quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que valem as ideias na construção do novo Instituto de Educação?

A lista A, de que fiz parte, candidata à eleição dos representantes dos Professores e Investigadores ao Conselho do Instituto de Educação da UM, defendeu uma visão geral do Instituto em torno de três eixos fundamentais:

- A relevância social da actividade académica educacional

- A promoção de uma Educação transformadora
- A criação de uma atmosfera institucional de bem-estar

Sobre a necessidade de elevar a relevância social da actividade académica em Educação apresentámos as seguintes ideias:

- Maior enraizamento dos projectos na realidade social e educativa, com um comprometimento activo na compreensão e resolução dos problemas educacionais que afectam o país

- Incremento de projectos de investigação e intervenção centrados na escola/sala de aula, com a participação dos professores e dos alunos, nomeadamente no âmbito dos projectos de formação inicial, contínua e especializada

- Articulação entre a investigação realizada no quadro dos mestrados e doutoramentos e as necessidades educativas, desenvolvendo estudos em rede que permitam uma compreensão alargada das realidades investigadas

-Valorização de abordagens multi/ inter/ transdisciplinares e do pluralismo metodológico no estudo de realidades educativas complexas

- Reconceptualização da actividade científica educacional, no sentido de uma maior consistência, relevância e sustentabilidade da mesma

- Disseminação estratégica do conhecimento produzido, nomeadamente junto das comunidades educativas a quem ele mais possa servir, tendo em vista a promoção da sua transferibilidade, a sua avaliação crítica nos contextos de aplicação e a indução de processos de inovação

- Reconceptualização dos modos de internacionalização do trabalho académico, numa lógica de maior visibilidade e escrutínio dos estudos nacionais, e da produção de conhecimento potencialmente relevante ao progresso educacional no país

- Afirmação pública do IE como referência e voz autorizada para tomar posição fundamentada sobre matérias de interesse para o progresso educacional do país


Estas ideias correspondem a uma corrente de pensamento no Instituto de Educação que acolheu cerca de 40% dos votos dos Professores e Investigadores. Todavia, estas ideias não têm representação na actual composição do Conselho Científico.

E porquê? Pela simples razão de que não existem no Instituto as condições de liberdade que permitam às pessoas assumir com naturalidade a defesa pública dos seus pontos de vista, o que inviabilizou a constituição de uma segunda candidatura à eleição dos representantes dos Professores e Investigadores ao CC. Uma segunda candidatura, alicerçada em ideias claras e inovadoras, contribuiria para uma composição do Conselho Científico bem diferente, introduzir-lhe-ia outra vitalidade e cumprir-se-iam os desígnios estatutários de participação democrática e de pluralismo de opiniões e orientações.

Os órgãos do novo Instituto - agora a 3ª maior Escola da UM - vão-se constituindo sem que se vislumbrem as grandes ideias mobilizadoras: apresentam-se os nomes dos candidatos e quase nada há de visão programática e estratégica. E que falta fazem as ideias e a reflexão para um sobressalto que nos acorde para os problemas educacionais que é preciso encarar!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Instituto de Educação: resultados eleitorais e considerações "democráticas"

Representantes ao Conselho do Instituto

• Corpo de Professores e Investigadores: 100 eleitores

- Votos obtidos pela lista A – 30 (37%) - 1 mandato
- Votos obtidos pela lista B – 39 (48,1%) - 2 mandatos
- Votos brancos – 12 (14,8%)
- Votos nulos - 1

Representantes ao Conselho Científico do Instituto

• Corpo de Professores e Investigadores: 100 eleitores
- Votos obtidos pela lista A - 64 (80 %) - 13 mandatos
- Votos brancos – 16 (20%)
- Votos nulos – 2
• Foi eleita a Lista A com 80 % dos votos

Só a título de "curiosidade democrática", vejam-se os resultados numa Escola mais pequena do que o Instituto de Educação - a Escola de Economia e Gestão:

Representantes ao Conselho Científico
Lista A - 30 votos (5 mandatos)
Lista B - 15 votos (2 mandatos)
Lista C - 26 votos (5 mandatos)

Representantes ao Conselho de Escola:
Lista A - 26 votos (4 mandatos)
Lista B - 16 votos (2 mandatos)
Lista C - 30 votos (4 mandatos)

É notório que a lista única da Assembleia Estatutária do IE, que mobilizou pouco mais de cinquenta dos 100 eleitores, dos quais 32% votaram branco, fez um trabalho notável do ponto de vista da configuração democrática do "órgão colegial representativo do Instituto". Onde as outras Escolas da UM têm 10 e 11 representantes eleitos por sufrágio directo e universal, a nossa AE teve a brilhante ideia de lá colocar 7 lugares por inerência (Directores), ficando para eleger directamente apenas 3 representantes.

Para além disso, os Estatutos elencam os diversos segmentos que constituem o Conselho de Instituto deixando para último lugar os Representantes dos Professores e Investigadores em termos de "as vagas remanescentes". Ora, o diminuto número de representantes a eleger, a referência aos docentes em último lugar e em termos de "vagas remanescentes", com todo o simbolismo que essa expressão contém, são reveladorese de desprezo e desconsideração pela representação directa dos docentes no Conselho do Instituto. É a revelação de uma cultura aparelhística de controlo do poder que teme a expressão livre e plenamente democrática da vontade e sentimentos dos docentes - uma representação de 4 elementos da lista A e de 6 da lista B seria algo bem diferente. Temos uma situação que não tem paralelo noutras Escolas da UM.

sábado, 14 de novembro de 2009

O processo de configuração orgânica do Novo Instituto de Educação

Tendo em vista a configuração orgânica do novo Instituto de Educação, têm vindo a decorrer sucessivas actos eleitorais, a saber:

- Eleição da Assembleia Estatutária
- Eleição dos Directores dos cinco novos Departamentos
- Eleição dos Representantes ao Conselho Científico
- Eleição dos Representantes dos professores e investigadores, dos estudantes e do pessoal não docente e não investigador ao Conselho de Instituto
- Eleição dos Representantes dos estudantes e dos docentes ao Conselho Pedagógico

Contrariamente a pluralidade de orientações que seria desejável neste processo democrático, tem vigorado as listas únicas e as eleições nominais, em alguns casos. A única excepção reside na eleição dos Representantes dos professores e investigadores ao Conselho de Instituto - apresentam-se a sufrágio as listas A e B, para a eleição de 3 representantes.

Este ciclo eleitoral conclui-se a 27 de Novembro. Depois disso proceder-se-á ainda à eleição do Presidente do Instituto, que é da competência do Conselho de Instituto entretanto constituído.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Universidade de Évora lança Universidade Popular

Notícia do Público:
A Universidade de Évora (UE) vai lançar até final deste mês uma escola popular para oferecer oportunidades de aprendizagem à população e rentabilizar o potencial cultural, científico e de formação da academia alentejana.

http://www.publico.clix.pt/Educação/universidade-de-evora-lanca-escola-popular-para-rentabilizar-potencial-da-academia_1409021

Com o atraso cultural e educacional que caracteriza o País, se nas Universidades as habituais actividades académicas não dão ocupação a todos os docentes, não falta na sociedade um trabalho imenso de formação e educação para rentabilizar esses recursos humanos. A título de exemplo, o imperativo de progresso educacional nas nossas escolas básicas e secundárias bem justifica um grande investimento na formação contínua, devendo essa actividade ser contabilizada nas cargas lectivas dos docentes.

sábado, 31 de outubro de 2009

A acção corrosiva da desumanização na UM: o caso da proposta de avaliação da qualidade!

Segundo José Gil (2005):

Nunca, ou muito raramente, os relatórios e inquéritos se referem a esses factores miscroscópicos. No entanto, um sector de empresa, de banco, de uma administração, de um escritório, de um hospital, de uma escola, de um ministério ou de outra macroinstituição qualquer não escapam à acção corrosiva de certas "relações interpessoais".

Com efeito, aqueles factores intervêm a esse nível. E contudo, como se sabe, a causalidade microscópica pode ter efeitos catastróficos (ou de sucesso) a uma escala mil vezes superior. (...) Infinitas injustiças são cometidas todos os dias (...) à conta de golpes baixos inconfessáveis que ficarão para sempre impunes no cômputo do Juízo Final...
(Gil, 2005: 90).

Desde há vários anos tenho introduzido para debate público a questão da atmosfera social e das relações interpessoais, como variável fundamental do ponto de vista dos níveis de satisfação pessoal, realização profissional e produtividade das pessoas na Universidade do Minho. Esse tema foi acolhido como relevante por outros colegas; outros ainda, em contexto eleitoral, por curtos períodos de tempo falaram das "pessoas", mas não se vislumbra que se abandonem os slogans do costume, onde a natureza da vivência humana dentro da instituição é reduzida a coisa nenhuma. O facto é que, para quem está atento (eu tenho a imodéstia de me considerar como tal), assiste-me nos tempos recentes a uma acelerada degradação do clima social e da relações interpessoais na UM.

Perante a frenética regulamentação que é atirada para cima de todos nós, quando se apela a reflectir, intervir, tomar posição a reacção generalizada é "não quero saber", "não tenho tempo", "estou farto", "quero emigrar daqui", "as pessoas estão a ficar doentes", etc. A inquietação, a ansideade, a angústia e mesmo o desespero alastram, especialmente entre os docentes de vínculo contratual mais precário: exprimir qualquer opinião é o risco do desemprego à vista. Certos poderes medíocres exploram sem escrúpulos essa vulnerabilidade. As pessoas refugiam-se no seu canto, alheando-se de tudo, procurando na discrição e no silêncio alguma protecção e segurança. Aos olhos dos poderes institucionais essa realidade não existe e não é equacionada como parte da política universitária. Outros há que farão o papel de fazer crer que tudo vai no melhor dos mundos.

A propósito, quantos docentes da UM conhecem o Programa de Qualidade (42 páginas) e o Manual da Qualidade (39 páginas), documentos enviados para as diversas chefias em 1/06/09 com a indicação de “uma ampla auscultação da comunidade académica” e um prazo de entrega de contribuições até final de Julho de 2009. Alguém sabe disto? Alguém está consciente das consequências de tais orientações de política de qualidade se vierem a ser aplicados?

Uma leitura atenta permite concluir que a natureza dos poderes de avaliação e a dimensão/desadequação das tarefas de avaliação previstas só podem ter como consequência a subversão da actividade que é avaliada, designadmente a actividade de ensino. À semelhança do modelo de avaliação dos professores da ex-Ministra da Educação, caminharemos para uma situação em que o importante mesmo é avaliar o ensino e não ensinar, o que acaba por ser avaliar aquilo que o sistema de avaliação não permite fazer.

Entre muitos dos aspectos inquietantes aí contemplados, pretende-se instituir a figura do "promotor da qualidade". O que é que isto faz lembrar? Comissários políticos? Agentes de uma qualquer "revolução cultural", que nos vão meter à força dentro da sua grelha "objectiva" de avaliação da qualidade?

Há uma estranha Comissão para a Garantia Interna da Qualidade (CGIQ) com poderes supremos sobre a qualidade, designadamento a do ensino, que pode inclusive instaurar auditorias sobre o funcionamento de uma Unidade Curricular. E qual é a composição dessa comissão? Veja-se:

- um vice-reitor ou pró-reitor;
- um gestor de qualidade (o que é isto?);
- um representante de cada unidade orgânica nomeado pelo respectivo presidente;
- o administrador (de quê?);
- o aministrador do SAS (pois, a figura omnipresente na vida da UM!);
- um representante dos serviços certificados (não sei o que é);
- o presidente da associação académica (tinha que ser...);
- dois representantes dos estudantes;

Qual é a nossa dignidade de professores universitários para aceitarmos isto?

Um aspecto completamente inaceitável é que esse documento de trabalho não tem rosto, o que contraria em absoluto os princípios de boa-fé e transparência democráticas. É fundamental que os autores do documento se dêem a conhecer, para melhor avaliarmos dos seus méritos e propósitos e sintamos que temos interlocutores.

Duas questões:
- Qual é a legitimidade de tais documentos de política universitária promovidos por um Reitor nos últimos dias do seu mandato?
- O que vai fazer com tais documentos a nova Reitoria, acabada de se constituir?

domingo, 18 de outubro de 2009

Um Novo Instituto de Educação na UM


[...]
Precisamos de ser criadores de um conhecimento educacional mais transformador, e incorporar esse conhecimento numa renovada formação de professores. É necessário que o novo Instituto se afirme publicamente como voz autorizada para tomar posição bem fundamantada sobre matérias de política educativa, especialmente quando dão lugar a graves conflitos entre o governo e os professores - não é compreensível o completo silêncio das instituições universitárias de Educação, perante as querelas recentes que criaram uma situação caótica nas escolas.

É pois desejável que essa Escola não seja o mero resultado do taticismo e dos arranjos de poder estabelecidos – isso não será uma nova Escola, não será um projecto para servir o País. É preciso que as novas ideias tenham o seu lugar para germinar, crescer e amadurecer.
[...]

Ver continuação em
http://um-novosdesafios.blogspot.com/2009/10/construir-um-novo-instituto-de-educacao.html

Joaquim Sá

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

António Cunha: o novo Reitor da UM

EDITAL

Em cumprimento do disposto no respectivo Regulamento, o Conselho Geral procedeu, em reunião realizada no dia 7 de Outubro de 2009, à eleição do Reitor da Universidade do Minho.

Do escrutínio resultou a seguinte votação:

Candidato Professor Doutor António Augusto Magalhães da Cunha – 14 votos

Candidato Professor Doutor Artur Manuel Perez Neves Águas – 1 voto

Votos em branco – 8 votos

Em face destes resultados, o Conselho Geral proclama eleito Reitor da Universidade do Minho o candidato Professor Doutor António Augusto Magalhães da Cunha.

Afixe-se nos lugares de estilo.

Universidade do Minho, 07 de Outubro de 2009

O Presidente do Conselho Geral

Luís Braga da Cruz

Comentário:

Felicito o novo Reitor, Professor António Cunha, pela sua eleição. Não posso deixar de, neste momento, manifestar a expectativa de que, na governação da UM, o novo Reitor e a equipa que o acompanha, sejam capazes de ler os fortes sinais de aspiração de mudança que, no seio da academia, se fizeram sentir em sucessivas eleições.

Um muito obrigado a Artur Águas!

Folgo em saber que outros colegas comungam do meu sentimento de agradável surpreza que foi a candidatura de Artur Águas.

Ver em http://pralemdazurem.blogspot.com/
Defendeu as "Artes" como nenhum engenheiro o consegue fazer, sugerindo que tal como nos EUA a Universidade fosse o Centro Cultural da cidade onde se insere. Ideias originais, que lhe saíram da manga, como um Instituto Galego no seio da UM ou um pequeno estúdio de cinema experimental num departamento de "Artes".
(...)
Um muito obrigado a Artur Águas por nos ter permitido sonhar com uma UM nova, mesmo que fosse só por uma ou duas horas de intervalo na rotina do dia-a- dia de um professor da UM.
Jaime Gomes

terça-feira, 6 de outubro de 2009

As audições dos candidatos a Reitor da UM

Assisti hoje a parte das audições das candidaturas a Reitor da Universidade do Minho. No Anfiteatro A1 estariam pela manhã, a ver a audição de António Cunha, umas duas dezenas de pessoas. Da parte do candidato ouvimos uma reafirmação de posicionamento e de ideias que em parte já vimos conhecendo de outros actos eleitorais. O meu destaque vai para a resposta que foi dada a uma questão apresentada por um dos conselheiros. Perguntava Manuel Pinto se, sendo António Cunha apontado como uma “espécie de delfim” de Guimarães Rodrigues, se tinha para a UM uma perspectiva de gestão “numa linha de continuidade ou de demarcação, de ruptura mesmo”, relativamente à forma de governo da actual Reitoria. António Cunha respondeu que, como Presidente da Escola de Engenharia apoiou algumas decisões e discordou de outras do actual Reitor, e que não considerava útil "falar de contextos do passado em que ocorreram certas situações que tiveram as suas razões”. Por outras palavras, o candidato a Reitor optou por não assumir uma demarcação em relação à actual gestão da UM - dada a situação a que chegámos era importante que o tivesse feito. No que diz respeito à ética e ao “código de conduta académica”, referidas no seu programa, as palavras de António Cunha, em resposta a uma questão de Esgalhado Valença, sugerem basicamente uma preocupação com a defesa dos direitos de autor, perante a facilidade com que hoje se tem acesso a variada informação académica.

À tarde, estariam no A1 uma meia dúzia de pessoas para ver a surpresa que nos reservara o candidato Artur Águas. Li o texto do seu programa e não apreciei o que pareceu ser uma certa meritocracia, centrada em palavras-chave como excelência, elite e prémios. Mas o candidato surpreendeu completamente pela pessoa que se revelou e pela apresentação que fez. Eu acredito mais no homem que vi do que no texto que nos divulgou. Um homem cujo pensamento académico cosmopolita se revelou inspirador da mudança e da inovação; que ao mesmo tempo que assumia uma atitude desassombrada na abordagem dos problemas, gerava afectividade com os ouvintes. A sua visão do cargo de Reitor é o antídoto da tradicional visão concentracionária. Sublinhou os poderes do Conselho Geral como órgão máximo de governo, deu grande relevo aos poderes de um Administrador competente com vista a uma boa gestão financeira, e pôs muita ênfase na função de catalisador de ideias e de projectos que possam emergir das pessoas onde quer que seja, no tecido académico. E ao que lhe apontaram como menos-valia – o facto de ser de fora e não conhecer bem a UM – transformou em mais-valia: estar fora de qualquer lógica de inbreading; não estar preso a compromissos internos que lhe limitem a capacidade de decisão no sentido do interesse geral. Apontou o período de um mês para constituir a sua equipa reitoral.

A sua prestação surpreendeu e ganhou votos…

PS: Eu diria que não ficou nada bem a postura de uma conselheira que, interpelando Artur Águas, dava expressão à cultura oficial de provianciano auto-elogio que tem sido cultivado entre nós, em torno de coisas sem relevância. Afirmava com algum insistência, em duas intervenções, "nós já temos", "nós já fazemos", "a UM é pioneira", "um avez que tudo o que propõe já existe na UM, diga o que propõe de novo", etc. Senti-me até incomodado ver-me representado deste modo no CG.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O Ministro e as práticas ilícitas no meio académico!

Segundo a agência Lusa, no passado domingo, os responsáveis do Movimento Anti-Tradição Académica, divulgaram que a Universidade Lusíada de Famalicão vai pagar uma indemnização de 90 mil euros à família do jovem universitário que terá morrido na sequência de uma praxe académica. Acto contínuo, o Ministro da Ciência e Ensino Superior avisou que não vai tolerar abusos nas praxes académicas, denunciando-os ao Ministério Público para responsabilizar quer os seus autores quer as direcções de instituições que permitam que aconteçam. (…) Adverte o Ministro que, pela "extraordinária gravidade" de algumas destas práticas, "não permite qualquer tolerância" com "insuportáveis violações do Estado de Direito" no meio académico. A "prática de tais ilícitos" deve ser (…) “muito especialmente [combatida], pelos próprios responsáveis das instituições".

Não posso deixar de comentar, perante tão enérgica atitude, que ficamos então à espera de novo aviso do Ministro: o de que "não permite qualquer tolerância" com OUTRAS "insuportáveis violações do Estado de Direito" no meio académico ("insuportáveis", digo bem), bem como da “prática de [OUTROS] ilícitos”, e que para isso responsabilizará “quer os seus autores quer as direcções de instituições”. Tais OUTROS…, sem visibilidade nem impacto na opinião pública, podem agora ter como certo que nem a santíssima “autonomia universitária” vai acobertar os infractores. O Ministro vai cortar a direito - sou um homem de muita fé...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A viloência psicológica no trabalho também mata!

Já se suicidaram 24 trabalhadores da France Telecom

Público: 29.09.2009 - 08h17
Por Ana Rute Silva

Um trabalhador da France Telecom, de 51 anos e pai de dois filhos, cometeu suicídio ontem, elevando para 24 o número de funcionários da empresa de telecomunicações que nos últimos 18 meses acabaram com a própria vida.

Numa carta deixada à família descrevia o seu sofrimento "motivado pelo contexto profissional". A esposa explicou às autoridades judiciais que o marido estava com uma depressão há vários meses.

Desde Fevereiro do ano passado que os casos de suicídio assolam a France Telecom, onde o Estado francês tem uma participação de 27 por cento. Os sindicatos já pediram mais protecção aos cem mil trabalhadores que, à custa das reestruturações provocadas pela privatização, são obrigados a mudar de local de trabalho, de chefias ou área.

"É uma vergonha. Ele trabalhava num local conhecido por ser inviável [num call center em Annecy, Alta Sabóia], sem humanidade e onde havia uma grande indiferença. Não se falava de outra coisa senão de números", criticou Patrice Diochet, dirigente sindical, em declarações à AFP.

domingo, 27 de setembro de 2009

A desgastante conflitualidade é um sorvedouro de energia humana na UM

Em http://universidadealternativa.blogspot.com/2009/09/estes-problemas-nao-sao-so-sentidos.html dá-se conta de que alguém terá sublinhado que os problemas que referi na mensagem com o título Às candidaturas a Reitor falta-lhes a lente para a dimensão da vivência humana na UM [http://um-novosdesafios.blogspot.com/2009/09/as-candidaturas-sobrevoam-dimensao-da.html ] não dizem respeito apenas aos docentes.

Quero dizer que estou inteiramente de acordo com o reparo e só por lapso focalizei a questão nos docentes, na parte final. Eu tenho estado atento às justas lutas dos funcionários não docentes e tenho enaltecido o seu exemplo. Desde logo sublinho a odisseia que foi a sua luta, dentro da UM e nos tribunais, para fazerem valer o reconhecimento dos seus legítimos representantes na Assembleia e no Senado da UM [ver http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/reeleio-da-lista-dos-funcionrios-no_07.html ].

É inquestionável que, do que tem vindo a público, os sinais do mal-estar e de conflitualidade desgastante de que falo, são até mais visíveis nesse sector. Não há memória de tal situação e tudo isso tem a marca de uma forma de governo da UM.

Quanto ao facto de eu referir serem os jovens os mais atingidos, admito que o reparo pode ser pertinente. De facto, falando dos docentes, muitos deles já não esperam pela tradicional jubilação - reformam-se à primeira oportunidade (este fenómeno pode ter também a ver com o momento difícil que atravessa o Ensino Superior na conjuntura actual).

É da maior relevância que os candidatos a Reitor se proponham trabalhar no sentido da recuperação de um novo clima de saudável convivência académica. E que para isso apresentem propostas de acção concretas. Igualmente o Conselho Geral tem responsabilidades nessa matéria.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O que têm os candidatos a dizer sobre isto?

Em ambas as candidaturas a Reitor escapa-lhes a natureza da vivência humana que caracteriza o quotidiano das pessoas. Sem mergulhar em profundidade nessa dimensão, dificilmente a UM poderá extrair o que há de melhor em cada um dos seus membros. A situação é crítica e precisa de atenção urgente. Por exemplo, a quantidade de energia desperdiçada numa endémica conflitualidade, sem quaisquer mecanismos de regulação arbitral, é imensa [com grande responsabilidade da Reitoria cessante].
[...]


O que têm os candidatos a dizer sobre isto?

Seria bom que se pronunciassem.


Joaquim Sá
Ver em:
http://um-novosdesafios.blogspot.com/2009/09/as-candidaturas-sobrevoam-dimensao-da.html

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não tomemos a retórica e a burocracia pela realidade!

A UM teve há algum tempo uma referência externa elogiosa no que diz respeito à incrementação do processo de Bolonha. Ficamos orgulhosos! Do que se tratava mais não era do que a relativa brevidade com que construímos as grelhas curriculares dos cursos em conformidade com os formalismos requeridos, passando as actividades lectivas a funcionar de acordo com a nova arrumação das UCs. Ora, o que é que isso nos diz, em termos substantivos, quanto à real incrementação da profunda renovação do ensino que é preconizada? Eu diria que muito pouco ou quase nada.

Continua em:
http://um-novosdesafios.blogspot.com/2009/09/continuar-reflexao-sobre-o-processo-de.html

sábado, 19 de setembro de 2009

Os funcionários podem pôr questões aos candidatos a Reitor! E os docentes?

No blog Universidade em Mudança ( http://www.umparatodos.com/ ) informa-se que:

Os trabalhadores não docentes podem apresentar as questões que desejam ver formuladas aos Candidatos, na audição que terá lugar no seio do Conselho Geral (...).

Para o efeito, está disponível nesse blog um espaço para que os funcionários encaminhem para para a sua Representante no Conselho Geral as questões para as quais gostariam de ouvir uma resposta.

Mais se informa:

A audição terá lugar no próximo dia 6 de Outubro, pelas 10h, e decorrerá do seguinte modo:

- Os candidatos serão ouvidos em sequência, por ordem alfabética.

- As audições terão lugar no Salão Nobre, no Largo do Paço

- Os candidatos terão à sua disposição meios audiovisuais: computador e projector para apresentação em "power point".

- A sessão será difundida pela intranet da UM, podendo também ser visionada em tempo real em três anfiteatros: no anfiteatro grande do campus de Azurém, no anfiteatro B1 do edifício CP1 do campus de Gualtar e ainda no anfiteatro da Escola Superior de Enfermagem, no edifício dos Congregados.

- Cada audição terá a duração máxima de 2h30m, iniciando-se por um período até 30 minutos para o candidato fazer uma exposição preliminar, a qual será seguida de perguntas formuladas pelos membros do CG e das respostas do candidato.

Comentário

Muito embora se tenha escrito em http://um-novosdesafios.blogspot.com/ que "Os membros do Conselho Geral podem e devem ser apoiados na preparação da audição pública dos candidatos através da academia", até ao momento, ainda não vimos da parte dos representantes dos Professores e Investigadores a apresentação de uma modalidade operacional de auscultação dos representados.

Talvez seja importante pensar nisso!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Assegurar o poderio do SAS na UM: decisões de afogadilho à última hora!

De acordo com informação veiculada no blog Universidade em Mudança ( http://www.umparatodos.com/ ) o

NOVO REGULAMENTO ORGÂNICO DOS SERVIÇOS DE ACÇÃO SOCIAL
PASSA TODOS OS CHEFES DE DIVISÃO A DIRECTORES DE SERVIÇOS

E prossegue a informação nestes termos:

Conforme aqui demos conta, pelo Despacho RT-46/2009, de 31 de Julho, o Reitor da Universidade do Minho aprovou um novo Regulamento Orgânico dos Serviços de Acção Social.

Pese embora não estar ainda constituído o Senado Académico, órgão ao qual competirá pronunciar-se sobre os Estatutos dos SAS, e antecipando-se à criação deste órgão, somos confrontados com um novo Regulamento cuja alteração visa, afinal, passar (promover) todos os actuais Chefes de Divisão a Directores de Serviços.

[…]

Os anteriores Regulamentos Orgânicos foram sempre aprovados pelo Plenário do Senado Universitário – contrariamente a este – em Maio de 2000, (em 2003), e em 26 de Abril de 2004, prevendo-se que os diferentes serviços dos Serviços Acção Social fossem coordenados por chefes de divisão ou técnicos superiores.

Os Serviços de Acção Social da Universidade do Minho, por outro lado, ficam deste modo, com um número de Directores de Serviços praticamente da mesma ordem de grandeza de toda a estrutura da Universidade, em geral, que dispõe, actualmente, de oito Directores de Serviços (...), para uma diversidade e número de trabalhadores muito superior, e como uma complexidade de estrutura bem distinta.

Comentário:

Há muito se sabe que os Serviços de Acção Social da UM são um poder fáctico que se impõe à Academia, com pretensões de influenciar o jogo de poder em termos do governo da UM, facto bem visível nas últimas eleições para Reitor. A este propósito, o papel de constante alinhamento com a Reitoria dos representantes dos estudantes/membros da Associação Académica, nos vários órgãos em que estão presentes, suscitam as maiores interrogações sobre as suas verdadeiras motivações. [Quatro estudantes no Conselho Geral (de uma mesma lista), num total de 23, é uma representação manifestamente excessiva.]

Importa ainda saber onde estão a sede de comando e os executores da vigilância e manipulação electrónica, que enviam mensagens apócrifas intimidatórias para certos docentes (já recebi duas; há dias um outro colega deu conhecimento de uma outra), que montam acções de terrorismo electrónico dirigidas a toda a academia para denegrirem colegas, e que simulam sondagens fantasma dirigidas a toda a academia, como aconteceu nas recentes eleições para o Conselho Geral. Este controlo, vigilância e intimidação sem rosto, é uma situação perturbadora da vida académica e gravemente atentatória dos direitos das pessoas. Urge investigar e punir os responsáveis em conformidade com a lei.

Cabe perguntar:

- Que interesses se movem nesta deliberação de última hora, antecipando-se o procedimento normal de submissão de Regulamento Orgânico do SAS ao Senado Académico?

- Por que razão não está ainda constituído o Senado Académico?

- Como é que se justifica que o SAS tenha praticamente o mesmo número de Directores de Serviços que toda a restante estrutura da UM?

- Nesta confusão de águas turvas em que vivemos que órgãos tem legitimidade para governar a UM?


Finalmente uma chamada de atenção!


Já foram anuladas pelos Tribunais Administrativos quatro nomeações de dirigentes de serviços na UM. Não é um bom augúrio quanto ao destino destas decisões em sede de regulamento.

A não perder de vista também as duas auditorias do Tribunal de Contas à UM, cujos resultados são verdadeiramente lastimáveis.

sábado, 5 de setembro de 2009

Congresso Ibérico ENSINO SUPERIOR EM MUDANÇA: TENSÕES E POSSIBILIDADES

Caro(a) colega,

O congresso ibérico ENSINO SUPERIOR EM MUDANÇA: TENSÕES E POSSIBILIDADES enquadra-se nas actividades da Linha de Investigação Ensino Superior: Imagens e Práticas, do Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho. Tem como finalidade central criar um espaço de debate sobre mudanças em curso no ensino superior:

… problemas, dilemas, paradoxos, desafios (mudar o quê e porquê?)
… direcções (mudar para quê?)
… possibilidades, condições, estratégias (mudar como?)
… obstáculos, constrangimentos, resistência (mudar até onde?)

Com incidência na mudança, poderemos debater temas diversos: políticas e reformas; desenho curricular; ensino, aprendizagem, avaliação; formação docente; investigação; gestão e liderança académica; extensão/serviço à comunidade e parcerias; avaliação da qualidade; relações profissionais e ambiente de trabalho…

Poderá submeter uma proposta de comunicação até 23 de Outubro de 2009, apresentando um texto de 2500 a 3000 palavras (em Português ou Espanhol; ver normas na página web [ http://www.iep.uminho.pt/ensino.superior ]. Os textos aceites serão publicados nas actas do congresso, após revisão de acordo com as sugestões da Comissão Científica. O parecer de aceitação será enviado aos autores até 30 de Novembro de 2009.

As comunicações serão organizadas em mesas temáticas, seguindo um formato de apresentação breve (10-15 minutos) seguida de debate. Haverá espaços plenários de reflexão conjunta sobre temas do congresso.

As inscrições têm início em Setembro de 2009 e serão feitas por E-mail, em formulário a disponibilizar na página web do congresso.Serão aceites por ordem de chegada (máximo estimado de participantes: 200).

Contamos com a sua participação e agradecemos a sua colaboração na divulgação deste congresso!

Comissão Organizadora:

Flávia Vieira (coord.), Ana Amélia Carvalho, Assunção Flores, Isabel Viana, José Carlos Morgado, José Luís Silva, Lia Raquel Oliveira, Maria Alfredo Moreira, Marlène da Silva e Silva, Natascha van Hattum, Palmira Alves
(Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

As notícias que correm e as eleições para Reitor da UM

Segundo o blog GRANDE PORTO
(http://www.grandeportoonline.pt/catalog/product.do?productId=d1dc549922c0c9660122dffef66e007b&hasFlash=no ):

A auditoria do Tribunal de Contas à Universidade do Minho (UM), relativa a 2007, (...) gerou uma certa apreensão junto de potenciais candidatos ao órgão máximo daquela instituição. Uma dessas personalidades, que preferiu manter o anonimato e que estuda a possibilidade de concorrer ao acto eleitoral de 7 de Outubro, adiantou ao GRANDE PORTO que “o relatório do TC só vem confirmar os equívocos vários no modo como a universidade tem sido governada nos últimos anos” e que esta situação pode “fazer recuar putativos candidatos nas suas intenções". A mesma fonte, que faz parte do corpo docente na UM, acredita ainda que se vier a ser eleito, no caso de avançar para a corrida eleitoral, terá “muito trabalho pela frente, não só para reorganizar alguns sectores fundamentais da universidade”, como para impor regras que ponham fim “a um certo desleixo que tem havido na organização e no funcionamento” da instituição.

Ainda segundo o GRANDE PORTO:

O único candidato até agora confirmado, António Cunha, presidente da Escola de Engenharia da UM, prefere desvalorizar as críticas apontadas pelo TC. “São pequenos reparos a alguns procedimentos que não estariam completamente correctos. Não é apontado nada de muito grave relativamente à gestão menos correcta da instituição”, explica António Cunha, que na semana passada suspendeu o lugar no Conselho Geral para poder concorrer às eleições de Outubro.

MAIS NOTÍCIAS SOBRE A GOVERNAÇÃO DA UM!

Ontem o Diário do Minho dedicava duas páginas inteiras ao Relatório do Tribunal de Contas à Auditoria à UM (ver resumo em http://pralemdazurem.blogspot.com/ ).

Ontem, também a RTP pôs no ar a notícia que se pode ouvir em:

http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Tribunal-de-Contas-acusa-gestores-da-Universidade-do-Minho-de-irregularidades.rtp&headline=46&visual=9&article=275210&tm=8

Neste mesmo link pode ainda ler-se:

Tribunal de Contas acusa gestores da Universidade do Minho de irregularidades
(...) A Antena 1 teve acesso ao relatório do Tribunal, que detectou despesas e pagamentos ilegais ordenados pelos gestores da instituição de ensino superior. A jornalista Ana Gonçalves explica que só em ajudas de custa estão em causa mais de 80 milhões de euros. Confrontada com o teor deste relatório pela Antena 1, a Universidade do Minho enviou como resposta um documento de três páginas, onde, no essencial, se diz que os problemas detectados pelo Tribunal de Conta são apenas de forma e não de conteúdo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Responsabilização!

No seu Relatório de Fiscalização da Empreitada de Construção da Escola de Ciências da Saúde, o Tribunal de Contas preconiza medidas de responsabilização. No resumo do Relatório em

Os trabalhos adicionais, que foram considerados ilegais pelo Tribunal de Contas (objecto dos contratos adicionais, n.ºs 1, 2 e 3) foram aprovados pelo Conselho Administrativo em 2006 e em 2007, nos montantes de €359.275,90 (1.º Adicional), €47.318,58 (2.º Adicional) e €79.183,04 (3.º Adicional), com o voto favorável de todos os seus membros. Estes responsáveis incorrem em responsabilidade financeira, implicando a sua eventual condenação o pagamento de multa, de valor a fixar pelo Tribunal.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Isto não é nada bom para a UM!

O Tribunal de Contas (TC) detectou irregularidades na construção do edifício da escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho (UM). Durante a obra foram contratados trabalhos a mais de quase meio milhão de euros. A obra foi adjudicada, em 2005, por 13,4 milhões de euros, mas quando ficou concluída, três anos depois, o valor final ascendia a mais de 16 milhões.

A notícia continua no Jornal Público de hoje:

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/28-08-2009/tc-detecta-novas-irregularidades-na-universidade-do-minho-17665960.htm

Como se pode compreeder que a informação disponível suscite dúvidas sobre se a vistoria das obras contou com a particiapção de um engenheiro civil?

Estamos perante uma situação em que as notícias desprestigiantes para a Universidade do Minho, designadamente as que decorrem de decisões dos Tribunais Administrativos (quatro) e de auditorias do Tribunal de Contas (duas), se sucedem em catadupa. Isto é a demonstração da enorme falácia do pensamento instituído nos últimos anos, segundo o qual as perspectivas críticas e divergentes são apanágio dos inimigos da Universidade do Minho.

É o contrário:

A VISÃO CRÍTICA PREVINE O ERRO E CONTRIBUI PARA AS MELHORES SOLUÇÕES DE INTERESSE GERAL!

Mas será que esta sucessão de notícias já não nos causa indignação e perplexidade?

Será que isto é já a "normalidade" perante a qual ficamos indiferentes?

Esperemos bem que até 10 de Setembro se apresentem candidatos a Reitor que dêem à Academia uma palavra sobre estas situações. Candidatos que nos apresentem uma visão programática de mudança, de renovação e de recuperação de uma imagem pública de maior prestígio e respeito da Universidade do Minho.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

COMO ELIMINAR PROFESSORES CRÍTICOS E "INCONVENIENTES"? Há um método infalível!

http://arts.uwaterloo.ca/~kwesthue/elimprof.htm
ELIMINATING PROFESSORS
A Guide to the Dismissal Process
Kenneth Westhues

Por que razão se escreve um livro de instruções sobre como podem os dirigentes académicos eliminar um professor? O título é um truque de retórica. O que o autor faz é descrever-nos como isso realmente se faz, tendo por base muitos estudos de caso. E o modo como isso se faz é muito assustador, sendo um processo em que a verdade conta muito pouco. O objectivo fundamental é expulsar o professor-alvo, e a informação é usada e distorcida para alcançar esse objectivo. (…) Este livro presta um grande serviço pela forma como demonstra com inegável rigor o modo como os dirigentes podem usar de forma corrupta determinada informação para demitir professores que não merecem esse destino. Para os que acreditam que estes processos são de um modo geral justos nas universidades, este livro é especialmente recomendável. A sua leitura ajuda a abrir os olhos.

Russell Eisenman, Department of Psychology, University of Texas — Pan American, book review in The Journal of Information Ethics, 2001.

Com a publicação deste livro e a subsequente investigação sobre o tema, Westhues criou um novo campo na sociologia. (…) Num estilo de língua afiada, o livro oferece aos dirigentes académicos, os “conselhos” a seguir, passo a passo, para se verem livres de um professor incómodo chamado Dr. PITA (Pain In The Ass – numa tradução livre eu diria Crítico e "Inconveniente"). (…) O firme propósito do(s) dirigente(s) passa a ser exercer pressão e ameaçar todos os que estão por perto do professor-alvo, que têm como preocupação fundamental conservar o seu emprego e o seu salário.

David S. Clarke, Professor of Management of Technology, Southern Illinois University, and Editor, Knowledge, Technology, and Society, in his weekly e-newsletter, 2003.

Eliminating Professors é uma discussão inteligente, satírica e catártica sobre os frequentes e tenebrosos processos de eliminação vividos por professores competentes no Ensino Superior. (…) O “conselho” que Westhues dá aos dirigentes não é tanto o de intimidar quem se revolta no campus; ele considera que o melhor aliado dos administradores é o pânico moral imposto à vítima. O ponto-chave está em fazer a sua gestão.

Courtney Welch, Coordinator of Student Programs, Texas Women's University, book review in Teachers and Teaching: Theory and Practice, 2001.

É bem sabido que as universidades (...) dão suporte a reprováveis tiranos, cheios de uma pomposa diletancia, que, apoiando-se numa insuportável, obtusa e indecifrável burocracia (…) trabalham sem piedade para torturar pessoas competentes. Westhues, um professor premiado, sofreu duramente as consequências da perseguição. Miraculosamente, ele apresenta-nos uma desapaixonada análise das forças que sobre ele se abatiam, enquanto esperava que o pelotão de fuzilamento recebesse a ordem para sobre ele descarregar as munições das suas armas.

Gary Namie, Western Washington University, co-founder of the International Campaign Against Workplace Bullying and co-author of The Bully at Work.

Os capítulos do livro (…) alternam entre o ”suspense” da narrativa do caso do próprio Westhues, sufocado na tortura de um processo de recurso exasperante, e os capítulos de “como fazer”, que, presume o leitor, são escritos com uma voz intensamente irónica e ao mesmo tempo muito verdadeira.

David W. Leslie, Chancellor Professor of Education, The College of William and Mary, book review in The Journal of Higher Education, 2000.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A União Ibérica

Público, 29.07.2009

Quase 40 por cento dos portugueses são a favor de uma federação ibérica de Estados. Um terço dos espanhóis defende o mesmo, revela o Barómetro de Opinião Hispano-Luso 2009, da Universidade de Salamanca.

Comentário:

Eu faço parte dos 40% dos portugueses favoráveis à União Ibérica. Fechado neste pequeno rectângulo, subordinado a poderes paroquais que se movem mais pelos interesses particulares e de grupo do que pelo interesse geral, mergulhado numa atmosfera cultural castradora do pensamento livre que impede a emergência de uma intelectualidade vibrante ao serviço do seu povo, Portugal não tem perspectivas de alargar os seus horizontes e entrar verdadeiramente no caminho do progresso e desenvolvimento. Num espaço mais alargado e cosmopolita, poderíamos dar um salto em frente e no seu conjunto os dois Países poderiam ser uma potência europeia. Mas do lado de cá a grande resistência a esta ideia virá das sangessugas que, à sombra dos nossos "brandos costumes", não largam os privilégios imorais que lhes são asssegurados pelos seus pequenos e grande poderes vitalícios. Serão os grandes paladinos do "patriotismo" que lhes dá jeito.

Em 1580 a nobreza portuguesa reprimiu o seu povo para entregar a coroa de Portugal a Espanha a troco da garantia de manutenção dos seus privilégios, dada por Filipe II de Espanha. E quando Filipe IV de Espanha impunha aos fidalgos portugueses o pagamento de mais impostos, e as suas regalias parasitárias eram ameaçadas, a nobreza instrumentalizou o genuíno sentimento patriótico popular para a recuperação da "sua" independência.

sábado, 25 de julho de 2009

Completamente solidário com Daniel Luis

[Excerto de uma de duas mensagens ontem divulgadas na rede electrónica da UM]

Caro Daniel Luis, estou completamente solidário consigo, quaisquer que sejam as "oficiais" justificações que, como é típico em processos desta natureza, pretendem transformar a vítima em alguém merecedor de punição. Sei, infelizmente, do que estou a falar, por dolorosa experiência pessoal de que tenho dado testemunho neste blog (http://liberdadeuminho.blogspot.com/2009/03/podem-passar-mil-anos.html). A Universidade precisa urgentemente instâncias de recurso absolutamnte isentas, imparciais e independentes, merecedoras de crédito e confiança.

Um grande abraço.
Joaquim Sá

quinta-feira, 23 de julho de 2009

ANULADO DESPACHO DO REITOR DA UM

FOI ANULADO O DESPACHO DO REITOR QUE HOMOLOGOU O CONCURSO PARA CHEFE DA DIVISÃO ACADÉMICA, COM FUNDAMENTO EM VIOLAÇÃO DE LEI, PELO TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO NORTE

Este é o quarto concurso para cargos dirigentes censurado pelos Tribunais Administrativos, com base em vícios de violação de lei, identificados no despacho do Reitor, de homologação das decisões dos júris dos respectivos concursos. Ou seja, até à data, todas as acções interpostas destas decisões e já julgadas (quatro) foram consideradas procedentes.

VER EM
http://www.umparatodos.com/

Comentário:

Quatro concursos para cargos dirigentes na UM com vícios de violação da lei?
Isto é inacreditável!
Onde é que nós estamos?
Fomos demasiado ao fundo!
Impõe-se uma completa mudança de rumo com a eleição do próximo Reitor.
Precisamos de um novo Reitor completamente descomprometido da estrutura de poder que tem dominado a UM.
A legalidade, para além de muitos outros aspectos (vide Relatório Financeiro do Tribunal de Contas), é um instrumento fundamental e indispensável na prossecução da equidade e da defesa dos legítimos direitos de todos os membros da Academia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

TRANSFORMAR A CULTURA INSTITUCIONAL DA UMinho

[Texto distribuído na rede lectrónica da UM em 29/01/09]

Caros colegas Professores e Investigadores

Já vai no adro o processo eleitoral com vista à constituição do Conselho Geral, órgão da mais alta importância no futuro da UM. Todavia o processo democrático em curso não deverá focar-se apenas na discussão sobre o entendimento de cada lista quanto às funções do CG e o modo como se articulam com os restantes órgãos de poder. É importante, é necessário que neste processo democrático se debata a Universidade, em que órgãos e pessoas exercem poderes. E uma parte importante desse debate incide em questões como:

- Que concepção de poder defendemos na Universidade?
- Que cultura institucional subjaz ao exercício do poder nesta Universidade?
- De que “maturidade democrática” se fala? A dos sujeitos suficientemente “maduros” para serem eleitos ou a da instituição?

1. A concepção do poder académico nos diversos níveis hierárquicos e órgãos, é uma dimensão fundamental da cultura universitária. Aí se decide se a Universidade se caracteriza por uma cultura democrática ou por uma cultura autoritária. Aí se decide se a cidadania e o humanismo são apenas figuras de retórica, ou se têm um significado substantivo, vivido em sentimentos de satisfação e bem-estar, no quotidiano das pessoas.

Numa sociedade democrática, alicerçada no Estado de Direito, a todas as formas de poder está cometida a nobre função de promoção do bem comum, exercendo-se sempre no pleno respeito pela dignidade humana.

Os exemplos em que os poderes perseguem interesses pessoais e de grupo, tendem a promover um clima de opressão, de violação dos legítimos direitos das pessoas e de privação da liberdade de expressão. Nesse contexto institucional a criatividade definha, a inovação e a capacidade empreendedora das pessoas dão lugar à passividade, instalam-se a desconfiança e as estratégias individuais de sobrevivência, as relações interpessoais degradam-se e deixa de haver espaço para saudáveis dinâmicas de trabalho em equipa. Não é pois legítimo invocar-se valores de participação democrática olhando para cima, fincando bem as botas em cima dos que estão por baixo.

Questionemo-nos então, como eleitores, quem, pela sua vivência e conduta académica, é merecedor de confiança para a promoção de uma concepção de poder ao serviço do bem-comum e para a promoção de uma cultura universitária democrática por oposição à cultura autoritária em que vivemos.

2. O exercício do poder académico democrático não estabelece linhas de balcanização que colocam de um lado os que lhe são “próximos” e de outro os que assumem a liberdade de uma postura independente. Isso é frequente entre nós, e não raras vezes se tomam os primeiros como paladinos do bem da instituição e os últimos como os inimigos da instituição. Esta forma de maniqueísmo perversa precisa de ser erradicada da Universidade do Minho. Questionemo-nos então, como eleitores, quem nos oferece, por actos e não por palavras, as melhores garantias de promover uma cultura democrática de equidade e de justiça na forma como o poder se relaciona com os membros da Academia, quaisquer que eles sejam.

3. Só um poder académico de cultura democrática se subordina à Lei e ao Estado de Direito. Não pode haver dúvidas quanto à garantia da legalidade dentro da UM. Se assim não for alastra a todo o tecido institucional a ideia de ausência de um poder arbitral, isento e independente, que actue em conformidade. Instalam-se por diversos recantos da instituição poderes discricionários que impunemente actuam à margem da Lei. Questionemo-nos então, como eleitores, quem nos oferece, pelo exemplo da sua conduta académica, a garantia de promover uma cultura institucional de absoluto respeito pela legalidade e de garantia dos direitos legalmente protegidos a todos sem excepção.

4. O engrandecimento da Universidade do Minho é indissociável de uma transformação da sua cultura institucional. Torna-se então necessário trabalhar no sentido de dotar a Universidade do Minho de um conjunto de valores de integridade académica, de mecanismos de auto-regulação eficazes e de instâncias de recurso, com indiscutíveis garantias de isenção e imparcialidade.

5. Há muitos anos defendo empenhadamente valores e princípios, motivo por que tornou a minha vida académica particularmente difícil e penosa. Não há nisso nenhum especial mérito meu pois limitei-me a acções que a minha legítima defesa impunha. Partilho agora do espaço de discussão, de reflexão e intervenção académica que é o Movimento Novos Rumos, Novos Desafios. Este Movimento apresenta uma lista ao Conselho Geral apenas como uma das suas formas de intervenção académica. Aí estarei, não para delegar nos eleitos ao CG a defesa de ideias, projectos e princípios, mas para com eles dialogar na construção e definição dos mesmos.

Nesse Movimento continuarei para além das eleições no propósito de contribuir para a transformação de um cultura académica autoritária numa cultura académica democrática, que pense no bem-estar das pessoas. Uma cultura que devolva às pessoas a alegria no contexto profissional. E só assim seremos verdadeiramente criativos, produtivos e engrandeceremos a Universidade do Minho.

Joaquim Sá

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Liberdade de Expressão para DANIEL LUIS

Está em curso uma petição on-line, dirigida à Assembleia da República, em defesa da Liberdade de Expressão do colega Daniel Luis.

Pode ler e assinar em
http://www.peticao.com.pt/daniel-luis

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Perfil do novo Reitor!

O Conselho Geral tornou público o edital de abertura do período de candidaturas a Reitor da Universidade do Minho. E fá-lo com referência ao perfil desejável:

O Reitor deve ser uma personalidade de reconhecido mérito e experiência profissional relevante e possuir uma visão estratégica adequada à prossecução da missão e dos objectivos da Universidade, definidos nos termos estatutários.

Esperamos então um novo Reitor que se preocupe realmente com a "liberdade de pensamento e a pluralidade dos exercícios críticos", que promova a missão e objectivos da UM "no respeito pela dignidade da pessoa humana" e que promova na Universidade do Minho "os princípios da igualdade, da participação democrática, do pluralismo de opiniões e de orientações".

E espera-se mais: que o poder disciplinar seja exercido em referência aos “princípios da independência, do rigor e da honestidade intelectual, da responsabilidade, da ética do trabalho e no respeito pela dignidade humana.”

Tudo isto consta dos "termos estatutários" e temos que esperar/exigir que não sejam apenas figuras de retórica.

sábado, 4 de julho de 2009

"Não é de facto normal..."

Sobre o caso Daniel Luis, escreve o colega Jaime Gomes, Professor Catedrático da Escola de Engenharia:


Não é de facto normal não dar a um Assistente a possibilidade de ter mais um biénio para completar a sua tese. É no mínimo duvidoso que a anterior tomada de posição do Departamento não tenha influenciado a sua não aceitação desta prerrogativa dos Assistentes, que normalmente é um proforma.


Ver em
http://pralemdazurem.blogspot.com/


Veja também o vídeo de apresentação do livro

FACULTY INCIVILITY, The rise of the academic bully culture and what to do about it. Authors: Twale, D. J. & De Luca, B. M. (2008).

http://bulliedacademics.blogspot.com/2009/03/faculty-incivility-darla-twale-phd.html


segunda-feira, 29 de junho de 2009

De novo o caso DANIEL LUIS... que nunca deixou de o ser!

Em coerência com a linha editorial deste blog, bem expressa no respectivo título, aqui publiquei em 2008 dois posts alusivos à situação do nosso colega Daniel Luis: um em 4 de Março de 2008 (http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/03/o-caso-daniel-lus.html) e outro em 26 de Fevereiro de 2008 (http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/02/o-nosso-colega-daniel-luis-vive-uma.html). Acabo de consultar o blog do estimado colega Cadima Ribeiro (Professor Catedrático da Escola de Economia e Gestão), Universidade Alternativa, (http://universidadealternativa.blogspot.com/) e sobre este assunto leio um texto, sobre a situação actual do Daniel Luis, de que transcrevo o seguinte excerto:

Caros(as) Colegas,
Lembram-se de um caso envolvendo um assistente do IEP/IE que deu muita polémica na UMinho e fora dela entre o final do ano passado e o início do presente ano e que envolvia um blogue e questões de liberdade de expressão pessoal?
Pois bem, isto é, pois mal, soube-se entretanto pelos alunos que Daniel Luís, o assistente visado, tem despedimento aprazado para 7 de Setembro pf., decorrente da decisão unânime (???!) do Conselho de Departamento de lhe recusar o biénio para conclusão da tese.
(...)

Na altura do silenciamento do seu blog, o Daniel Luis foi recebido pelo Sr. Reitor, tendo-lhe sido assegurado que o Departamento estava a extravasar o âmbito das suas competências, ao reunir para decidir da não adequação do referido blog à sua condição de docente universitário.

Todavia o facto é que, depois dessa acção ilegítima e das múltiplas vicissitudes que se lhe seguiram, o Daniel Luis foi remetido ao completo isolamento, passou por fases em que tinha medo de frequentar o local de trabalho, vivia angustiado e caiu em depressão. Que condições humanas são estas para que alguém possa dedicar-se às suas actividades académicas, designadamente prosseguir o normal desenvolvimento do seu Doutoramento? Para uma melhor compreensão do enquadramento desta situação recomendo vivamente a leitura do artigo 24º do Código do Trabalho.

Segundo Leyman (1990):

Psychical terror or mobbing in working life means hostile and unethical communication which is directed in a systematic way by one or a number of persons mainly toward one individual. (…) These actions take place often (almost every day) and over a long period (at least for six months) and, because of this frequency and duration, result in considerable psychic, psychosomatic and social misery.

Segundo Davenport, Schwartz, e Elliot (1999) the ultimate goals of mobbing are to dominate, subjugate and eliminate.

E todavia, de acordo com os seus Estatutos, a Universidade do Minho i) preconiza a prossecução da sua missão “assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos”, ii) realiza a sua missão e objectivos “baseada no respeito pela dignidade da pessoa humana” e iii) rege-se por “princípios da igualdade, da participação democrática, do pluralismo de opiniões e de orientações”. Palavras que o vento leva sem deixar rasto... como se vê.

A pergunta que não pode deixar de se fazer é esta:

COMO PODE A CONSCIÊNCIA DA ACADEMIA CONVIVER COM ESTA SITUAÇÃO?

Leia aqui um artigo conciso e fundamental, de apenas 7 páginas, da autoria do psicólogo sueco-alemão Heinz Leyman, que no início da década de 80 cunhou a disciplina científica workplace mobbing:

http://www.mobbingportal.com/LeymannV&V1990(3).pdf

Veja também Bullying of Academics in Higher Education:

http://bulliedacademics.blogspot.com/

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ensino Superior: Grande concentração em Lisboa no dia 3 de Junho

Colegas

É o momento de darmos tudo por tudo na defesa da nossa dignidade profissional, da estabilidade de vínculos e do direito à carreira.

Na próxima 4 ª feira, 3 de Junho , pelas 14 h 30 / 15.h , realizar-se-á em Lisboa uma GRANDE CONCENTRAÇÃO DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR em apoio das posições assumidas pelas estruturas sindicais que intervêm no processo de revisão do ECDU e do ECPDESP.

Vão ser organizados transportes para facilitar a deslocação a Lisboa e participação na concentração de colegas de todas as instituições de ensino superior do país.

Aponta-se para que os colegas que querem participar na concentração, ou, em geral, manifestar apoio às estruturas sindicais, antecipem ou adiem as suas actividades programadas para 3 de Junho e que impliquem presença nas suas Escolas ou outros locais de ensino.

Os colegas que não consigam alterar a data das actividades programadas poderão deixar de as realizar ao abrigo de pre-aviso de greve enviado na passada terça feira ao Ministério de tutela, ao Ministério das Finanças e Administração Pública e ao Ministério do Trabalho, emitido exclusivamente para facilitar a participação na concentração.

A haver perda de remuneração, os associados do SNESup que participem na concentração serão compensados pelo Fundo de Greve e Solidariedade do Sindicato.

Estamos a acertar com as estruturas sindicais empenhadas em organizar esta concentração os vários aspectos de organização e a emissão dos respectivos textos.

O MCTES deixou passar a oportunidade para aproveitar a disponibilidade das estruturas sindicais para concertar soluções adequadas e constitucionalmente aceitáveis quanto a numerosos aspectos dos Estatutos, designadamente em matéria de regime transitório.

Não deixemos também nós, docentes do ensino superior , passar a oportunidade de dar força às estruturas sindicais que com o MCTES negoceiam em benefício de todos, nem de lutar por um futuro com mais estabilidade e por condições mais dignas do exercício da profissão.

Saudações académicas e sindicais

A Direcção do SNESup
em 31-5-2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A INFELICIDADE LABORAL

Frugalidade
29.05.2009, Joaquim Jorge, no Público

A vida tem de ter lugar para o lazer e não só para o trabalho: permitir a vida familiar, a amizade, a prática das artes.

Quantas pessoas vão cada dia trabalhar sentindo que o que fazem não tem sentido, não vale a pena, não é reconhecido ou não é reconhecido como deveria ser? As pessoas não se sentem realizadas. Centenas ou milhares? As pessoas estão despidas interiormente, a infelicidade laboral que nos leva a pensar que o trabalho é uma prisão, em que passam a maior parte do tempo a olhar para o relógio, o que fazem carece de sentido. (...) Cada um de nós revê-se facilmente em Sísifo, ao realizar pequenas rotinas do dia-a-dia, ao deparar-se com problemas repetitivos e inúteis, ao confrontar-se com o sofrimento, etc.

Estes pensamentos lembram-me outros. Por exemplo: que devemos trabalhar menos para viver melhor. Sou contra a busca obsessiva de "mais, mais e mais e cada vez mais". Outras gostam do que fazem, mas não como, nem com quem. Há sempre tanto para fazer que não há outro remédio que viver stressado. A tentativa das empresas para obterem lucros e benefícios não pode ter um crescimento perpétuo. (...) O objectivo é o poder aquisitivo que é enganoso e reduz as pessoas "à dimensão de consumidoras". Deve-se procurar mudar a organização e melhorar a repartição do trabalho. Não é aceitável que alguns empresários e administradores de empresas ganhem várias centenas de milhares de vezes mais do que o salário dos seus trabalhadores. Deve ser permitido às pessoas terem uma vida mais equilibrada e que dê lugar ao lazer e não só à vida laboral: que permita a vida familiar, a participação na comunidade onde vivemos, a vida associativa, a prática de artes, a actividade política, o cultivo das amizades, etc.

(...) O excesso de crescimento interfere nas condições ambientais, sociais e humanas. Devemos anteciparmo-nos e mudar de direcção. Se não o fizermos, será a recessão contínua e o caos. Temos de crescer em humanidade, tendo em conta todas as dimensões que constituem a riqueza humana. É preciso acabar com a ideia que crescimento é progresso e a situação sine qua non de um desenvolvimento justo.(...)

Devolver o protagonismo às pessoas e o espírito crítico frente ao modelo dominante "mais, mais e mais e cada vez mais". Substituir um crescimento estritamente económico por um "crescimento em humanidade". É um desafio que se deve tentar. E por vezes não fazer nada, para começarmos a fazer aquilo de que gostamos e nos dá prazer.
Biólogo. Fundador do Clube dos Pensadores (jota.jota@sapo.pt)

Comentário:

Nas universidades há pessoas felizes, mas há também uma grande dose de infelicidade laboral. Existe a infelicidade de se fazer uma imensidão de coisas rotineiras e pouco relevantes, porque "tem que ser", porque o emprego depende da quantidade de coisas que fazem parte de uma lista a que se chama currículo. A expressão "fazer currículo" sugere a ideia de currículo como um fim em si mesmo, quantas vezes desligado de uma actividade genuinamente relevante e pessoalmente significativa. A pressão é grande e por isso desenvolvem-se certos expedientes para acrescentar "mais uma linha no currículo", como se diz.

E há também a infelicidade de não se ser capaz de "digerir" essa forma de estar, dos que preferem fazer aquilo em que acreditam interiormente, em vez de entregarem a sua vida a desígnios destituídas de sentido para si - por isso resistem.

Em ambos os casos há muito atrito, logo, uma grande dose de energia dissipada: energia utilizada de forma não produtiva, sem possibilidade de ser reutilizada, ou seja, energia desperdiçada.

A noção de produção/produtividade científica soa frequentente a coisa muito estranha. Por exemplo, um trabalho de grande fôlego que precise de uns 3 anos para vir à luz do dia, é no final "apenas" uma publicação, depois de 3 anos não produtivos (o autor poderá eventualmente vir a publicar depois de despedido). Mas 3 anos com muitos pequenos fragmentos de investigação científica publicados é uma grande produção.

Será que é no afã de uma produtividade métrica que as grandes ideias encontram terreno fértil para emergirem, se elaborarem e resultarem em realizações científicas/humanas de grande relevo? As ideias frescas requerem o tempo e a serenidade de espírito que são cada vez mais escassos.

E o que é que os grandes desafios de hoje nos pedem? Investir no que nos está imediatamente à frente do nariz ou no que tenha um horizonte de mais largo alcance?

Maior felicidade laboral nas universidades passará certamente por maior espaço para a diversidade de estilos e filosofias de vida académica: o pendor de mais curto prazo de uns não deverá ser incompatível com a protensão reflexiva e de mais longo prazo de outros. E assim se cumprirá melhor a função da Universidade.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O Novo Ciclo que continua adiado na UM!

[Se o Reitor não se demitir]... temos um intervalo de mais de um ano, entre a eleição do órgão que elege o reitor e o acto em si de eleição do reitor, por este órgão. Será que o reitor não compreende isto? Será que não percebe que já não tem o apoio da Academia? A própria lista que se dizia "do reitor" demarcou-se dele no período eleitoral! Talvez por perceberem isso mesmo, que não interessava estarem associados a quem não tinha o apoio da Academia...O facto é que não é justo para a Academia que se adiem as decisões urgentes a tomar nos próximos tempos.
Jaime Gomes

quarta-feira, 22 de abril de 2009

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO: cinco departamentos

A Assembleia Estatutária do Instituto de Educação deu por concluídos os seus trabalhos, esperando-se agora a homologação da proposta de Estatutos. No artigo 25º, nº 2, os Estatutos do novo Instituto contemplam 5 departamentos:

a) Ciências Integradas, Metodologias e Supervisão Pedagógica;
b) Ciências Sociais da Educação;
c) Estudos Curriculares e Tecnologia Educativa;
d) Psicologia da Educação e Educação Especial;
e) Teoria da Educação e Educação Artística.

Um dos aspectos sobre os quais não se tinha criado um consenso prévio aos trabalhos da Assembleia Estatutária, nem após a audição promovida pela Assembleia já em funções, era o da eventual fusão do Departamentos de Metodologias de Ensino (DME) e do Departamento de Ciências Integradas e Língua Materna (DCILM) num único departamento. Ao decidir a criação do departamento de Ciências Integradas, Metodologias e Supervisão Pedagógica, a Assembleia Estatutária resolveu o diferendo no sentido da fusão daqueles departamentos.

A AE decidiu bem, contrariando a pretensão de certas pessoas em manterem como território fechado, um departamento que tem sido dirigido como se de uma propriedade privada se tratasse, com recurso à intimidação, à prepotência e outros abusos.

A AE decidiu bem, em conformidade com os princípios orientadores que preconiza para o novo Instituto de Educação, designadamente:

a) dignidade e integridade da pessoa e do seu desenvolvimento ético, cultural, científico, artístico, profissional, social e político;
(…)
b) igualdade, respeito pela diversidade, participação democrática, direito à informação, pluralismo de opiniões e de orientações;
(...)
e) cultura de qualidade, fundada na responsabilidade e na prevalência do interesse geral;
(…)
g) colegialidade, solidariedade universitária e bem-estar;

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Indicadores de academic moobbing!

Kenneth Westhues, sociólogo canadiano que tem investigado o academic mobbbing [assédio moral na academia] criou uma check-list de 16 indicadores para se reconhecer a ocorrência do fenómeno. São os seguintes:

1. O sujeito, que é alvo de moobing, situa-se pelo menos ao nível da média ou provavelmente acima da média, do ponto de vista do seu desempenho profissional.

2. Sobre o sujeito correm boatos e rumores sobre a sua suposta má conduta.

3. O sujeito não é convidado, não é indicado para grupos de trabalho ou o exercício de cargos - é excluído ou exclui-se ele próprio.

4. Um incidente crítico é motivo para um enfoque de grupo para sublinhar “a espécie de sujeito que ele/ela é realmente”.

5. Há uma partilhada convicção de que o sujeito merece algum tipo de punição institucional para “aprender a lição”.

6. O momento da decisão da punição é despropositado, incompreensível – há critérios de cálculo que só os decisores conhecem.

7. O sujeito é alvo de comentários com forte carga emotiva e difamatória, em forma de comunicações orais e escritas.

8. O sujeito é alvo da expressão formal de sentimentos colectivos de reprovação, tais como voto de censura, abaixo-assinado ou petição, reunião para discutir o que fazer com ele/ela.

9. Há um elevado secretismo, confidencialidade, e colegial solidariedade entre os mobbers [agressores].

10. No contexto de trabalho torna-se perigoso dar razão ao sujeito ou defendê-lo – isso conduz à destruição da liberdade e da diversidade de pontos de vista.

11. Há um coleccionar dos reais ou imaginados “pecados” do sujeito, em termos de em certo momento concluir-se que é preciso dizer “basta” – "é preciso fazer qualquer coisa".

12. O sujeito é apontado como pessoa perigosa, sem possibilidades de se redimir; é rotulado em termos estigmatizantes e repulsivos.

13. Apesar das regras e procedimentos institucionalmente estabelecidos, os mobbers tomam o “problema” nas próprias mãos, aplicando ao sujeito as regras da sua própria conveniência.

14. Os mobbers opõem forte resistência a qualquer forma de avaliação externa e independente das sanções aplicadas ao sujeito.

15. Os mobbers ficam furiosos face a qualquer tipo de reclamação ou pedido de ajuda exterior que o sujeito possa fazer.

16. Os mobbers temem acções violência do sujeito, o sujeito teme acções de violência dos mobbers, ou ambos ocorrem.

Segundo Konrad Lorenz, Prémio Nobel da Medicina ou Fisiologia, em 1973, e fundador da etologia, o mobbing entre as aves e os animais em geral, é um fenómeno motivado por instintos de sobrevivência. É muito comum entre as galinhas o facto de rejeitarem uma nova galinha que acaba de chegar - é uma ameaça para o grupo. Cada uma das que já estavam no galinheiro ataca a recém-chegada à bicada e mantém-na afastada da comida e da água. Cada bicada isoladamente não causa grande ferimento, mas o seu efeito cumulativo conduz à morte.

Segundo o mesmo autor, os humanos estão também sujeitos aos instintos inatos que engendram o mobbing, dispondo porém da faculdade de os submeter a um controlo racional. Mas parece que nem sempre conseguem…

domingo, 12 de abril de 2009

Faculty Incivility - livro apresentado em vídeo

Veja a apresentação em vídeo por uma das autoras:

http://bulliedacademics.blogspot.com/2009/03/faculty-incivility-darla-twale-phd.html

FACULTY INCIVILITY, The rise of the academic bully culture and what to do about it. Authors: Twale, D. J. & De Luca, B. M. (2008).

This important book addresses the prevalence of faculty incivility, camouflaged agression, and the rise of an academic bully clture in higher education. The authors show how to recognize a bully cluture that may form a result of institutional norms, organizational structure, academic culture and systemic changes. Filled with real-life examples, the book offers research-based suggestions for dealing with this disruptive and negative behavior in the acadenic workplace.

sábado, 11 de abril de 2009

Denunciar, Responsabilizar, Fiscalizar!

[Excerto de um diálogo por email com colega devidamente identificado(a)]

O objectivo que considero, neste momento, ser o mais urgente é apelar junto da academia para que os mecanismos legais sejam desencadeados e postos em funcionamento, por via interna ou externa, no sentido de pôr fim a ilegalidades e injustiças. Quando este tipo de suspeita recai sobre uma organização só uma auditoria ou inspecção externa e independente, comunicada a todos os intervenientes, poderá dar resultados.

O que interessa neste momento é denunciar, fiscalizar e responsabilizar. A intenção não deve ser apenas pedagógica, não se deve 'ajudar' os verdadeiros responsáveis a melhorar as suas competências ou a redimirem-se dos seus erros (já tiveram a sua oportunidade), mas contribuir para que eles sejam responsabilizados e eventualmente destituídos das suas funções, sendo substituídos por pessoas idóneas e capazes.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O assédio moral nas universidades: uma disciplina científica

Kenneth Westhues é Professor de Sociologia na Universidade de Waterloo, Canadá, sendo um dos seus principais domínios de investigação científica o academic mobbing, expressão que, em português, se aproxima do significado de assédio moral nos meios académicos. Dos vários livros sobre esta matéria, publicados por Kenneth Westhues, são especialmente elucidativos os seguintes títulos:

- Workplace Mobbing in Academe: Reports from Twenty Universities.
- The Envy of Excellence: Administrative Mobbing of High Achieving Professors
- Eliminating Professors: A Guide to the Dismissal Process
(uma sátira)

Existem diferentes terminologias para designar esta problemática, nomeadamente: assédio moral, em Portugal e no Brasil; mobbing nos países nórdicos, na Suiça, na Alemanha e na Itália; harassment ou mobbing nos Estados Unidos da América; ijime, no Japão; acoso moral em Espanha; bullying, na Inglaterra; harcèlement moral, na França.

Uma pesquisa na Internet com as palavras-chave “academic mobbing” ou “academic bullying” permite-nos subitamente tomar consciência de um fenómeno humanamente corrosivo no seio das universidades, que é amplamente objecto de investigação científica, contrariamente ao que se imagina em Portugal. Aí se encontram igualmente testemunhos, relatados na primeira pessoa, de académicos que viram as suas vidas devastadas pelo fenómeno de mobbing, de que foram vítimas.

O conceptualização do assédio moral no trabalho como matéria de interesse científico deve-se a Heinz Leyman (1932-1999), psicólogo alemão que desenvolveu os seus trablhos na Suécia, tendo para o efeito cunhado o termo mobbing. Segundo Messias Carvalho “a palavra 'mobbing' deriva do verbo inglês 'to mob' que, em português, significa atacar, maltratar, tratar mal alguém, cercar, rodear, … O substantivo 'mob', donde deriva o verbo, significa populaça, gentalha, turba, ralé… “

Segundo Leyman (1990):

Psychical terror or mobbing in working life means hostile and unethical communication which is directed in a systematic way by one or a number of persons mainly toward one individual. (…) These actions take place often (almost every day) and over a long period (at least for six months) and, because of this frequency and duration, result in considerable psychic, psychosomatic and social misery.

Entre vários dos efeitos do mobbing sobre as vítimas, o mesmo autor refere:

Psychological: A feeling of desperation and total helplessness, a feeling of great rage about lack of legal remedies, great anxiety and despair.

Psychosomatic and psychiatric: Depressions, hyperactivity, compulsion, suicides, psychosomatic illness. There are suspicions that the experiences deriving from this social situation have an effect on the immune system (one company physician observed a couple of "mysterious" cases of cancer).

Tais fragilidades permitem aos mobbers (agentes de mobbing - agressores) a acção perversa de tentarem capitalizar a seu favor os danos que conseguem causar sobre os mobbed (vítimas de mobbing), apontando os seus problemas de saúde e as dificuldades de desempenho profissional como a “prova” de que todo o problema reside neles. O que é preciso então é a “solução final”: eliminá-los. Segundo Davenport, Schwartz, e Elliot (1999) o objectivo final do mobbing é de facto “dominar, subjugar e eliminar”. Os meus aturados "estudos" sobre esta matéria não me deixam a mais pequena dúvida sobre a verdade do que afirmam estes autores.

E se aquele que é alvo de mobbing, alega em sua defesa os danos que lhe estão sendo causados, em consequência da violência psicológica a que está sujeito, aponta-se-lhe de novo o dedo acusador: com escárnio e desprezo diz-se-lhe que se vitimiza como justificação para as suas fraquezas. Na perspectiva desta teoria, os sobreviventes dos campos de concentração nazi seriam poibidos de relatar os horrores por que passaram: não seriam vítimas, estariam a fazer-se de vítimas. Mas, pior do que uma simples teoria estúpida, do que se trata é de uma acção que tende a fazer a vítima acreditar que tudo o que possa fazer em sua defesa se volta contra contra si própria, que está cercado por todos os lados, e que não há outro caminho que não seja deixar-se desfalecer no silêncio.

Títulos como A Inveja da Excelência: o Ataque dos Dirigentes a Professores de Elevado Mérito... não podem deixar de nos arrepiar. E quantas vezes os mobbers usam o discurso da Excelência, do supremo Bem das instituições/departamentos, para legitimar as suas agressões? Discurso falacioso da cultura de pensamento único! Os especialistas demonstram de forma bem fundamentada os enormes prejuízos que resultam do fenómeno de mobbing para as organizações e a sociedade.

Alguns links sobre academic mobbing:

domingo, 5 de abril de 2009

António Damásio: duas ideias para uma Universidade Inteligente!

Da entrevista do ilustre neurocientista português, radicado nos Estados Unidos, António Damásio, a Judite da Sousa, na RTP1, na quinta-feira passada, retenho duas ideias importantes (cito de memória):

1 - Para a Natureza é indiferente que o Homem pratique o Bem ou o Mal. Porém, o desenvolvimento dos estudos sobre a consciência humana, que as neurociências estão hoje em condições de prosseguir e aprofundar, cria a possibilidade de uma evolução da espécie humana numa direcção em que o bem-estar de cada ser humano será indissociável do bem-estar do outro.

Comentário:

Pela mão das conjecturas da Ciência somos reconduzidos à dimensão do Transcendente. Na linha do tempo de uma tal perspectiva de evolução humana, os poderes que hoje promovem o mal-estar das pessoas dentro da sua esfera de influência situam-se porventura na idade das cavernas.

2 – O que mais aprecio nos Estados Unidos, na Universidade onde trabalho, não são os meios e a sofisticada tecnologia de investigação; essa está hoje disseminada por todo o mundo desenvolvido. O mais importante é a oportunidade do diálogo inteligente com os meus colegas – esse é o factor mais decisivo para dar resposta aos problemas e avançar.

Comentário:

O bullying académico (Twale. D. J. & De Luca, 2008) só pode ser o grau abaixo de zero do diálogo inteligente. Este fenómeno é uma realidade que assume uma expressão cada vez mais acentuada, mas permanece ainda um assunto tabu, especialmente em Portugal. O bullying não é um problema exclusivo de crianças, adolescentes ou jovens nas escolas básicas e secundárias; é um problema sério no seio da comunidade de docentes universitários.

É pois oportuno que o Departamento de Metodologias de Ensino (DME), numa sua reflexão sobre a constituição de um novo departamento, no âmbito do processo de reestruturação do IEC e do IEP, com vista ao novo Instituto de Educação, preconize o seguinte princípio de funcionamento: deve zelar, na sua organização e acção, pela criação de um clima de satisfação e bem-estar profissional, promovendo a participação dos seus membros nos processos de decisão.

Referência:

Twale, D. J. & De Luca, B. M. (2008). Faculty Incivility. The rise of the academic bully culture and what to do about it. San Francisco: John Wiley & Sons, Inc.

segunda-feira, 30 de março de 2009

PODEM PASSAR MIL ANOS...!

Na sequência de incidentes do costume... (desta vez, desde 22 de Outubro de 2008), - que me levaram a ficar sem condições físicas e psíquicas para trabalhar, e tornaram insuportável a minha permanência no local de trabalho - vi-me recentemente forçado a recorrer à baixa-médica por cerca de um mês. Esta situação tem a ver com a sistemática obstrução a projectos académicos que tento concretizar. Podem passar mil anos, mas eu jamais aceitarei viver na Universidade do Minho submetendo-me a esta prepotência - é estranho que seja tão difícil entender-se que negar o pensamento é uma forma de mutilação da existência.

Está em curso um novo Inquérito da Inspecção Geral da Ciência e Ensino Superior na UM. Nas presentes circunstâncias considerei oportuno reeditar o seguinte texto:

LIBERDADE DE CRIAÇÃO: O ANTÍDOTO PARA O NOSSO ATRASO!

No dia 1 de Janeiro de 2008, dava eu a conhecer este blog a toda a academia minhota, movido pelo irreprimível impulso pessoal de afirmar o direito à Liberdade na Universidade do Minho.Não é de Liberdade em abstracto que eu falo, mas, desde logo, da Liberdade de eu próprio realizar um trabalho académico de profundo comprometimento com a transformação da qualidade de ensino no 1º ciclo do Ensino Básico, iniciado há duas décadas (ver blog aqui ao lado: http://geniociencia.blogspot.com/ ). A realidade educativa por mim conhecida no terreno das escolas, uma realidade parada no tempo, (à luz do que tinha sido há 30 anos a minha instrução primária), e, em contraste, a fascinante descoberta dos caminhos de um processo educativo fecundo e transformador, vivido com as crianças, impeliram-me na direcção de um trabalho apaixonado. E aí permaneci, tendo mais tarde compreendido melhor o que se passava comigo, ao ler Karl Popper:

(...) penso que só há uma caminho para a ciência ou para a filosofia, (...): encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe - a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem estar poderão trabalhar com um sentido, até ao fim dos vossos dias. (Popper, 1989: 219).

E os sucessivos resultados dos estudos internacionais em literacia matemática, na língua e em ciências (colocando-nos sempre à volta do 30º lugar, num conjunto de cerca de 40 países), impunham em mim uma demanda maior nesse imperativo de consciência cívica que me impelia para a acção. Sim, porque também é possível as pessoas moverem-se por um princípio ético de compromisso com o interesse geral da comunidade a que pertencem. Todavia, uma surpreendente adversidade, metódica e sistemática, se opunha à realização de projectos e concretização de ideias, umas vezes por baixo da mesa, outras vezes de forma brutal, com graves sequelas para a minha saúde. Vinte anos de resistência a acções persecutórias, sem a qualquer acção institucional, perante dezenas de queixas, participações e apelos, está para além das forças de qualquer ser humano. Comecei então a tentar compreender o que se passava para lá das explicações mais visíveis e imediatas.

Confesso que durante muitos anos recusei a ideia de sermos um povo dotado de uma idiossincracia que nos diminui face aos restantes povos europeus. Recusava essa ideia com a mesma intensidade com que me entregava à realização do meu melhor em prol da educação. Todavia à medida que os anos de vida académica iam passando, essa minha convicção foi-se desvanecendo.

Havia que compreender por que motivo se fechavam as portas a projectos que, na minha boa-fé, tinham como motivação um sério comprometimento com o interesse público, designadamente a educação nos primeros anos de escolaridade?; por que motivo garantias de apoio, falhavam mais adiante, sem explicação?; por que motivo me confrontava com pareceres, uns capciosos, outros fraudulentos?; por que motivo se movem forças destrutivas de cada vez que estou tranquilo com uma trabalho relevante em mãos?; e por que motivo incentivos e apoios entusiásticos expressos, primeiro por escrito e depois no gabinete da 5 de Outubro, ao nível de Ministro da Educação ("rentabilizar este potencial da Universidade do Minho" - expressão utilizada na altura), vêm depois a ser sabotados, mais abaixo na hierarquia ministerial?

A primeira coisa que se tornou claro para mim foi que realizar um trabalho à margem da cultura educacional dominante era "inconveniente" e incómodo. Para entender melhor o fenómeno comecei a interessar-me mais pela História de Portugal e pela Filosofia. Em José Gil vejo que a noção de interesse público, como parte integrante do ser-se cidadão, é coisa escassa entre nós; é por isso que os poderes de pequenas figurinhas avaliam ideias e projectos, não em função do seu alcance social, mas em função de como interferem com o seu estatuto, prestígio e poder. Vejo com uma impressionante nitidez a forma como os poderes mesquinhos conflituam com o interesse geral.A Inquisição fez de Portugal um Estado religioso policial que perseguia ferozmente qualquer assomo de liberdade, quer do ponto de vista religioso (eventuais simpatias pelo movimento da Reforma Protestante), quer do ponto de vista político - os reis transformou-os a Igreja Católica em déspotas imorais, por via do Concílio de Trento (Antero de Quental).

Assim medrou entre nós a tradição e a “legitimidade” de marginalizar, ostracizar, perseguir e aniquilar pessoas de pensamento independente, desalinhadas de um sistema de poder vigente, bem como da cultura de que se alimenta esse sistema de poder [ ...numa acta, de 1990, ... - é extraordinário!].

Nesse caldo de cultura, os que prevaricam estão sempre lavados, branqueados ... Nada se inscreve, como diz o filósofo José Gil; ó isso já foi há muito tempo, costuma dizer-se, e pronto, não se fala mais no assunto. A lei não se aplica e o tempo limpa tudo na memória curta, fenómeno que se impõe pela necessidade de se anestesiar o desconforto moral das consciências. Ao injustiçado aponta-se facilmente o "defeito" de estar agarrado ao passado: que olhe em frente, diz-se. Mas, como olhar em frente se o tão esperado virar de página não acontece nunca, por mais esforços que se façam para arrancar a mágoa das entranhas e por melhor boa-vontade que se demonstre? Enganados ou enganosos conselhos esses! Não, o que a dolorosa experiência ensina é que a impunidade inscreve no futuro a continuação do passado de agressão e de injustiça.

Como os meus já sedimentaos 53 anos de idade, 20 dos quais na carreira académica (no meu percurso profissional há mais mundo para além da Universidade), eu aprendi que um determinado trabalho académico, feito com honestidade e sincera dedicação, pode gerar verdadeiro pavor em certas pessoas. E que esse pavor põe em marcha forças davastadoras inimagináveis, que se movem em surdina, de forma dissimulada, que raramente se mostram às claras. E aprendi que, na Universidade tão repetidamente dita humanista, a vida de um ser humano não vale um pataco furado, aos olhos de certas formas de exercer o poder universitário.Tudo isto convive na perfeição com a democracia formal das instituições e do país, e com o nosso Estado (dito de) Direito.

Os resultados de tudo isto são a tendência para o servilismo face aos poderes, a ausência de pensamento crítico e de ideias livres, a idolatria de pseudo-intelectuais, o imobilismo que faz do futuro a perpetuação do passado – e tudo isto é afinal o nosso atraso cultural, científico, económico e social. (A este propósito recomendo vivamente a leitura de Antero de Quental, 2008: Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, com prefácio de Eduardo Lourenço).

É contra esta fatalidade de vivermos imersos num espesso nevoeiro - que nos tolda a visão nos sufoca as energias renovadoras -, feito de lamúria, medo, inveja, ciúme, falta de acção e audácia, que os espíritos livres devem erguer bem alto as suas vozes. E neste meu apelo estou certo de expressar o sentimento de milhares de pessoas que trabalham nas universidades portuguesas.

Ver Poderes e Estagnação Educacional no 1º Ciclo do Ensino Básico em http://www.portaldacrianca.com.pt/artigosa.php?id=74