quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

TRANSFORMAR A CULTURA INSTITUCIONAL DA UMinho

[Texto distribuído hoje na rede lectrónica da UM]

Caros colegas Professores e Investigadores


Já vai no adro o processo eleitoral com vista à constituição do Conselho Geral, órgão da mais alta importância no futuro da UM. Todavia o processo democrático em curso não deverá focar-se apenas na discussão sobre o entendimento de cada lista quanto às funções do CG e o modo como se articulam com os restantes órgãos de poder. É importante, é necessário que neste processo democrático se debata a Universidade, em que órgãos e pessoas exercem poderes. E uma parte importante desse debate incide em questões como:

- Que concepção de poder defendemos na Universidade?
- Que cultura institucional subjaz ao exercício do poder nesta Universidade?
- De que “maturidade democrática” se fala? A dos sujeitos suficientemente “maduros” para serem eleitos ou a da instituição?

1. A concepção do poder académico nos diversos níveis hierárquicos e órgãos, é uma dimensão fundamental da cultura universitária. Aí se decide se a Universidade se caracteriza por uma cultura democrática ou por uma cultura autoritária. Aí se decide se a cidadania e o humanismo são apenas figuras de retórica, ou se têm um significado substantivo, vivido em sentimentos de satisfação e bem-estar, no quotidiano das pessoas.

Numa sociedade democrática, alicerçada no Estado de Direito, a todas as formas de poder está cometida a nobre função de promoção do bem comum, exercendo-se sempre no pleno respeito pela dignidade humana.

Os exemplos em que os poderes perseguem interesses pessoais e de grupo, tendem a promover um clima de opressão, de violação dos legítimos direitos das pessoas e de privação da liberdade de expressão. Nesse contexto institucional a criatividade definha, a inovação e a capacidade empreendedora das pessoas dão lugar à passividade, instalam-se a desconfiança e as estratégias individuais de sobrevivência, as relações interpessoais degradam-se e deixa de haver espaço para saudáveis dinâmicas de trabalho em equipa. Não é pois legítimo invocar-se valores de participação democrática olhando para cima, fincando bem as botas em cima dos que estão por baixo.

Questionemo-nos então, como eleitores, quem, pela sua vivência e conduta académica, é merecedor de confiança para a promoção de uma concepção de poder ao serviço do bem-comum e para a promoção de uma cultura universitária democrática por oposição à cultura autoritária em que vivemos.

2. O exercício do poder académico democrático não estabelece linhas de balcanização que colocam de um lado os que lhe são “próximos” e de outro os que assumem a liberdade de uma postura independente. Isso é frequente entre nós, e não raras vezes se tomam os primeiros como paladinos do bem da instituição e os últimos como os inimigos da instituição. Esta forma de maniqueísmo perversa precisa de ser erradicada da Universidade do Minho. Questionemo-nos então, como eleitores, quem nos oferece, por actos e não por palavras, as melhores garantias de promover uma cultura democrática de equidade e de justiça na forma como o poder se relaciona com os membros da Academia, quaisquer que eles sejam.

3. Só um poder académico de cultura democrática se subordina à Lei e ao Estado de Direito. Não pode haver dúvidas quanto à garantia da legalidade dentro da UM. Se assim não for alastra a todo o tecido institucional a ideia de ausência de um poder arbitral, isento e independente, que actue em conformidade. Instalam-se por diversos recantos da instituição poderes discricionários que impunemente actuam à margem da Lei. Questionemo-nos então, como eleitores, quem nos oferece, pelo exemplo da sua conduta académica, a garantia de promover uma cultura institucional de absoluto respeito pela legalidade e de garantia dos direitos legalmente protegidos a todos sem excepção.

4. O engrandecimento da Universidade do Minho é indissociável de uma transformação da sua cultura institucional. Torna-se então necessário trabalhar no sentido de dotar a Universidade do Minho de um conjunto de valores de integridade académica, de mecanismos de auto-regulação eficazes e de instâncias de recurso, com indiscutíveis garantias de isenção e imparcialidade.

5. Há muitos anos defendo empenhadamente valores e princípios, motivo por que tornou a minha vida académica particularmente difícil e penosa. Não há nisso nenhum especial mérito meu pois limitei-me a acções que a minha legítima defesa impunha. Partilho agora do espaço de discussão, de reflexão e intervenção académica que é o Movimento Novos Rumos, Novos Desafios. Este Movimento apresenta uma lista ao Conselho Geral apenas como uma das suas formas de intervenção académica. Aí estarei, não para delegar nos eleitos ao CG a defesa de ideias, projectos e princípios, mas para com eles dialogar na construção e definição dos mesmos.

Nesse Movimento continuarei para além das eleições no propósito de contribuir para a transformação de um cultura académica autoritária numa cultura académica democrática, que pense no bem-estar das pessoas. Uma cultura que devolva às pessoas a alegria no contexto profissional. E só assim seremos verdadeiramente criativos, produtivos e engrandeceremos a Universidade do Minho.

Joaquim Sá

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"Por uma efectiva liberdade de expressão e de divulgação permanente de opinião".

(Excertos da Mensagem da Lista dos funcionários não docentes, candidata às Eleições para o Conselho Geral, divulgada na UM no dia 20 de Janeiro.

UMA UNIVERSIDADE EM MUDANÇA,
UM PARA TODOS

Caros Colegas

Trabalhadores não docentes e não investigadores

Apresentamos ontem, nos termos regulamentares, a nossa candidatura à eleição para a representação do pessoal não docente e não investigador, ao Conselho Geral, que terá lugar no próximo dia 2 de Março.
(...)

Os trabalhadores não docentes têm apenas um representante neste órgão, por opção estatutária na Universidade do Minho, o que pode significar, em tese, uma reduzida capacidade de actuação e de influência nas decisões a tomar. Não obstante, a representação dos trabalhadores não docentes pode traduzir-se num importante instrumento de influência, enquanto veículo de informação, e ainda de transmissão da sua singular perspectiva, no seio do Conselho Geral, em numerosos aspectos, designadamente nos relacionados com a gestão da Universidade.

É nossa convicção, por outro lado, que o saber adquirido dos trabalhadores, na vivência prática do quotidiano da Universidade, porque transversal às diversas áreas, constituirá um significativo contributo para o bom funcionamento do órgão, tendo em conta as particulares valências decorrentes da sua intervenção.
(...)

O que nos une - e nos move - é a defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores não docentes, bem como, a afirmação do seu papel enquanto interlocutores essenciais na vivência universitária.

As mudanças operadas pelo novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, bem como, pelos actuais Estatutos da Universidade do Minho, implicam uma profunda transformação do modelo organizacional da Universidade, impondo a todos um redobrado empenho na sua implementação.
(...)

No que toca aos trabalhadores não docentes e não investigadores, esta situação é particularmente complexa, face às alterações decorrentes do novo regime de vínculos, carreiras e remunerações, bem como, ao Contrato de Trabalho em Funções Públicas, já em vigor. Espera-se de cada um, em particular, e de todos, em geral, um esforço acrescido no conhecimento dos seus deveres, e na defesa dos direitos e garantias a eles associados.

Candidatamo-nos em nome de uma intervenção fortemente independente, crítica e responsável. Por uma efectiva liberdade de expressão e de divulgação permanente de opinião.
(...)

A lista tem a seguinte composição:

Maria Fernanda Teixeira Ferreira - Assessoria Jurídica
Amaro António Magalhães Rodrigues - Escola de Ciências
Severina Manuela Costa Araújo - Serviços de Documentação
José Emílio Costa Palmeira - Instituto de Educação

A mandatária da Lista é a Drª Natália Martins Ferreira, da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Comentário:

Nesta época eleitoral que vivemos é muito importante que se fale do Direito à Liberdade de Expressão e de Opinião na Universidade do Minho; do Direito a uma Intervenção Independente e Crítica, sem represálias. Porque esse é o espírito universitário que se proclama. Quando esse espírito está em crise mais necessário se torna reivindicar a sua recriação no seio da comunidade académica. Bem hajam os funcionários não docentes por levantarem a sua voz na defesa do ideal de universitário.

Considerando os factos do passado (ver em http://liberdadeuminho.blogspot.com/2008/07/reeleio-da-lista-dos-funcionrios-no_07.html ) a apresentação desta lista única de candidatos de funcionários não docentes ao Conselho Geral tem um significado muito relevante. Com efeito, a mesma corrente de opinião de funcionários que agora se apresenta, ganhou as eleições para representantes ao Senado em 28/03/07 e de novo em 25/06/07, face a uma outra lista, depois de uma impugnação das eleições, por via de métodos muito pouco edificantes.

Nesta altura é pertinente perguntar onde estão aqueles que, depois de derrotados pelos votos brancos (quando se apresentaram como lista única), tudo fizeram para impedir que os representantes eleitos dos funcionários tomassem os seus lugares no Senado? Aprendida a lição, de três sucessivas derrotas, estão agora elucidados sobre quanto valem entre os funcionários, as práticas e os valores que representam.

Lembrar isto nesta altura é inscrever no tempo os factos do passado para melhor reconhecer e dar significado os factos do presente. É uma prática de pedagogia para se aprender com a experiência. É contrariar a lógica de branquiamento que conduz à repetição dos vícios do passado. É lembrar que, por vezes, vale a pena lutar com convicção e perseverança por aquilo em que se acredita. A memória quer-se viva na presente construção do futuro.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Ó isso já foi há muito tempo!

Foi assim também que a vida social portuguesa, agora pacificada, normalizada, viu a não inscrição reassumir os seus privilégios em todo o seu esplendor. Tal ministro que se aproveita ilegalmente de uma lei para escapar ao fisco demite-se para voltar á tona incólume, meses ou anos depois; o escândalo que mancha a acção de um governante, longe de o afastar definitivamente da política, pode ser mesmo a ocasião para começar uma carreira com um futuro ainda mais brilhante (…) Nada tem realmente importância, nada é irremediável, nada se inscreve.

E tudo se desenrola sem que os conflitos rebentem, sem que as consciências gritem, é porque tudo entra na impunidade do tempo – como se o tempo trouxesse, imediatamente, no presente, o esquecimento do que está à vista, presente.

José Gil
Comentário:

Mutatis mutantis … por aqui bem perto. Esquecer o que está à vista, bem perto, bem presente. As operações de branqueamento limpam mais branco que a lixívia ... Ó isso já foi há muito tempo! Ossanas à paz dos cemitérios! Vamos recomeçar de novo, vai ser tudo diferente, com os mesmos artistas de glória, incólumes nos lugares de sempre. Os esqueletos são muitos... mas estão bem guardados no armário. "Que chatisse pá, vens agora com isso, olha o futuro. Deram-te na tromba? E depois, isto é mesmo assim, os outros também levam, faz parte... Não sabias?". A realidade não existe... Vivemos na ficção da realidade feita de patéticas gargalhadas e amarelos sorrisos que dissimulam a podridão. Não há lugar para ser; apenas para parecer. ..

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

VALORES E PRINCÍPIOS DE INTEGRIDADE ACADÉMICA NA UNIVERSIDADE DO MINHO

(Mensagem hoje distribuída a toda a Academia)

Caros(as)Colegas
Professores(as) e Investigadores(as) da Universidade do Minho:

Após termos tornado pública a nossa intenção de nos apresentarmos às eleições para os órgãos de governo da Universidade, através de mensagem que dirigimos à Academia no passado dia 4 de Janeiro, é a ocasião de vos apresentarmos a "carta de valores e princípios e de integridade académica" que informa o nosso Movimento, que passamos a transcrever:

UMinho: NOVOS DESAFIOS, NOVOS RUMOS
- carta de valores e princípios e de integridade académica –


O Movimento UMinho, 'Novos Desafios, Novos Rumos', orienta-se pelo ideal de uma universidade alicerçada na integridade académica[1], entendida como comprometimento com os seguintes valores fundamentais: Honestidade, Confiança, Transparência, Respeito e Responsabilidade. Deste conjunto de valores derivam princípios orientadores da conduta pessoal e colectiva, congruente com a nobre missão da universidade.

1. Honestidade. A Universidade promove a busca da verdade e do conhecimento por caminhos indissociáveis da probidade pessoal nos diversos domínios: na aprendizagem, no ensino, na investigação e nos serviços.

2. Confiança. A Universidade promove relações profissionais que beneficiem de recíproco conhecimento e crença na lealdade dos membros da comunidade académica, favorável à livre troca de ideias e pontos de vista, permitindo a cada um a mais elevada realização do seu potencial humano e profissional.

3. Transparência. A Universidade promove procedimentos e padrões de conduta desejáveis, claros e de todos conhecidos, bem como a equidade e impessoalidade das regras organizadoras da conduta de estudantes, docentes, funcionários e chefias.

4. Respeito. A Universidade promove a participação apreciada e deferente entre os membros da comunidade académica, o reconhecimento da natureza participativa do processo de aprendizagem e a valorização da diversidade e pluralidade de ideias e opiniões.

5. Responsabilidade. A Universidade promove a determinação de direitos e deveres dos seus membros e confia na sua capacidade de agir para prevenir e corrigir erros e superar dificuldades.

À luz dos princípios enunciados, a UM carece de enfrentar este desafio - a renovação da sua cultura institucional. Contribuir para essa renovação cultural será um dos rumos fundamentais do Movimento, pois acreditamos que promoverá mais elevados desempenhos organizacionais e pessoais, rentabilizará o potencial criativo e produtivo existente.

Aproveitamos igualmente a oportunidade para vos informar que este e outros documentos e informações sobre o nosso Movimento e respectivo ideário estão já disponíveis em http://um-novosdesafios.blogspot.com , e ficarão também acessíveis, a breve prazo, num sítio cujo endereço vos indicaremos oportunamente.

Saudações académicas,


Signatários (por ordem alfabética)

António Cândido de Oliveira
António Costa Marques Pinho
Carlos Alberto C. M. Couto
Carolina Machado
Fernando Sousa Castro
Francisco Carballo Cruz
Graça M. Barbosa Soares
Ivo Domingues
Jaime Rocha Gomes
Joaquim Gomes Sá
Joaquim José S. Esteves Neves
José Alberto Gomes Precioso
José António Cadima Ribeiro
José C. Fernandes Teixeira
José Manuel Vieira
José Luís Barroso Aguiar
Maria Cândida L. G. Vilarinho
Maria Clara Costa Oliveira
Maria Eduarda Coquet
Maria Filomena P Antunes Brás
Maria Manuela S. P. Silva
Nuno Pinto Oliveira
Rui António Ramos
Vasco Eiriz Sousa

[1] The Center for Academic Integrity (1990). The Fundamental Values of Academic Integrity. Duke University Durham, North Carolina. The Center for Academic Integrity (CAI) is a consortium of over 360 institutions who share with peers and colleagues the Center's collective experience, expertise, and creative energy.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Poderes e Estagnação Educacional...

(...)
Os resultados da nossa investigação demonstram de forma clara que neste tipo de ensino as crianças desenvolvem as suas capacidades cognitivas (tornam-se mais inteligentes), melhoram a qualidade das suas aprendizagens no domínios da língua e das ciências, desenvolvem competências de resolver problemas novos e tornam-se mais reflexivos face aos seus pares. Todos estes indicadores foram medidos. Tudo isto é o resultado de práticas que têm sido validadas e aperfeiçoadas, de forma recorrente, por diferentes investigadores e professores, em diferentes contextos, com diferentes anos de escolaridade e que se distribuem no tempo ao longo de mais de uma década.

(...)
Ver artigo Poderes e Estagnação Educacional no 1º Ciclo do Ensino Básico em http://www.portaldacrianca.com.pt/

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Nomeação da Comissão Eleitoral para a Assembleia Estatutária do novo Instituto de Educação

A todos os eleitores do Instituto de Educação:

- Docentes e investigadores;
- Funcionários não docentes;
- Estudantes.

Conforme determina o Despacho RT-136/2008, realizar-se-á no dia 10 de Março de 2009 o Acto Eleitoral para a Assembleia Estatutária do Instituto de Educação. O processo eleitoral rege-se pelo respectivo Regulamento Eleitoral e um Calendário Eleitoral que se encontram em anexo ao mesmo Despacho.

A Comissão Eleitoral (criada pelo Despacho IE-01/2008; que se envia em anexo) chama a atenção de todos os eleitores para alguns pontos mais salientes do Calendário Eleitoral:

. Reclamações sobre os Cadernos Eleitorais Provisórios: 8 a 12 de Janeiro de 2009
. Apresentação de listas de candidatos: 16 a 19 de Janeiro de 2009
. Reclamações sobre a aceitação de listas: 26 de Janeiro de 2009
. Período de campanha eleitoral: 3 a 9 de Março de 2009

Os Cadernos Eleitorais Provisórios foram afixados/divulgados em 19 de Dezembro de 2008 no Instituto de Educação e na página da Internet da Universidade do Minho.

Os documentos acima referidos poderão ser encontrados em:
http://www.uminho.pt/Default.aspx?tabid=25&pageid=972&lang=pt-PT

O local de contacto com a Comissão Eleitoral é a sala CE 0043 A (Secretaria da antiga presidência do IEC), onde se encontra a Drª Maria da Conceição Costa, e o endereço de e-mail é:
c.eleitoral.ie@iep.uminho.pt

A Comissão Eleitoral salienta a relevância das funções da Assembleia Estatutária para a definição dos princípios que irão reger o funcionamento futuro do Instituto de Educação, e apela a uma participação ampla e consciente dos eleitores do Instituto neste processo eleitoral.

Saudações académicas


A Presidente da Comissão Eleitoral
do Instituto de Educação


Graça Simões de Carvalho
- Professora Catedrática -

sábado, 3 de janeiro de 2009

Liberdade na UMinho: 1º ANIVERSÁRIO!

LIBERDADE DE CRIAÇÃO: O ANTÍDOTO PARA O NOSSO ATRASO!

No dia 1 de Janeiro de 2008, dava eu a conhecer este blog a toda a academia minhota, movido pelo irreprimível impulso pessoal de afirmar o direito à Liberdade na Universidade do Minho.

Não é de Liberdade em abstracto que eu falo, mas, desde logo, da Liberdade de eu próprio realizar um trabalho académico de profundo comprometimento com a transformação da qualidade de ensino no 1º ciclo do Ensino Básico, iniciado há duas décadas (ver blog aqui ao lado: http://geniociencia.blogspot.com/ ). A realidade educativa por mim conhecida no terreno das escolas, uma realidade parada no tempo, (à luz do que tinha sido há 30 anos a minha instrução primária), e, em contraste, a fascinante descoberta dos caminhos de um processo educativo fecundo e transformador, vivido com as crianças, impeliram-me na direcção de um trabalho apaixonado. E aí permaneci, tendo mais tarde compreendido melhor o que se passava comigo, ao ler Karl Popper:

(...) penso que só há uma caminho para a ciência ou para a filosofia, (...): encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe - a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem estar poderão trabalhar com um sentido, até ao fim dos vossos dias. (Popper, 1989: 219).

E os sucessivos resultados dos estudos internacionais em literacia matemática, na língua e em ciências (colocando-nos sempre à volta do 30º lugar, num conjunto de cerca de 40 países), impunham em mim uma demanda maior nesse imperativo de consciência cívica que me impelia para a acção. Sim, porque também é possível as pessoas moverem-se por um princípio ético de compromisso com o interesse geral da comunidade a que pertencem. Todavia, uma surpreendente adversidade, metódica e sistemática, se opunha à realização de projectos e concretização de ideias, umas vezes por baixo da mesa, outras vezes de forma brutal, com graves sequelas para a minha saúde. Vinte anos de resistência a acções persecutórias, sem a qualquer acção institucional, perante dezenas de queixas, participações e apelos, está para além das forças de qualquer ser humano. Comecei então a tentar compreender o que se passava para lá das explicações mais visíveis e imediatas.

Confesso que durante muitos anos recusei a ideia de sermos um povo dotado de uma idiossincracia que nos diminui face aos restantes povos europeus. Recusava essa ideia com a mesma intensidade com que me entregava à realização do meu melhor em prol da educação. Todavia à medida que os anos de vida académica iam passando, essa minha convicção foi-se desvanecendo.

Havia que compreender por que motivo se fechavam as portas a projectos que, na minha boa-fé, tinham como motivação um sério comprometimento com o interesse público, designadamente a educação nos primeros anos de escolaridade?; por que motivo garantias de apoio, falhavam mais adiante, sem explicação?; por que motivo me confrontava com pareceres, uns capciosos, outros fraudulentos?; por que motivo se movem forças destrutivas de cada vez que estou tranquilo com uma trabalho relevante em mãos?; e por que motivo incentivos e apoios entusiásticos expressos, primeiro por escrito e depois no gabinete da 5 de Outubro, ao nível de Ministro da Educação ("rentabilizar este potencial da Universidade do Minho" - expressão utilizada na altura), vêm depois a ser sabotados, mais abaixo na hierarquia ministerial?

A primeira coisa que se tornou claro para mim foi que realizar um trabalho à margem da cultura educacional dominante era "inconveniente" e incómodo. Para entender melhor o fenómeno comecei a interessar-me mais pela História de Portugal e pela Filosofia. Em José Gil vejo que a noção de interesse público, como parte integrante do ser-se cidadão, é coisa escassa entre nós; é por isso que os poderes de pequenas figurinhas avaliam ideias e projectos, não em função do seu alcance social, mas em função de como interferem com o seu estatuto, prestígio e poder. Vejo com uma impressionante nitidez a forma como os poderes mesquinhos conflituam com o interesse geral.

A Inquisição fez de Portugal um Estado religioso policial que perseguia ferozmente qualquer assomo de liberdade, quer do ponto de vista religioso (eventuais simpatias pelo movimento da Reforma Protestante), quer do ponto de vista político - os reis transformou-os a Igreja Católica em déspotas imorais, por via do Concílio de Trento (Antero de Quental).

Assim medrou entre nós a tradição e a “legitimidade” de marginalizar, ostracizar, perseguir e aniquilar pessoas de pensamento independente, desalinhadas de um sistema de poder vigente, bem como da cultura de que se alimenta esse sistema de poder [ ...numa acta, de 1990, ... - é extraordinário!].

Nesse caldo de cultura, os que prevaricam estão sempre lavados, branqueados ... Nada se inscreve, como diz o filósofo José Gil; ó isso já foi há muito tempo, costuma dizer-se, e pronto, não se fala mais no assunto. A lei não se aplica e o tempo limpa tudo na memória curta, fenómeno que se impõe pela necessidade de se anestesiar o desconforto moral das consciências. Ao injustiçado aponta-se facilmente o "defeito" de estar agarrado ao passado: que olhe em frente, diz-se. Mas, como olhar em frente se o tão esperado virar de página não acontece nunca, por mais esforços que se façam para arrancar a mágoa das entranhas e por melhor boa-vontade que se demonstre? Enganados ou enganosos conselhos esses! Não, o que a dolorosa experiência ensina é que a impunidade inscreve no futuro a continuação do passado de agressão e de injustiça.

Como os meus já sedimentaos 53 anos de idade, 20 dos quais na carreira académica (no meu percurso profissional há mais mundo para além da Universidade), eu aprendi que um determinado trabalho académico, feito com honestidade e sincera dedicação, pode gerar verdadeiro pavor em certas pessoas. E que esse pavor põe em marcha forças davastadoras inimagináveis, que se movem em surdina, de forma dissimulada, que raramente se mostram às claras. E aprendi que, na Universidade tão repetidamente dita humanista, a vida de um ser humano não vale um pataco furado, aos olhos de certas formas de exercer o poder universitário.

Tudo isto convive na perfeição com a democracia formal das instituições e do país, e com o nosso Estado (dito de) Direito.

Os resultados de tudo isto são a tendência para o servilismo face aos poderes, a ausência de pensamento crítico e de ideias livres, a idolatria de pseudo-intelectuais, o imobilismo que faz do futuro a perpetuação do passado – e tudo isto é afinal o nosso atraso cultural, científico, económico e social. (A este propósito recomendo vivamente a leitura de Antero de Quental, 2008: Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, com prefácio de Eduardo Lourenço).

É contra esta fatalidade de vivermos imersos num espesso nevoeiro - que nos tolda a visão nos sufoca as energias renovadoras -, feito de lamúria, medo, inveja, ciúme, falta de acção e audácia, que os espíritos livres devem erguer bem alto as suas vozes. E neste meu apelo estou certo de expressar o sentimento de milhares de pessoas que trabalham nas universidades portuguesas.
Ver Poderes e Estagnação Educacional no 1º Ciclo do Ensino Básico em http://www.portaldacrianca.com.pt/