz neste mundo da universidade. Não se trata de um fenómeno passageiro. É um problema que os homens usam abusivamente para atingirem os seus fins. Estou farta que me digam que não estou bem "porque estou naqueles dias".

As razões objectivas que são propícias ao assédio moral são igualmente propícias ao assédio sexual: uma situação de poder do agente de assédio face à (potencial) vítima.

O assédio sexual é normalmente entendido como sendo exercido pelo homem sobre a mulher, todavia, nem sempre é assim. Pessoalmente não tenho conhecimento de casos de assédio sexual do homem sobre a mulher, em contexto universitário, mas do assédio da mulher sobre o homem não posso dizer o mesmo.

Determinadas senhoras, que porventura sacrificaram uma vida afectiva saudável à profissão, ao atingirem um patamar elevado e estável na carreira, e vendo os anos correr..., acham que é chegado o momento de dar um pouco mais de "picante" e colorido às suas vidas (o que, em abstracto, não pode deixar de se considerar uma aspiração legítima). Um colega, seu subordinado, provavelmente mais jovem e supostamente um homem interessante, parece presa fácil, passando a ser visto como o instrumento desse desiderato. Passa então a ser alvo de especial atenção e interesse com vista a um estreitamento do relacionamento profissional: de início é "tudo a propósito de trabalho". O elemento masculino sente-se lisongeado com o interesse pelo o seu trabalho e com o "reconhecimento" da qualidade do mesmo, por parte da superior hierárquica, encarando com satisfação os incentivos, os apoios e até a perspectiva de um trabalho "conjunto". A sedução parece surtir o efeito desejado.

Mas com o tempo, o "eleito" vê reclamada sua presença a todo o momento para "colaborar" nesta e naquela tarefa inadiável, as mensagens por diveros meios passam a sar contínuas - cartas manuscritas, telefonemas para casa, para o gabinete, textos por email -, a senhora aparece no seu caminho invocando todo e qualquer pretexto. Finalmente sente-se cercado, sem liberdade para dispor do seu tempo e da sua vida com livre-arbítrio e decide começar afastar-se, com a parcimónia de quem teme represálias.

Chega-se ao ponto de a autora de assédio sexual reconhecer esse facto por escrito, disfarçado em urgentes tarefas profissionais, nestes termos: “(…) chego à conclusão que a minha “vigilância” permanente junto às “tuas-nossas” actividades conduziu sobre ti a uma sensação de pressão, de coacção, de “horror” à minha presença” (...) “Porque eu sei (e tu sabes que eu assim penso) que tu és intelectualmente brilhante; aspecto que, reconheço, fico eu bem aquém. Assim, a tua visão teórica, intelectual, poderia ter “casado” bem com a minha capacidade efectiva de execução”.

As verdadeiras intenções são percebidas e finalmente declaradas - a situação torna-se patética e de grande embaraço. Tendo em conta a relação hierárquca, o sujeito explica de forma cautelosa que "não pode ser", que "não está interessado", mas a pressão continua, é um sufoco. Por fim, acaba por ser necessária uma atitude de mais drástica ruptura.

Temos então uma mulher que se sente rejeitada, mas essa mulher dispõe de poder sobre quem a rejeitou - está o caldo entornado. Quem não reconheceu os seus encantos femininos há-de reconhecer o seu poder da pior maneira. Segue-se então a revanche e começa o processo de assédio moral.

Assim, é na relação de poder - do homem sobre a mulher ou da mulher sobre o homem - que assenta o assédio sexual que, por sua vez, pode dar lugar ao assédio moral. Sendo os fenómenos de natureza diferente podem em certos casos ser faces da mesma moeda.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Conferência "Psicopatas no local de trabalho? O assédio moral nas organizações"

A Universidade do Minho acolhe na próxima terça-feira, 22 de Junho, entre as 15h e as 17h, a aula aberta/conferência "Psicopatas no local de trabalho? O assédio moral nas organizações". A iniciativa vai decorrer na sala 3.301 do Complexo Pedagógico 3, no Campus de Gualtar, Braga.

Está prevista a projecção de um pequeno filme sobre "mobbing" e uma conferência, com as palestras "Repercussões do Mobbing/Assédio moral no bem-estar do trabalhador", por Ana Lúcia João, "O assédio moral no trabalho: uma perspectiva feminista", por Joana Oliveira, e "O assédio moral como comunicação patológica: o contributo de Gregory Bateson", por Luzia Pinheiro e José Pinheiro Neves. A moderação cabe a Joel Felizes, Director do Curso de Sociologia da UMinho. A organização do evento cabe ao Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da UMinho, ao Núcleo de Estudantes do Curso de Sociologia (NECSUM) e à unidade curricular "Trabalho e Culturas Profissionais" do Curso de Sociologia.

Contactos:

Instituto de Ciências Sociais da UMinho
Departamento de Sociologia
Tel.: 253604212 /80
Email: sec-dsa@ics.uminho.pt

Comentário:
Felicito os organizadores pela iniciativa. A problemática a abordar tem sido matéria tabu, mas tem uma grande expressão e implicações graves para a vida de muitas pessoas e contribui para a degradação do clima de trabalho nas instituições. Nas universidades, a conjugação de uma estrutura rígida e fortemente hierarquizada, com o estatuto de Autonomia (com todas as suas interpretações perversas e abusivas) faz com que o fenómeno de mobbing/assédio moral seja um problema particularmente crítico. Façam-se as contas aos que têm sido forçados a sair por não suportarem as pressões a que são submetidos... No pequeno espaço institucional que melhor conheço, e apenas num período de 1 ano e meio, dois professores auxiliares e um assistente foram-se... Isto tem que mudar, os déspotas tem que acabar.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A consumação de um plano de destruição humana

Guardo comigo cópia da acta de uma reunião no ex-CIFOP (chegou-me às mãos há uns 10 anos), realizada em 21 de Junho de 1990. A reunião, realizada com a presença do Reitor da Universidade do Minho de então, tinha como único assunto eu próprio, embora ausente. Na referida acta pode ler-se:

“O Prof. X interveio para afirmar que não está a pedir o levantamento de um processo disciplinar mas que fará todos os possíveis para que ele (Dr. Sá) se vá embora”.

Por incrível que pareça, coisas destas constam de uma acta; reinava então uma espécie de legitimidade "revolucionária" de um "iluminado", o que redundava na ausência do mais elementar bom-senso. Por isso mesmo, nessa altura e nos anos seguintes, ganhei todas as eleições para representante dos docentes não doutorados a que me apresentei (e foram 3), por larguíssia maioria, num universo de 30 a 40 docentes (havia os docentes requisitados da profissionalização em exercício, com direito de voto).

O que me movia no propósito de ser representante eram a o direito de participação dos docentes, a exigência de informação, pugnar pela democraticidade e transparência das decisões, a defesa da igualdade (de tratamento, de oportunidades e de recursos disponibilizados aos docentes) contra a discriminação, a recusa de todas as formas de conduta anti-ética, designadamente, o desrespeito das pessoas e os abusos de poder. Mas à lei força, acabava sempre por prevalecer o contrário do que eu e os meus colegas defendiam. Por isso se criou a tese de que não tínhamos ainda "cultura universitária", do mesmo modo que, mais de uma década depois, uma colega estrangeira "não se adaptava à cultura portuguesa", pois a sua liberdade de pensamento tornara-se particularmente incómoda.

Com a minha visão do mundo, pensamento, convicções e personalidade, eu percebi que tinha caído no fundo de um poço sufocante onde me era impossível respirar. Foi por isso que no início do ano lectivo de 91/92 comuniquei a minha decisão de no final desse ano abandonar a UM e concorrer para o Ensino Secundário, de onde me tinha desvinculado do lugar de professor efectivo. Mas durante esse ano, os alunos do 1º ciclo "convenceram-me" que o trabalho exploratório de investigação que fazia com eles nas suas salas de aula era único e necessário. Decidi então ficar para dar continuidade a esse trabalho fascinante (ver http://geniociencia.blogspot.com/ ), que eu tinha iniciado de forma completamente desprendida, pois tinha a perspectiva de abandonar a carreira universitária alguns meses depois.

Mas persistiam os problemas com a minha presença na instituição. O simples facto de fazer perguntas que para sempre ficaram sem resposta... era uma heresia insuportável. A minha conduta tinha o apreço e a consideração da esmagadora maioria dos meus colegas de então e era especialmente isso que não podia ser tolerado por gente obcecada pelo o poder a qualquer preço. Era preciso cortar o mal pela raíz...

Aquela garantia inaudita (que eu desconhecia) de tudo se fazer para me afastar continha o anúncio de um plano de aniquilação profissional. Diferentes actores, que adoptaram a mesma "escola" da insana brutalidade, sustentada em superior patrocínio hierárquico, prosseguiam o plano enquanto eu resistia como podia; e assim foi durante 20 anos. A minha saúde foi-se degradando em diferentes aspectos, de ano para ano. Consequentemente, hoje estou em casa sem poder trabalhar: o plano cumpriu os seus objectivos.

Tristemente, é desta miséria moral que muito se fazem as nossas universidades e muitos dos notáveis que as habitam.

Para mais esclarecimentos:
http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/sero-essas-pessoas-normais.html

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A condecoração de Saldanha Sanches me conforta!

A notícia da morte de Saldanha Sanches, há cerca de um mês, entristeceu-me… Não tenho agora grandes palavras para explicar porquê … Direi tão só que compreenderá esse meu sentimento quem lê este blog e sabe do homem, do académico e do cidadão que era Saldanha Sanches. Reconhecido como um dos maiores especialistas portugueses na área do direito fiscal, Saldanha Sanches "chumbou" nas suas Provas de Agregação, em 27 de Junho de 2007, numa votação secreta... em que ninguém tem que dar a cara para se justificar. Não chegaria nunca a… jamais poderia ser Professor Catedrático.

No passado 10 de Junho, Saldanha Sanches foi condecorado... a título póstumo, como Grande Oficial da Ordem da Liberdade. Como disse Maria José Morgado, a esposa, após a condecoração ter sido recebida pela filha de ambos, Saldanha Sanches permanece entre nós, pela mão dos homens e mulheres que se conduzem e lutam pelos valores e princípios que nortearam a sua vida: valores de liberdade, de justiça, de honestidade, de ética, de honradez, de cidadania activa e de compromisso pessoal com o interesse comum. E também da coragem e da indignação que punha na afirmação de tais valores.

São boas razões para uma condecoração… apesar de a título póstumo, no dia de Portugal. Isso me conforta por estes dias de tristeza e indignação perante a recompensa da mentira e do embuste.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

E na UM como é? Exijo uma resposta clara.

No Público:

A direcção da Escola Básica 2,3 de Fitares, em Sintra, onde foi foi aberto um inquérito pela Inspecção-Geral da Educação (IGE) para averiguar a alegada ligação entre o suicídio de um professor e a indisciplina dos seus alunos, decidiu dar agora seguimento a pelo menos 11 queixas que os docentes fizeram (...) e que, até agora, não tinham sido encaminhadas.
[...]

A morte de Luís [professor] foi noticiada a 12 de Março pelo PÚBLICO, dia em que a IGE decidiu abrir o inquérito. Na mesma altura, alguns docentes denunciaram o facto de a direcção não dar seguimento às participações disciplinares e a IGE recebeu pelo menos três queixas sobre o caso. Do livro de ponto da turma de que Luís mais se queixava constam, até Fevereiro, 12 participações.


E EU PERGUNTO:

E na UM, com o seu estatuto de Autonomia, o que é feito das variadíssimas queixas que apresentei em relação a vários Professores Catedráticos, que, agiram de forma concertada ao longo de muitos anos, para destruir a minha saúde e a minha carreira? Está absolutamente provado que atentaram contra meus direitos legítimos, de forma deliberada e continuada, em total violação da legalidade. A indiferença da instituição foi total.

Eu não me suicidei, deixando caminho aberto para que se lance sobre o desaparecido a responsabilidade pela sua pouca sorte, como se tem visto. Não, eu estou cá, suficientemente vivo para que exigir que a justiça se faça.

EXIJO UMA RESPOSTA CLARA QUE POSSA RESSARCIR-ME, PELO MENOS EM PARTE, DOS IRREVERSSÍVEIS DANOS QUE ME FORAM CAUSADOS.


domingo, 16 de maio de 2010

“Homens doutos, hirtos, de toga e de capelo”, do alto dos seus cadeirões...

Nos tempos que correm, mais de 4 séculos após o nascimento de Galileu, têm ainda uma grande expressão nas universidades portuguesas a chamada autoridade aristotélica como critério de “validação/avaliação científica”. Ou seja, o poder pessoal de julgar (pouco importa como aí se chega) o que tem qualidade ou é científico, relega para segundo plano a análise do rigor dos resultados de uma investigação e da validade da interpretação dos mesmos. A autoridade aristotélica a que nos queremos referir é a sua pior degenerescência: é o poder de julgar na inversa proporção do quadrado da competência para julgar. Por maiores que sejam os dislates, ouve-se frequentemente “o júri é soberano e decidiu!” É em determinadas áreas, com paradigmas ainda incipientes, que isto mais acontece. Aí aplica-se o paradigma do “vale tudo” na linha do relativismo epistemológico radical de Feyerabend. Muito do que se diz ser "científico" nas universidades não passa de uma paródia de palavras ocas, uma fraseologia obtusa e pseudo-académica.

Isso dá azo a carreiras académicas que não são de facto carreiras de mérito; são antes processos de ascensão a patamares de poder crescente por via de tácticas e estratégias, recheadas de uma panóplia de truques e expedientes. E quando assim é, sendo o salto maior que a perna, é fundamental o jogo da propaganda - muitos eventos, aparecer o mais possível, contactos “internacionais”, fazer o nome circular das mais variadas formas, encomendar bajuladores de serviço para o elogio gratuito, traficar influências para obtenção de prémios e honrarias vãs... Tudo isto é um plano meticulosamente executado para cultivar a aura do susposto génio, "legitimando-se" assim o exercício da autoridade aristotélica: poder equivalente a autoridade científica. (São "génios" capazes de inconfessáveis patifarias no silêncio das catacumbas.)


Ora, à semelhança do marasmo atávico da filosofia e da ciência durante a Idade Média, por via do peso da tradição aristotélica, também hoje, as áreas de conhecimento onde imperam as lógicas de poder como processo de legitimação do saber, estão condenadas ao dogmatismo imune à realidade que supostamente seria o seu objecto de estudo. Desse ponto de vista, muito do que se observa na Educação é arrepiante: a prolixa e abundante peroração só pode ser a expressão da estagnação e da demagogia. Às veleidades da inovação e da diferença, os “homens doutos, hirtos, de toga e de capelo” encarregam-se de expurgar as ovelhas desalinhadas do rebanho; porque a inovação fecunda tira-lhes o chão de baixo dos pés, fazendo-os cair com estrondo do alto dos seus cadeirões.

Para que possamos ter uma visão superior, do alto da falésia, vale a pena ver e ouvir o Poema para Galileu, de António Gedeão, declamado pelo próprio em:

http://www.youtube.com/watch?v=PJTu5KM3UG4

Ou então ler:

Poema para Galileo
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.

Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.

sábado, 1 de maio de 2010

Stress crónico provoca alterações a nível cerebral?

Mensagem distribuída em toda a rede electrónica da Universidade do Minho, em início de Julho de 2009, em reacção à divulgação, na mesma rede, da notícia de publicação na revista Science de um artigo que relaciona o stress crónico, com alterações ao nível cerebral e os processos de decisão.

Caros colegas,

Permito-me a liberdade de interpretar a divulgação desta notícia de publicação de um trabalho científico, não só para nos dar conhecimento do mesmo, mas igualmente para nos abrir a oportunidade de fazermos algum tipo de consideração se para isso encontrarmos motivo bastante. O artigo relaciona o stress crónico, com alterações ao nível cerebral e os processos de decisão. Eu sou investigador educacional, e para compreender, investigar e intervir na aprendizagem e na formação, necessito de estudar, entre outros matérias, a cognição, a inteligência emocional, e mais recentemente as neurociências, designadamente os livros de António Damásio. Antecipo desde já que, a propósito do processo decisão inteligente, para uma melhor aprendizagem, é muito importante o tema da metacognição (a consciência por parte do aluno dos seus processos cognitivos e a consequente auto-regulação, direccionando-se a si próprio para melhores desempenhos).

Compreende-se assim que me tenha interessado pela notícia deste artigo. A leitura do resumo (não tive acesso ao full paper) apresenta-nos um estudo laboratorial com ratos, sem nenhuma referência aos seres humanos, no que diz respeito ao stress crónico, modificações cerebrais e processos de decisão. Todavia, na notícia que consta no Portal de informação on-line da UM não há uma só referência aos ratos [ http://umonline.uminho.pt/ModuleLeft.aspx?mdl=~/Modules/Eventos/EventoView.ascx&ItemID=2325&Mid=19&lang=pt-PT&pageid=8&tabid=3 ]

Aí se pode ler:

A demonstração de que o stress favorece decisões habituais tem impacto na etiologia de várias patologias neurológicas e psiquiatrícas, nomeadamente pertubações obsessivo-compulsivas e comportamentos aditivos. Contudo, as consequências deste achado ultrapassam os limites dos quadros patológicos, sendo relevantes para as nossas actividades diárias. O estudo permite compreender melhor quais os factores que influenciam os processos de tomada de decisão e, em particular, como a exposição prolongada ao stress afecta os circuítos cerebrais que determinam as nossas (menos boas) decisões, na medida em que decisões que normalmente teriam em linha de conta as respectivas consequências, passam a ser baseadas em hábitos. Assim, em última análise, esta descoberta abre novas perspectivas para a modulação dos processos de decisão.
(…)

O leitor jamais poderá imaginar que a notícia se refere a um estudo com ratos e só poderá pensar que tudo o que aí se diz se reporta aos seres humanos. Conhecendo o resumo do artigo, depreende-se que a notícia é uma (pelo menos aparente) extrapolação para os humanos, mas não se apresentam os fundamentos dessa extrapolação. Na notícia do Público de 31/07/09, há uma breve referência ao estudo laboratorial com ratos, mas essa extrapolação também lá figura.

Do que estudei e conheço, o processo de decisão no ser humano é indissociável do problema da consciência, atributo exclusivo do Homem no mundo animal. Segundo Damásio (2001), a neurobiologia da consciência enfrenta, pelo menos, dois problemas: o de como se constrói o “filme-no-cérebro” [as imagens de pessoas, lugares, melodias, relações, etc.] e o de como o cérebro constrói o sentido da existência de um proprietário e espectador para esse filme (O Sentimento de si, pg. 30).

É justamente porque o Homem é proprietário e espectador do seu próprio pensamento que os humanos podem auto-regular os seus processos mentais designadamente, nos processos de decisão. E a capacidade de espectador do próprio pensamento pode ser treinada e desenvolvida – é nisso que consiste oa promoção de competencias metacognitivas. Esta capacidade não está ao alcance das outras espécies animais, designadamente dos ratos, nos quais foram observadas alterações ao nível cerebral, resultantes do stress crónico a que foram sujeitos em laboratório.

Defraudado na expectativa suscitada com o anúncio da publicação, achei em consciência que devia aqui trazer este meu ponto de vista, bem como manifestar a minha grande perplexidade, face às extrapolações para os seres humanos, em aspectos tão específicos como "patologias neurológicas e psiquiátricas, nomeadamente pertubações obsessivo-compulsivas e comportamentos aditivos" a partir de uma experiência laboratorial com ratos. Na verdade não é possível vislumbrar o alcance e o propósito da notícia, tão amplamente divulgada, e ainda patente no portal de uma instituição científica, que é o caso de uma universidade.

Joaquim Sá
(Professor Associado – Instituto de Educação)

domingo, 25 de abril de 2010

Mutatis mudantis...

Diz Marinho Pinto:

Os juízes portugueses, enquanto titulares de poderes soberanos vitalícios, escolhem-se uns aos outros, avaliam-se uns aos outros, promovem-se uns aos outros, julgam-se uns aos outros e absolvem-se uns aos outros, sempre sem qualquer escrutínio democrático.[…] o que deslegitima os tribunais perante a sociedade é o facto de o poder judicial não se adaptar à democracia e ao Estado de direito.


http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1552802

Mutatis mutantis...

que havemos de dizer do hermético corporativismo e compadrio que bem se acoitam à sombra da virtuosa Santíssima Autonomia Universitária? Aí se atacam pessoas de forma cobarde, cruel e impiedosa transformando-as em farrapos humanos... e é tudo a "Bem da Nação".

sábado, 24 de abril de 2010

Falta de ética: um dado "natural" da vida!

Por Pacheco Pereira:

O economista estrangeiro
que nos pressagiou a bancarrota, (...) disse que estávamos num "estado de negação". Claro que estamos, mas talvez pior do que isso, seja a prisão interior num universo feito de tanta mentira que já não sabemos viver doutra maneira, já somos parte de uma mentira tão entrelaçada com as outras que não conseguimos ter sentido nem direcção.

http://jornal.publico.pt/noticia/24-04-2010/rede-de-mentiras-19260756.htm

É assim, entre nós... qualquer esboço de ética é a excepção e o seu contrário a norma. Isto pode parecer uma afirmação estranha porque estamos já tão familiarizados e adaptados à falta de ética que esta passou a ser um dado "natural" da vida ... Reagir contra essa ordem "natural" das coisas é uma excentricidade própria dos "loucos", que devem ser enviados em degredo para um qualquer Gulag.

domingo, 18 de abril de 2010

Estará a UM disposta a estudar o assédio moral intra-muros?

"O assédio moral mata, literalmente. (...) Que chefes são estes?" A percentagem de trabalhadores vítimas de assédio moral na Europa é em média de 3,5%; em Portugal é de 5,9%.

Ver reportagem da RTP:
http://ww1.rtp.pt/blogs/programas/linhadafrente/?k=ESCRAVOS-DO-PODER.rtp&post=5567

Os danos mais frequentes do assediado passam por cansaço exagerado, nervosismo, enxaquecas, distúrbios do sono, irritação permanente, ruminações constantes, perturbações da memória, tremores, hipertensão arterial, tristeza profunda, alteração da personalidade (com nota dominante para uma agressividade crescente), evitação de circunstâncias que tragam associações à tortura psicológica, inversão da escala de valores, pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio, desordens do aparelho digestivo, com eventual perda ou ganho consideráveis de peso, hipotético consumo de álcool ou drogas, dores de cabeça, musculares e na coluna, falta de confiança em si, projecção negativista do futuro, agravamento de enfermidades previamente manifestadas, angústia, ansiedade, mágoa, ressentimento, sentimento de fracasso, caos interior, vergonha, culpa, sensação de se ter sido traído(a) e de inutilidade, infelicidade genuína.

Na UM há assédio moral. Estará a UM disposta a estudar o assédio moral intra-muros, a avaliar as consequências e prejuízos que daí decorrem para as pessoas e a instituição, e a adoptar políticas de prevenção?

domingo, 11 de abril de 2010

O medo e a corrosão de carácter nas relações de trabalho

A propósito das tendências que se vão impondo no Ensino Superior, no Ensino Básico e Secundário, e na sociedade em geral, importa voltar às palavras autorizadas do psicanalista francês Christoph Dejours:

IHU On-Line - Que consequências traz o facto de trabalhar com medo e insegurança?
(...)
Enfim, outros [trabalhadores], que são mais bem protegidos contra as agressões físicas, têm medo, hoje em dia, de não atingir os objectivos de rentabilidade que lhes são impostos. Se as sanções em caso de insuficiência se traduzem pela demissão, compreende-se que o medo tenha lugar no trabalho ordinário. As consequências do medo são, em primeiro lugar, a perda do prazer de trabalhar e, em seguida, o desaparecimento da confiança nos colegas. Além disso, o medo dá lugar à agressividade, ao ódio, ao rancor etc. O medo faz sofrer. É preciso se defender. E as estratégias de defesa são difíceis de construir e manter. Quando elas são solidamente constituídas, porém, transformam profundamente a personalidade. É o que certos autores anglófonos chamam polidamente de “a corrosão do carácter ”.
(...)
IHU On-Line - Quais seriam os maiores medos do sujeito pós-moderno?

Christoph Dejours - O medo é mau conselheiro. Ele gera condutas de autodefesa que arruínam as instituições e violam o direito. Talvez o mais preocupante não seja o medo, mas, principalmente a falta de esperança de que a tendência possa se inverter. Nós não estamos mais em condições de transmitir a confiança, a esperança, o senso comum da justiça, a solidariedade, nem as regras de vivermos com nossos filhos. Nós só sabemos transmitir uma única coisa: o valor do dinheiro. Isso é insuficiente, no entanto, para constituir a base de uma cultura.

Ver entrevista completa em
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=7064&cod_canal=41

sábado, 10 de abril de 2010

A demagogia do poder concedido aos "delegados" da Associação Académica no CG

Uma outra dimensão daquilo que foi a inércia herdada [com a aplicação do RJIES] materializa-se no peso (e estatuto) que os estudantes têm nos órgãos de cúpula de algumas instituições, como é o caso daquela em que trabalho, onde ainda há dias se configurou a situação exótica do órgão se reconhecer refém do veto concedido aos estudantes seus membros em matéria de escolha do provedor do estudante, resultado de disposição consagrada em sede de assembleia estatutária. Daqui saiu que, em vez da academia ganhar um provedor dos estudantes, teremos muito verosimilmente um provedor da associação académica.

Cadima Ribeiro

Continua em http://universidadealternativa.blogspot.com/2010/03/das-intencoes-aos-factos-contributo.html

sexta-feira, 9 de abril de 2010

CANALHAS CONSAGRADOS???!!!!!

Para excercício de cargos públicos, funções de governo, cargos de chefia e direcção das organizações requer-se

"NOTÓRIO SABER E REPUTAÇÃO ILIBADA",

ou pelo contrário podem os titulares virar

"CANALHAS CONSAGRADOS"

que continuam sorrindo, impunemente, de forma angelical, na sua canalhice?

Veja o discurso de uma retórica brilhante, no conteúdo e na forma, inflamado de indignação, da deputada brasileira Cidinha Campos:

http://www.youtube.com/watch?v=G-SHAak_stc&feature=email

quarta-feira, 31 de março de 2010

"Suicidou-se outro professor"

"Não consigo viver neste sofrimento, não suporto ouvir falar de escola. Não vou conseguir dar mais aulas." Esta frase é extraída da carta que José António Fernandes Martins escreveu à mulher antes de se suicidar. Era professor de Matemática e Ciências da Natureza na Escola EB 2,3 de Vouzela e pôs termo à vida no início do presente ano lectivo. José António era um professor experiente, apaixonado pela sua profissão.

terça-feira, 30 de março de 2010

Criminalizar o bullying


A Ministra da Educação e o Ministro da Justiça acolheram bem a proposta do PGR de criminalizar o bullying, no âmbito da violência escolar: está em preparação uma iniciativa legislativa. http://www.publico.pt/Educação/tipificacao-de-bullying-como-crime-na-violencia-escolar-vai-avancar_1430170

Mas, já que se vai legislar, seria bom que se pensasse de uma forma mais profunda sobre a complexidade do bullying (assédio moral), em todas as suas formas de expressão na sociedade, incluindo a que é praticada por adultos contra adultos, para, por exemplo, impedir que o mérito de alguém se destaque da mediania ou mesmo mediocridade circundantes - a very typical portuguese practice! Desta estúpida ciumeira que destrói, sem olhar a meios, tudo o que possa elevar-se acima de um cinzentismo mesquinho, resulta um país.... muito desenvolvido... Especialmente em Educação estamos... muito bem..., porque a inovação avança com vigor, pelas escolas, pelas universidades, pelas empresas, por toda a sociedade... Viva Portugal e os verdugos da Inteligência!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ética, humanismo e economia

No Publico, 24/03/10

O economista César das Neves explica logo no início (...): “Ser boa pessoa, como todos sabemos, nunca é coisa que se consiga daquela forma que os executivos usam para conseguir as outras coisas. Por isso, não se pode resumir, simplificar, mecanizar”.

Num momento em que a crise financeira e económica faz salpicar milhares de vezes a palavra “ganância” por textos jornalísticos, ensaístos, humorísticos e de restante natureza; um trabalho sobre ética parece vir a propósito. Sobretudo quando nem todo os “Madoff” que pululuam pelo mundo estão numa barra de tribunal ou a caminho dela. César das Neves é claro: a ética não serve para atingir a perfeição, serve para ser boa pessoa. Isto é, com falhas e erros pelo caminho, o sucesso do empresário mede-se pela actuação no sentido de fazer o melhor possível
.

Comentário:
É bem um sinal dos tempos que seja um economista a debruçar-se sobre o tema da ética num livro de 574 páginas. Nas relações de trabalho, em muitas instituições e organizações, a falta de ética vai-se tornando a norma e pugnar pela ética é ser remetido à condição de excluído. Muita muita gente tenta dissimular a primazia dos seus poderes e interesses particulares, insinuando que é na ponta da chibata que está a elevada produtividade e o interesse geral. Os “Madoff”, não apenas desse ponto de vista, mas igualmente do ponto de vista da honestidade e transparência em todas as esferas de actuação, não se movimentam apenas no mundo das finanças e nas empresas... Os "Madoff" são todos aqueles que ocupando lugares de relevo em qualquer domínio de actividade, exercem as suas funções sem ética nem moral, corroendo desse modo o tecido humano e organizacional, com grave prejuízo para o desenvolvimento da actividade humana em que se movimentam. A ética, para além de um valor fundamental de uma sociedade humanista, é hoje mais do que nunca um problema da economia, no seu sentido mais lato. A tecnologia como valor supremo aliena o Homem e faz-nos regredir civilizacionalmente. É nos valores humanos fundamentais - a dignidade humana, a justiça, a liberdade, a solidariedade... - que teremos que retomar o processo civilizacional, libertando a criatividade, a imginação e a capacidade de sonhar do espírito humano, para fazer face à complexidade dos tempos que vivemos. Não se trata da "inovação" na sua vulgar conotação científico-tecnológica de que tanto se fala; é algo muito para além disso que o Homem de hoje precisa.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Professor vítima de bullying preferiu morrer ...

Notícia do Público

http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/professor-vitima-de-bullying-preferiu-morrer-a-voltar-ao-9%C2%BA-b_1426720

Luis não avisou ninguém do acto radical. Mas radicalizou, segundo a família e os colegas, os apelos junto da direcção da escola para que resolvesse a indisciplina, em particular naquela turma. Fez várias participações que não terão tido seguimento.
(…)
Alguns, sob anonimato, asseguram, tal como a família, que Luís era alvo de bullying e estava "profundamente desesperado e deprimido".
(..)
Outra aluna, a única que, no fim das aulas, ficava para trás para conhecer melhor o silêncio de Luís, lamenta a partida "prematura" e arrepende-se de não ter ficado mais tempo a conversar com ele. "Tive medo do que as pessoas podiam dizer se me aproximasse. Sinto-me muito mal por não ter ajudado mais. Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando sorria era outra pessoa."
(…)
A irmã descreve a profunda tristeza do professor nos últimos meses, ao longo dos quais "desabafou muito" com os pais, com quem ainda vivia. Nunca deu indícios do acto. Foram encontrados, depois da morte, no seu computador. "Se o meu destino é sofrer dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim - e não tendo eu outras fontes de rendimento -, a única solução apaziguadora será o suicídio." A frase encontrada não deixa dúvidas. Há vários desabafos escritos em alturas diferentes que convivem lado a lado com as participações…

Neste blog:
http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/sero-essas-pessoas-normais.html
http://liberdadeuminho.blogspot.com/2009/03/podem-passar-mil-anos.html
http://liberdadeuminho.blogspot.com/2010/02/o-assedio-moral-na-primeira-pessoa.html

quinta-feira, 11 de março de 2010

Resolver situações de ameaça, de conflito ou agressão

Notícia do Público
A ministra da Educação disse que apresentará em breve uma iniciativa legislativa específica para combater a ocorrência de fenómenos de “bullying” nas escolas portuguesas, dando aos directores de escola a possibilidade de "suspenderem preventivamente alunos que tenham provocado agressões”.

“Com essa decisão o aluno agressor poderá ser imediatamente afastado da situação de contacto com o aluno agredido. Queremos resolver rapidamente situações de ameaça, conflito ou agressão, sem prejuízo de medidas disciplinares que se instaurem no momento em que há este tipo de situações nas escolas”, apontou Isabel Alçada.

http://www.publico.pt/Educação/escolas-com-mais-poderes-para-suspender-agressores_1426619

terça-feira, 9 de março de 2010

A Avaliação de Desempenho dos Docentes: um contrato de (des)confiança?

Parnas enumera e comenta uma série de vícios e distorções que esta forma de avaliar [regular e subordinada ao critério da quantidade] está a disseminar pela sua comunidade científica, nomeadamente: incentiva a investigação superficial, incentiva a constituição de grupos de trabalho demasiado grandes em que os académicos mais seniores põem o seu nome nos artigos de todos os estudantes e jovens investigadores; incentiva a repetição; incentiva estudos pequenos e insignificantes; recompensa a publicação de ideias incompletas (half-baked). (…) E isto faz toda a diferença e é esta pressão que está a corromper o processo de publicação e a discussão verdadeiramente científica no seio da comunidade académica.
Teresa Alpuim

Este texto de Teresa de Alpuim (que teve divulgação universal nas listas da UM), apresentado num debate promovido pelo SNESup no Instituto Superior Técnico, é importante em qualquer altura, e é especialmente oportuno nestes dias que antecedem a implementação da Avaliação de Desempenho dos Docentes. Entra em profundidade no debate que importa travar, ao contrário de outros debates que não o chegam a ser, onde tudo o que é verbalizado está bem balizado nos estreitos limites da cultura institucional dominante, e muitos dos silêncios são a expressão do indizível que vai na mente das pessoas.

O número de Professores Catedráticos na UM é de 81 num total de 1153 (7%) e serão esses docentes os avaliadores. Tendo sido assinado recentemente um contrato de confiança entre a UM e o MCTES, é particularmente pertinente perguntar se a Avaliação de Desempenho dos Docentes será dentro da instituição um contrato de confiança ou um contrato de desconfiança.

O que vejo é uma generalizada inquietação e sentimento de impotência perante a avalanche avaliadora. Alguém expressava há dias o que lhe vai na alma nestes termos: “vamos passar a trabalhar com uma pistola apontada à cabeça”. As inquietações estão focadas em três aspectos essenciais: a) preocupação quanto ao futuro profissional individual; b) confusão quanto ao modo como saber conduzir-se neste novo quadro, de modo o poder “safar-se”; c) preocupação com o previsível agravamento das relações inter-pessoais (aumento de conflitualidade) e com a expectável degradação da atmosfera no contexto de trabalho.

No inquérito* que foi distribuído a todos os docentes da UM, em Maio de 2009, ao qual responderam 290 (25,1%), perguntava-se que percepção de importância têm, nas práticas da instituição, diferentes factores para efeito de progressão na carreira (escala: nada importante; pouco importante, importante, muito importante). Somadas as percentagens de importante e muito importante obtiveram-se os seguintes resultados: 1º - Actividade de investigação (89,4%); 2º- Pertença a grupos de influência (73%); 3º - Actividade de gestão (63%); 4º - Antiguidade na categoria/instituição (61,7%); 5º - Laços familiares ou de amizade (51,6%); 6º - Actividades de extensão (45,7%); 7º - Actividade de ensino (37,4%).

Naturalmente cabe perguntar se têm os docentes razões para acreditar que será de modo diferente na Avaliação de Desempenho.

Sobre a capacidade de gestão de conflitos, por parte das lideranças académicas, a soma das percentagens presente e muito presente é de 39,5% (pouco presente/nada presente: 60,5%). E na sua perspectiva pessoal, 96,7% dos docentes consideram ser importante/muito importante que as lideranças tenham essa capacidade. Ou seja, há uma percepção de conflitualidade muito acentuada e um forte desejo de que a mesma seja atenuada, por via da acção das lideranças.

Ainda sobre as lideranças académicas, apenas 39,2% consideram estar presente/muito presente o sentido de justiça no seu modo de actuação (pouco presente/nada presente: 68,4%); e 99% dos docentes consideram importante/muito importante que as lideranças actuem com sentido de justiça. Na caracterização do clima profissional, apenas 37,9% consideram estar presente/muito presente a justiça nas decisões sobre a profissão/carreira (pouco presente/nada presente: 62,1%) e 97,2% consideram importante/muito importante que haja justiça nessas decisões. Há uma forte percepção de injustiça e uma grande aspiração de que se pratique a justiça na UM, no que diz respeito às decisões sobre a vida profissional.

É neste quadro que estamos em via de avançar para aplicação da Avaliação de Desempenho, cuja proposta de regulamento em discussão, prevê a figura de recurso por parte do avaliado, quando discorde da avaliação. Todavia, nas respostas ao inquérito a que me tenho vindo a referir, apenas 27,5% consideram presente/muito presente a existência de instâncias de recurso fiáveis (pouco presente/nada presente: 72,5%); em contraste, 91,1% dos docentes considera importante/muito importante a sua existência. Esta percepção dos docentes não pode deixar de colocar em situação muito crítica a desejável credibilidade de que o recurso, no âmbito da Avaliação de Desempenho, possa efectivamente funcionar no sentido da reparação das injustiças que venham a ocorrer.

Estas são as percepções de um número muito significativo de docentes da UM, expressas na segurança e tranquilidade que o preenchimento de um inquérito anónimo garante. O seu significado é uma realidade incontornável na vida da academia, por mais esforços que se façam para reduzir a nada os sentimentos profundos das pessoas. Precisamos todos de nos compenetrar da necessidade de fazer algo para melhorar este panorama geral de insatisfação. Os decisores sobre a Avaliação de Desempenho devem interrogar-se seriamente se o passo que vamos dar vai contribuir para o agravamento desta situação. Se for essa a direcção, nada de bom poderá resultar para a vida das pessoas, para a qualidade do ensino e da investigação e para a instituição em geral. A qualidade do ensino está fundamentalmente no ser professor (é possível produzir evidências) e a qualidade da investigação é produto do pensamento e reflexão profundos.

É preciso dissipar os sentimentos que tolhem o pensamento, a criatividade e o entusiasmo das pessoas no trabalho. É necessário garantir que a selecção dos avaliadores seja muito criteriosa; deverão ser pessoas íntegras, com uma conduta académica eticamente irrepreensível aos olhos de todos. Essa é uma condição fundamental para gerar o indispensável sentimento de confiança dos docentes face ao processo de avaliação de que vão ser alvo.

*Projecto de investigação Representações da Vida Académica – um estudo na Universidade do Minho, inscrito no CIEd.

Joaquim Sá

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Fernando Nobre a Presidente da República!

Compreendo bem o "imperativo moral, de consciência e cidadania" que anima Fernando Nobre nesta sua decisão de se candidatar a Presidente da República.
http://www.publico.pt/Política/nobre-avanca-para-belem-a-margem-partidos-e-pelos-que-nao-tiveram-voz_1423561

A postura que tenho tido no meio académico e, em particular na Universidade do Minho, não é um compartimento estanque do modo como vejo a situação social e política do País: as marcas do tempo que caracterizam o país estão dentro da universidade.

Fernando Nobre diz no anúncio da sua candidatura:
“Sou contra o sufoco partidário da vida pública”…

Eu digo:
Sou contra o sufoco, a opressão e a injustiça em que muita gente vive nas universidades.

Fernando Nobre diz que:
O seu espaço político, “mais do que definido à esquerda, à direita ou ao centro” é “o da liberdade, da justiça, do humanismo, da ética, da solidariedade, da transparência na vida pública e da adequada, justa e indispensável função redistribuitiva do Estado.

Eu digo:
Há gente dita de esquerda, “democrática”, de conduta totalitária para com os seus colegas, que se constituem em grupos de poder universitário para aceder a e distribuir privilégios. O meu lugar é o de um trabalho comprometido com problemas da educação e o da luta pela liberdade de expressão e a participação académicas; é ainda o lugar da luta pela justiça, pela ética e a transparência, não em forma de palavras do que “parece bem” ser dito, mas na acção do quotidiano.

Fernando Nobre diz:
(…) ter consciência que “esta será uma batalha difícil, talvez até invencível, mas não será nunca inútil”: A luta contra a indiferença sempre foi e será a minha marca individual”.

Eu digo:
A minha postura académica e a luta que tenho travado têm sido muito duras, no plano pessoal e profissional, mas não podia ser outro o meu caminho face às cricunstâncias. Continuarei a lutar contra o conformismo e a indiferença e isso continuará a ser útil.

Fernando Nobre diz:
“É a hora de acreditar em Portugal (…) Convido-vos a todos para esse combate em nome dos nossos filhos e netos. Em nome da esperança em nome do ‘Acreditar em Portugal’”.

Eu digo:
É hora de acreditar que é possível uma universidade melhor, onde as pessoas sejam mais felizes no trabalho, e onde possam dar um contributo mais relevante para o progresso e desenvolvimento do País. Só um universidade livre e justa poderá render todo o seu potencial ao serviço da sociedade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Uma Comissão de Ética no âmbito do Conselho Geral

Falo por experiência vivida, por conhecimento directo de outras situações e pelo que li e estudei...

O fenómeno de assédio moral ou mobbing é muito mais comum do que se pensa nas empresas e instituições, designadamente nas universidades: tem sido silenciado. Este fenómeno psico-social entre adultos não é fácil de reconhecer e compreender, nem pela vítima nem pelos que observam de fora o desenrolar dos factos. Desde logo, porque o carácter persecutório dos actos praticados contra o sujeito-alvo de assédio é negado até à exaustão, e as pessoas são manipuladas pelas versões dominantes postas a correr pelo agressor: enquanto a maldicência corre com todo o à vontade, em todos os forum em que o visado não está presente, este não imagina tal orquestração, vindo a surpreender-se mais tarde com a difamação da qual não teve qualquer oportunidade de se defender (a desproporção de meios é muito grande). Por outro lado, é muito difícil aceitar-se e admitir-se que quem goza de estatuto e poder supostamente respeitáveis, tenha os propósitos tão pouco nobres do assédio moral (mas, na verdade, a combinação de vícios privados/públicas virtudes é muito comum). E o estatuto de poder e pretensa superioridade permite o uso de uma falsa e sibilina comiseração (coitado, vejam lá... é uma pena!), para tudo ser mais convincente. Assim, facilmente se dá crédito à tese do agressor, segundo a qual os vários incidentes provocados em torno de uma determinada pessoa, “demonstram” que o problema é essa pessoa. Por outro lado, dar esse crédito, mesmo quando se tem evidência do contrário, é mais "apaziguador", quer no plano individual, quer no plano do grupo institucional que é dominado pelo agressor.

É preciso conhecer o fenómeno cientificamente para discernir com clareza e não vacilar na pressão para um juízo que interessa ao agressor (sugiro a leitura de um pequeno artigo de 9 páginas: http://www.mobbingportal.com/LeymannV&V1990(3).pdf ). Esse distanciamento não é fácil e só o fará quem não esteja sob domínio do agressor e não seja parte interessada de forma directa ou indirecta no processo de assédio. Manter o discernimento e afirmá-lo exige energia e coragem; em contraste a aceitação da versão do agressor corresponde à "ordem natural das coisas" estabelecidas. O sentimento geral é a indiferença. Há quem consiga reconhecer a injustiça de que é alvo a vítima, mas com o passar do tempo, e não se vislumbrando uma solução justa, deixa-se cair essa perspectiva, com a qual não é confortável conviver.

Quando a escalada vai subindo de intensidade e o visado não consegue discernir o que se está a passar consigo, está perdido. Porque se impõe de fora, ao assediado, um retrato negro de si próprio, que nega tudo o que ele pensa de si. A partir de dada altura já ninguém lhe devolve, no contexto de trabalho, o reconhecimento de qualidades humanas, pessoais e profissionais. No olhar, nos silêncios e nas atitudes, só lhe devolvem o retrato negro que o agressor montou e difundiu; nada do que faz tem valor algum. Isso tem um efeito psicologicamente devastador. Fica-se impotente para dar a volta a isto... é o desespero.

Por isso, eu tinha que compreender o que se estava passar, fiz pesquisas e estudei o fenómeno e consegui a partir de dada altura ter um discernimento claro. Isso foi fundamental para resistir durante tantos anos. Levantei-me uma, duas, três, quatro vezes... tentando erguer projectos e retomar uma vida académica normal, mas de todas as vezes havia um novo golpe para me derrubar. Quando depois de todas as tentativas de anulação, se lança mão de um requerimento para me submeterem a uma Junta Médica, com o propósito de que eu seja dado como desequilibrado mental, não é possível resistir mais ao impulso de extermínio nazi - a Inspecção Geral do Ensino Superior constatou a farsa, mas nada pôde fazer em nome da sagrada autonomia universitária. Depois disso, já não existem forças nem motivação, e está gravado na minha mente o condicionamento de que a um novo esforço se seguirá um novo revés.

Por isso, não sei se devo rir... ou chorar... com essa coisa da avaliação de desempenho dos docentes. Rir ... pelo ridículo de tomar a sério a aplicação dessa grelha a quem é massacrado para ser profissionalmente aniquilado; chorar.. pelas consequências dessa avaliação, levada a sério. Não sei se rir ou chorar ainda, mediante o cenário provável de essa avaliação poder ser um instrumento nas mãos de agressores, que dificultando o trabalho do assediado, vêm mais adiante, aplicar-lhe a grelha da avaliação para o declarar incompetente: uma obra-prima da PERVERSÃO.

É preciso trazer a público um problema silenciado que afecta muita gente, nestes tempos de acelerada desumanização. Há pessoas que foram varridas, outras que não aguentaram e tiveram que sair, e há muitas pessoas a serem remetidas a um canto, onde vivem em completo isolamento, em péssimas condições para a sua saúde mental, no contexto laboral. Sei-o pelo que observo, sei-o porque um número significativo de colegas trocaram comigo mensagens privadas, uns procurando ajudar-me com a sua experiência, outros pedindo conselhos e ajuda; sei-o porque me relataram as suas situações, as situções de outros e me falaram do clima profissional em que vivem. Encontrei-me pessoalmente com algumas dessas pessoas.

O Conselho Geral, que tem no âmbito das suas competências a possibilidade de adoptar iniciativas com vista ao melhoria do funcionamento da UM, deveria prestar atenção a este problema. Sugiro que o CG crie um Comissão de Ética que seja capaz de fazer um levantamento sério da situação e que proponha políticas apropriadas de remediação.

Para mais informação:
http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/sero-essas-pessoas-normais.html

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O que os agressores não conseguem imaginar!

Christophe Dejours deu uma entrevista ao Público que suscita séria reflexão sob vários pontos de vista. Apresento aqui alguns excertos acompanhados de algumas notas pessoais que emergem da experiência de assédio moral a que tenho resistido, ao longo de muitos anos. As consequências desse processo sobre mim são devastadores em todos os aspectos da minha vida.
http://www.publico.pt/Sociedade/um-suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal_1420732

Christophe Dejours, psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental. Esteve há dias em Lisboa, onde, […] falou do sofrimento no trabalho. Não apenas do sofrimento enquanto gerador de patologias mentais ou de esgotamentos, mas sobretudo enquanto base para a realização pessoal. Não há “trabalho vivo” sem sofrimento, sem afecto, sem envolvimento pessoal, explicou. É o sofrimento que mobiliza a inteligência e guia a intuição no trabalho, que permite chegar à solução que se procura. [Mas acrescenta] que no outro extremo da escala, nas condições de injustiça ou de assédio que hoje em dia se vivem por vezes nas empresas, há um tipo de sofrimento no trabalho que conduz ao isolamento, ao desespero, à depressão. No seu último livro, publicado há uns meses em França e intitulado Suicide et Travail: Que Faire? , Dejours aborda especificamente a questão do suicídio no trabalho, que se tornou muito mediática com a vaga de suicídios que se verificou recentemente na France Télécom.
(…)
Christophe Dejours conta que em 2006-207 Houve cinco suicídios consecutivos; quatro atiraram-se do topo de umas escadas interiores, do quinto andar, à frente dos colegas, num local com muita passagem à hora do almoço. Mas um deles – aliás de origem portuguesa – não se suicidou no local do trabalho. Era muitíssimo utilizado pela Renault nas discussões e negociações sobre novos modelos e produção de peças no Brasil. Foi utilizado, explorado de forma aterradora. (…) A dada altura, teve uma depressão bastante grave e acabou por se suicidar.

A viúva processou a Renault, que em Dezembro acabou por ser condenada por “falta imperdoável do empregador” [conceito do direito da segurança social em França], por não ter tomado as devidas precauções. Foi um acontecimento importante porque, pela primeira vez, uma grande multinacional foi condenada em virtude das suas práticas inadmissíveis. Os advogados do trabalho apoiaram-se muito nos resultados científicos do meu laboratório. O acórdão do tribunal tinha 25 páginas e as provas foram consideradas esmagadoras. Havia e-mails onde o engenheiro dizia que já não aguentava mais – e que a empresa fez desaparecer limpando o disco rígido do seu computador. Mas ele tinha cópias dos documentos no seu computador de casa. A argumentação foi imparável.

Nota pessoal: Eu, há muitos anos percebi que tinha que organizar bem a minha defesa face ao plano que se orquestrava contra mim. Tenho um imenso dossier, recheado de provas irrefutáveis, do qual fazem parte variadíssimas queixas e participações envidadas para todas as entidades internas e externas que entendi serem competentes para lhes dar o devido encaminhamento… sem consequências; um argumento recorrente para nada se fazer tem sido a famigerada "autonomia"... da universidade, da escola, do departamento. Os prevaricadores continuam cínicos na sua impunidade.

Público: Mas o assédio no trabalho é novo?
C.D. Não, mas a diferença é que, antes, as pessoas não adoeciam. O que mudou não foi o assédio, o que mudou é que as solidariedades desapareceram. Quando alguém era assediado, beneficiava do olhar dos outros, da ajuda dos outros, ou simplesmente do testemunho dos outros. Agora estão sós perante o assediador – é isso que é particularmente difícil de suportar. O mais difícil em tudo isto não é o facto de ser assediado, mas o facto de viver uma traição – a traição dos outros. Descobrimos de repente que as pessoas com quem trabalhamos há anos são cobardes, que se recusam a testemunhar, que nos evitam, que não querem falar connosco. Aí é que se torna difícil sair do poço, sobretudo para os que gostam do seu trabalho, para os mais envolvidos profissionalmente.

Nota pessoal: Por experiência própria, eu posso testemunhar que é exactamente assim; é terrivelmente doloroso ver quase toda gente fugir... Isso é orquestrado de forma a poder-se difundir um argumento adicional: é ele o problema e não todos os outros. Deixei de suportar estar no meu gabinete de trabalho (os comentários e gargalhadas de escárnio eram insuportáveis), refugiei-me em casa e finalmente pedi para mudar de gabinete para outra área. Foi a natureza do meu trabalho e o empenho que nele eu pus que ameaçou poderes instalados e colocados no lugar errado. Eu investiguei os processos de aprendizagem das crianças trabalhando com elas, na sala de aula, durante muitas centenas de horas. Quantos universitários da educação o fazem? Em variadas publicações tenho dado testemunho do fascínio que sobre mim exercem o potencial criativo e de aprendizagem das crianças e tenho sublinhado quão pouco lhes é dado aprender face ao muito que está ao alcance delas[ http://geniociencia.blogspot.com/ ].

Público: Qual é o perfil das pessoas que são alvo de assédio?
C.D. São justamente pessoas que acreditam no seu trabalho, que estão envolvidas e que, quando começam a ser censuradas de forma injusta, são muito vulneráveis. Por outro lado, são frequentemente pessoas muito honestas (…). Portanto, quando lhes pedem coisas que vão contra as regras da profissão, (…) recusam-se a fazê-las. (…) E em vez de ficarem caladas, dizem-no bem alto. Os colegas não dizem nada, já perceberam há muito tempo como as coisas funcionam na empresa, já há muito que desviaram o olhar. Toda a gente é cúmplice. Mas o tipo empenhado, honesto e algo ingénuo continua a falar. Não devia ter insistido. E como falou à frente de todos, torna-se um alvo. O chefe vai mostrar a todos quão impensável é dizer abertamente [certas] coisas…

Um único caso de assédio tem um efeito extremamente potente sobre toda a comunidade de uma empresa. Uma mulher está a ser assediada e vai ser destruída, uma situação de uma total injustiça; ninguém se mexe, mas todos ficam ainda com mais medo do que antes. O medo instala-se. Com um único assédio, consegue-se dominar o colectivo de trabalho todo. Por isso, é importante, ao contrário do que se diz, que o assédio seja bem visível para todos. Há técnicas que são ensinadas, que fazem parte da formação em matéria de assédio, com psicólogos a fazer essa formação.

Nota pessoal: É evidente que acredito muito no meu trabalho; é evidente que nunca fui cúmplice com o que repugnava à minha deontologia científico-académica. Eu teria que renunciar a tudo aquilo em que acreditava de forma convicta e isso era anular-me, não o podia fazer. É evidente que a forma como tenho sido tratado serviu de “exemplo” para muita gente. O medo de uns e o corporativismo de outros, no topo da hierarquia, deixou campo aberto para que tudo pudesse acontecer. Foi até possível que, há cerca de um ano, uma directora apresentasse um requerimento, que foi enviado para a Inspecção-Geral do Ensino Superior, para me submeterem a uma Junta Médica para que eu fosse dado como desequilibrado mental. A Inspecção fez as suas averiguações e nem deu importância a solicitação tão sórdida, mas perante a minha indignação pelo “diagnóstico” gratuito, foi-me sugerido que no final consultasse o processo e poderia extrair cópias para me defender noutras instâncias. Desloquei-me a Lisboa e foi o que fiz. Alguém consegue imaginar o sofrimento psicológico a que está sujeita uma pessoa que é rotulada de "louco", como expediente para ser eliminado profissionalmente, e ver esse processo assumir foros de uma acção institucional?

Público: Voltando ao perfil do assediado, é perigoso acreditar realmente no seu trabalho?
C.D. É. O que vemos é que, hoje em dia, envolver-se demasiado no seu trabalho representa um verdadeiro perigo. Mas, ao mesmo tempo, não pode haver inteligência no trabalho sem envolvimento pessoal – sem um envolvimento total. Isso gera, aliás, um dilema terrível, nomeadamente em relação aos nossos filhos. Se as pessoas se suicidam no trabalho, não podemos dizer aos nossos filhos, como os nossos pais nos disseram a nós, que é graças ao trabalho que nos podemos emancipar e realizar-nos pessoalmente.

Nota pessoal: Nunca vi ninguém profissionalmente desleixado, encostado ao poder ter qualquer problema. Pelo contrário, tenho visto gozarem de favores a troco de serem mais uma espingarda apontada ao “inimigo”. Só quem não acredita e não se entusiasma com o que faz pode desprender-se da ética inerente ao seu trabalho, para se deixar instrumentalizar ao serviço dos desígnios de poder de um chefe. Mas é trágico que o apego e a paixão por um trabalho sejam a armadilha que nos coloca à mercê de um tratamento humano ignóbil.

PS. Acho que me equivoquei no título deste post... O cidadão comum não consegue... mas os agressores conseguem imaginar o sofrimento que causam, pois procuram esse resultado deliberadamente. Têm é uma friesa e insensiblidade que os habilita para esse "trabalho".


Ver ainda:

http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/sero-essas-pessoas-normais.html


http://liberdadeuminho.blogspot.com/2009/03/podem-passar-mil-anos.html

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Eleição do Presidente do Instituto de Educação

O Conselho do Instituto de Educação procedeu, em reunião realizada hoje, dia 29 de Janeiro de 2010, à eleição do seu Presidente.

Do escrutínio resultou a eleição, por unanimidade, do Professor Doutor Leandro da Silva Almeida.

Os resultados eleitorais serão remetidos para homologação superior.

A Comissão Eleitoral felicita o candidato eleito.

O Presidente da Comissão Eleitoral

Prof. Doutor Luís de Miranda Correia
(Professor Catedrático)

sábado, 23 de janeiro de 2010

À atenção do Conselho Geral: um provedor para todos e quaisquer membros da academia.

Provedores de ética nas empresas avaliam conduta de trabalhadores
Por Ana Rute Silva (Público, Agosto de 2009)

A Brisa foi a mais recente empresa a nomear um provedor. Desde que a EDP criou o cargo, em Fevereiro (2009), já foram feitas 30 queixas
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Desde que, em Fevereiro, assumiu as funções de provedor de ética da EDP Carlos Alberto Loureiro, 63 anos, já recebeu cerca de 30 reclamações. Destas, quatro avançaram para "processos éticos". A maior parte das queixas feitas pelos trabalhadores da eléctrica incidem sobre as relações laborais. "Têm a ver com a conduta no ambiente de trabalho, relações com a hierarquia, colegas", revelou Carlos Loureiro, acrescentando que, "de forma global, prendem-se com o reconhecimento do trabalho" e com comportamentos internos menos correctos.

O ex-secretário de Estado da Administração Interna de Cavaco Silva (1991-1995), que fez carreira na EDP em Portugal e no Brasil, tem como missão receber as reclamações, analisar as denúncias - pode pedir pareceres jurídicos - e levar (ou não) o caso ao comité de ética da empresa, dirigido por António Mexia, presidente da EDP. Caso este órgão entenda ter existido alguma infracção ao código de ética, pode ser instaurado um processo disciplinar. Não há queixas anónimas e o prazo para a resolução das denúncias, caso sejam consideradas relevantes, é de seis meses.
(…)
A Brisa foi a mais recente empresa a nomear um provedor para resolver os dilemas internos. Em Junho, o economista Daniel Amaral, que fez quatro mandatos na administração da concessionária de auto-estradas, foi convidado a assumir o cargo por ter um "conhecimento profundo do funcionamento da empresa e uma larga experiência na área de recursos humanos", refere fonte oficial da Brisa.
(…)
Para especialistas como Michael Hoffman, director executivo do Centro de Ética nos Negócios, no Bentley College, a função do provedor não será desempenhada da melhor forma enquanto estiver na alçada dos órgãos de gestão. Hoffman, que defende a integração do provedor no conselho de administração, sustenta que uma das suas tarefas é vigiar as decisões de gestão do presidente executivo.

A nomeação de alguém para assumir o cargo também deve ser cuidadosa. "Se a direcção de uma empresa nomear alguém da sua exclusiva confiança, alguém do seu agrado, deparar-se-á com um muro de silêncio e de indiferença", avisa Olgierd Swiatkiewicz, professor na Escola Superior de Tecnologia de Setúbal e autor do estudo Dimensão ética da conduta das Empresas e dos Trabalhadores. O eleito terá de ter "reputação impecável" para que os funcionários não temam represálias. Na lista de problemas relatados, podem incluir-se o suborno, a fraude, o assédio sexual, ou a corrupção. Mas Mário Parra da Silva lembra que a ética das empresas "não se estabelece por decreto". E avisa que divulgar a existência de um provedor pode até ser "ridículo". "A organização deverá deixar o juízo sobre a sua conformidade ética a outros e ser discreta nessa matéria", defende.

Comentário:

Caros membros do Conselho Geral estes bons exemplos sugerem que é chegado o tempo de olhar de frente o problema da ética no seio da UM (em certos casos é a mais elementar decência moral que está ausente). A figura do Provedor do Estudante não deverá ser mais um capítulo de um populismo demagógico face aos estudantes, que se instalou nesta Universidade (algo deseducativo e com consequências negativas sob outros pontos de vista). Em tempos, sendo eu Assistente, fiz parte do Senado, e sempre que tentava expressar um ponto de vista dissonante do tom laudatório de então, de imediato alguém poderoso me "punha no lugar", remetendo-me eu depois ao silêncio (acabei por pedir a demissão). Mas quando os os estudantes pediam a palavra, eram ouvidos com uma deferência tal que o seu à vontade e jorrante oratória contrastava com o silêncio e constrangimento de muitos docentes. Ora, face à perfídia que atinge funcionários e docentes, justifica-se plenamente um provedor que se preocupe não apenas com os estudantes mas com todos e quaisquer membros da academia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Avaliação do ensino on line, por que não?

Por estes dias aquando da avaliação do ensino ministrado de dois docentes, numa UC com 75 alunos, com formulários para as aulas e outros tantos para as orientações tutórias (300 ao todo), uma aluna fez este interessante comentário:

Ó Professor a UM está a ser muito pouco ecológica, está a gastar muito papel nestas avaliações. Já era tempo de se fazer isso on-line, no computador.

Aqui fica a sugestão e a minha promessa de por estes dias escrever sobre a avaliação do ensino. Deixo desde já uma questão: quais são realmente os objectivos dessa avaliação? Gostaria de ver isso escrito.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Que possibilidades de defesa de baixo para cima?

A propósito da figura de Provedor do Estudante em discussão no CG, escreve Jaime Gomes:

Face aos atropelos que muitos professores e funcionários da UM se queixam de que foram vítimas nos últimos anos, pergunto: porque não alargar essa função a todos os cidadãos da UM, sejam alunos, professores ou funcionários? Não será a forma de resolver todas as injustiças, mas seria uma forma mais expedita de certos assuntos não terem que ir à justiça dos tribunais que por norma não resolvem nada, tal é a morosidade com que tratam qualquer queixa. Afinal há processos disciplinares dirigidos a professores e funcionários, de cima para baixo, mas não há a possibilidade de processos de defesa, de baixo para cima, de queixas de funcionários ou professores contra os atropelos de que muitas vezes são vítimas por parte dos seus superiores.

Recomendo a leitura do texto completo em
http://www.pralemdazurem.blogspot.com/

Meu comentário:
É inequívoco que os docentes e funcionários que se situam na zona do elo mais fraco da cadeia hieráquica, e que cumulativamente não quiseram ou não puderam anichar-se à sombra protectora de grupos de poder, são os que estão mais susceptíveis a serem alvo de injustiças. E porque a “justiça dos tribunais por norma não resolve nada”, e internamente a acção disciplinar olha apenas para baixo e nunca atinge certos personagens que se colocam acima da lei, a instituição tende a colocar-se fora do Estado de Direito. É absolutamente necessário que a nova equipa reitoral e o Conselho Geral dêem sinais claros de que alguma coisa mudou.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma ideia de vivência académica no Instituto de Educação

Eis algumas das ideias que acolheram o voto favorável de quase 40% dos docentes do Instituto:

O IE só poderá realizar a sua missão e objectivos se zelar pela concretização dos princípios que proclama e conseguir criar um clima social de bem-estar, de elevada motivação das pessoas e que ofereça oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

Um estudo realizado, ao longo de 22 anos, sobre as causas de esgotamento de milhares de pessoas nas organizações (Leiter & Robichaud, 1997) identificou seis factores de desmoralização e desmotivação no contexto trabalho: 1. Carga de trabalho excessiva; 2. Falta de autonomia (cumprir orientações rígidas, sem direito de opinião sobre as melhores formas de fazer o trabalho); 3. Ser mal pago por muito trabalho; 4. Isolamento e perda de sentido comunitário; 5. Injustiça; 6. Conflitos de valores (contradição entre aquilo em que a pessoa acredita e o que lhe é exigido no trabalho).

Considerando que, em maior ou menor grau, estes factores estão presentes no IE e devem ser combatidos, e acreditando nos princípios consagrados nos seus Estatutos, pugnaremos por uma cultura institucional que melhore a qualidade da nossa vivência académica. Essa cultura tem regras:

- Todos os membros da comunidade do Instituto (funcionários e docentes, qualquer que seja a categoria) são iguais perante a lei e a todos é devido um tratamento pessoal digno e respeitoso.

- O poder de órgãos e pessoas rege-se pelo estrito respeito da legalidade, da transparência e da submissão ao escrutínio crítico, sempre que se justifique. Em caso de injustiça ou ilegalidade, são asseguradas instâncias de recurso fiáveis e credíveis.

- As decisões sobre a vida profissional das pessoas obedecem a metodologias e critérios transparentes que asseguram a justiça das mesmas, sem favorecimento de uns em prejuízo de outros.

- A todos é assegurado o direito de livre participação, sem penalização ou benefícios na vida profissional em função da natureza dessa participação.

- A comunidade do IE é una, não é um território fragmentado em compartimentos estanques e fechados sobre si próprios.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tomada de posse do Conselho do Instituto de Educação

O Reitor da UM deslocou-se hoje ao Instituto de Educação para dar posse aos membros do respectivo Conselho. É a seguinte a sua composição:

Directores dos Departamentos
- Prof. Doutor Manuel José Jacinto Sarmento Pereira
- Prof. Doutor Bento Duarte Silva
- Prof. Doutor José António Brandão Soares Carvalho
- Prof. Doutor Luís Augusto Miranda Correia
- Profª Doutora Maria Beatriz Ferreira Leite Oliveira Pereira

Directores dos Centros de Investigação reconhecidos pelo sistema científico nacional
- Prof. Doutor José Augusto Brito Pacheco
- Profª Doutora Ana Maria Tomás Almeida

Representantes dos Estudantes
- António Ferreira da Cunha - 1º ciclo
- Ivo André Cavaco Barbosa - 2º ciclo
- Márcia Barbosa Aguiar - 3º ciclo

Representante do pessoal não docente e não investigador
- Dr. José Emílio Palmeira

Professores e investigadores doutorados, eleitos de entre os seus pares, correspondente às vagas remanescentes
- Prof. Doutor Carlos Aberto Vilar Estêvão
- Profª Doutora Isabel Flávia Gonçalves Fernandes Ferreira Vieira
- Doutora Maria João Silva Ferreira Gomes

Comentário:
Os representantes dos Professores e Investigadores são "as vagas remanescentes", em número de 3, o mesmo número que o dos representantes dos alunos; esta situação é única em toda a UM, como já sublinhei.

Fica-me uma importante interrogação:

- será que as pessoas que de forma tão esforçada - como ficou patente aos olhos de todos - promoveram a mobilização dos docentes e introduziram ideias e alguma pluralidade neste processo de constituição do IE, terão motivação suficiente para repetir esse esforço, a troco da eleição de um só membro da lista, quando de acordo com as regras vigentes nas outras Escolas da UM elegeriam pelo menos 4?

Criámos um forum de troca de ideias, fizémos várias reuniões, preparámos e divulgámos 4 textos que apontavam uma visão estratégica para o Instituto, distribuímos um folheto de campanha com a síntese das ideias e, em contraste, a candidatura do status quo instalado limitou-se a apresentar os nomes. Alguém pode acreditar que o Instituto beneficia com a liquidação da expressão desta vontade?

Evitar a eliminação de uma corrente de pensamento que ao apresentar-se pela primeira vez acolheu quase 40% dos votos, passa pela revisão dos Estatutos que ao Conselho cabe realizar. Outra coisa não se pode esperar da Escola da UM onde mais se fala em democracia, educação cívica, cidadania, etc. Para que isso deixe de ser uma mera retórica instrumental, peça do "politicamente correcto" para fins de conquista e preservação do poder.

domingo, 10 de janeiro de 2010

A avaliação "interna" dos professores: os custos, os benefícios e as alternativas

O modelo de avaliação de professores que vem sendo discutido desde há 4 anos, mantém no actual acordo entre Ministério e Sindicatos parte significativa dos seus aspectos anteriores. Uma das minhas grandes reservas sempre foi a de saber se uma avaliação inter-pares poderá ser justa, promotora de um clima de colaboração e de bom relacionamento entre os professores, de modo a resultar em efectivo benefício da qualidade do ensino e das aprendizagens.

Não é isso que se tem visto no ensaio já efectuado com o modelo anterior. Há sinais de revolta e indignação por parte de professores experientes e dedicados que se sentem humilhados por colegas sem perfil pedagógico, exercendo funções de chefia burocrática, que não perderam tempo e a oportunidade de mostrarem "quem manda", usando o poder da avaliação. Uma forte componente de avaliação externa parece ser essencial não só para evitar fenómenos desta natureza, mas também para que as diferenças de mérito resultantes da avaliação não sejam imputadas pelos professores como "injustiças" praticadas pelos colegas, o que contribuiriria para a degradação do relacionamento no seio da classe. Lídia Jorge, em depoimento ao Público (10/01/10), suscita de certo modo essa questão:

[...] este acordo histórico ainda não terminou. Ele só ficará selado quando Isabel Alçada verificar a que professores, durante estes dois anos, foram atribuídas as notas de excelente, e tirar daí as suas conclusões. Talvez resolva anular os seus efeitos. É que os professores duma escola constituem uma família. Experimentem criar um escalão de avaliação entre os membros duma mesma família que se autovigia. Sobre os métodos de avaliação desejo a Isabel Alçada e aos sindicatos muitas noites de boa maratona.

Alguém de fora da "família" deverá ter um papel importante na avaliação. Do meu ponto de vista essa componente de avaliação externa deverá envolver as instituições de formação.

Outro aspecto que se me afigura muito problemático é o da exigência de observação de aulas. Por mais atributos de objectividade que se pretendam imputar a esse método de avaliação, será sempre uma situação isolada e artificial, e por esse motivo aquele momento é susceptível de contingências que podem afectar o desempenho naquele dia e hora. Acresce tratar-se de um processo muito trabalhoso, logo, bastante caro, e perturbador da vida das escolas.

Eu avalio intervenções pedagógicas de alunos meus, da formação inicial, da formação contínua e de pós-graduação através de diários de aula (narrativa da aula), método sobre o qual eles recebem formação previamente. Nesse método um professor pode revelar-se um investigador do seu próprio ensino. O leitor poderá ficar melhor elucidado sobre o que é um diário de aula consultando alguns posts do blog http://geniociencia.blogspot.com/ .

Vão já muitos anos de experiência e a validade e a consistência do método têm sido comprovados. Um ou dois diários de aula e a sua discussão com o avaliador dispensaria a maratona de milhares de horas de aula a assistir.

P.S.
Defendo o mesmo para a avaliação da componente de ensino na carreira do Ensino Superior. Dos processos de concurso, de provimento e Provas de Agregação deveriam constar alguns "retratos" vivos de aulas lecciondas pelo docente.