segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

LISTA B: construir uma vontade da Academia para fazer face aos problemas importantes!

[Texto da lista B, subscrito pelo Professor José Vieira, divulgado ontem na rede lectrónica da UM]

Cara(o) Colega,

VOTE E EXIJA!

No dia 2 de Março de 2009 vote! Vote Lista B (era uma prova de confiança que nos agradaria) ou vote numa das outras duas listas, se for essa a sua vontade. Mas vote!

Vote e exija!

Exija que os eleitos lhe prestem contas do que farão no Conselho Geral. Este direito de exigir que os eleitos prestem contas não tem sido prática habitual. O habitual é eleger representantes e depois estes, uma vez empossados, ignorarem os eleitores até próximas eleições.

Veja o que se passou nas últimas eleições para a Assembleia Estatutária da UM. Elegemos representantes para elaborar e aprovar os Estatutos. Nessa aprovação estava em causa nomeadamente manter o sistema matricial (ou não), optar pela Fundação (ou não), descentralizar financeiramente (ou não) a estrutura da UM. Ora, era natural que os eleitos consultassem os eleitores sobre esses e outros assuntos mais importantes antes de decidir.

Isso até teria sido fácil e bastaria, por exemplo, utilizar um fórum ou um meio electrónico como este e fazer perguntas claras para auscultar a vontade das pessoas. Ora, os representantes eleitos para a Assembleia Estatutária e que estão agora bem representados nas listas A e C, nada disso fizeram. Não por acaso, essa tarefa foi feita, ainda que com relativa visibilidade, em sessões organizadas pelo grupo que deu origem a esta Lista B.

Entendemos que não deve ser assim. Entendemos que, depois de eleitos, temos o dever de consultar os eleitores e por isso fazemos as seguintes propostas que são compromissos nossos e ao mesmo tempo desafios às restantes listas.

ELEMENTOS EXTERNOS Como a primeira tarefa dos eleitos no dia 2 de Março de 2009 para o Conselho Geral é cooptar os elementos externos que deverão completar o órgão, então auscultaremos os eleitores sobre o perfil dos elementos externos que vamos escolher.

Justificação – Os elementos externos são muito importantes, pois são 6 dos 23 membros do Conselho Geral. Sabemos que temos de lidar com muito cuidado nesta matéria. Por isso, para não “queimar” nomes, perguntaremos apenas quem gostaria de ver no CG como membro externo. Não perguntaremos quem não gostaria de ver. Poderão surgir boas sugestões e devemos tê-las em conta.

POLÍTICA DO GOVERNO – Procuraremos estar atentos à política do Governo sobre as universidades e nomeadamente sobre a sua política financeira.

Justificação – O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Governo através dele não podem desconsiderar e tratar mal a UM sem o nosso firme protesto. Sempre que tal suceder, actuaremos com firmeza e saberemos tomar as atitudes mais adequadas à situação, ouvindo previamente os colegas.

PROBLEMAS IMPORTANTES – Levaremos a debate problemas importantes da Universidade que forem surgindo, convocando os eleitores para participar nessa discussão.

Justificação – Não podemos ignorar problemas que possam afectar, por acção ou omissão, a nossa Universidade. Dando um exemplo apenas: a Universidade do Porto e a Universidade de Aveiro, entre outras, passaram ou estão a pensar passar a Fundações. Propomo-nos abrir, de forma frontal, a discussão deste tema, procurando saber detalhadamente as vantagens e inconvenientes deste modelo de organização e queremos que todos tenham uma opinião fundamentada sobre este assunto.

SITUAÇÃO FINANCEIRA – Daremos a conhecer, detalhadamente, a actual situação financeira da Universidade do Minho.

Justificação – Uma Universidade que se queixa de não ter receitas para cobrir despesas mas que, ao mesmo tempo, não explica detalhadamente o seu orçamento total para 2009 nem o divulga, como devia, na página da net, não actua com a transparência devida. Temos o direito a uma informação completa.


Como daqui resulta, vamos para o Conselho Geral não para impor a nossa opinião mas para formar, ao longo destes próximos 4 anos, uma vontade da UM, ouvindo os seus professores e investigadores.

Contamos consigo!

Vote numa lista diferente! Vote na Lista B

Juntos podemos mudar a UM!


Saudações académicas

José M. P. Vieira

Lista B - Novos desafios, novos rumos
http://www.um-novosdesafios.net/
http://um-novosdesafios.blogspot.com/

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

UMA REAL POSSIBILIDADE DE MUDANÇA NAS MÃOS DA ACADEMIA

Em conferência de imprensa, no passado dia 12 de Fevereiro, a Lista B de professores e investigadores (de que faço parte), tornou pública a sua posição de que é "insustentável o adiamento da renovação completa do governo da Universidade", na sequência das eleições de 2 de Março. Preconiza assim um novo ciclo na vida da academia que envolve e renovação de todos os órgãos de governo da UM, incluindo o Reitor. Esta facto constitui uma incontornável linha de fractura que arruma as três listas candidatas ao Conselho Geral da UM em dois campos completamente distintos:

a) de um lado as listas A e C que, por tudo quanto já disseram, entendem que o actual Reitor deve permanecer em funções, quaisquer que sejam os resultados eleitorais e,

b) por outro lado, a lista B que pretende promover o início de um novo ciclo, em que a necessária legitimidade do novo Reitor emergirá da legitimidade democrática no novo Conselho Geral. Porque é ao Conselho Geral que compete eleger o Reitor.

Na recente tomada de posição da lista B dirigida à Academia lê-se:

A UM não pode perder mais tempo para iniciar um novo ciclo. Do actual Reitor, que não se pode recandidatar nem reúne, aparentemente, apoios das listas candidatas ao Conselho Geral, só poderemos esperar que resolva o problema financeiro para pagar o salário ao fim de cada mês a professores e funcionários. Ora, isso é muito pouco e, dadas as actuais relações existentes com a tutela, nem isso estará totalmente garantido.

A separação das águas é agora mais clara do que nunca. A real possibilidade de mudança está nas mãos da Academia.

Uma coisa é a possibilidade legal de o Reitor, por decisão pessoal, poder manter-se em funções. Outra bem diferente é a da legitimidade dessa decisão pessoal perante o interesse geral da Academia, no quadro do novo órgão colegial máximo de direcção da Universidade que é o Conselho Geral.

Lista B - UM NOVO CICLO NA VIDA DA ACADEMIA

[Mensagem distribuída na rede electrónica da UM]

Cara(o) Colega,

Vote na Lista B - Novos Desafios, Novos Rumos. Vote numa lista diferente!

Juntos podemos mudar a UM!

PROPOSTAS DA LISTA B – Novos Desafios, Novos Rumos

O próximo acto eleitoral para o Conselho Geral reveste-se de enorme importância para o futuro da UM. O Conselho Geral deve assumir todas as responsabilidades que lhe estão atribuídas estatutariamente. Tem-se falado muito e de muitas coisas. Mas, de concreto, pouco se tem visto das propostas que são apresentadas à Academia.

A Lista B tem feito um grande esforço para afirmar a sua forma distintiva de assumir a representação do corpo de professores e investigadores. Eis algumas das suas propostas fundamentais e concretas para o futuro governo da UM.

PROPOSTA I – Eleger um novo reitor, sem estar à espera que o actual cumpra até ao fim o seu mandato.

Justificação – A UM não pode perder mais tempo para iniciar um novo ciclo. Do actual Reitor, que não se pode recandidatar nem reúne, aparentemente, apoios das listas candidatas ao Conselho Geral, só poderemos esperar que resolva o problema financeiro para pagar o salário ao fim de cada mês a professores e funcionários. Ora, isso é muito pouco e, dadas as actuais relações existentes com a tutela, nem isso estará totalmente garantido.

PROPOSTA II – Definir o perfil do novo reitor

Justificação – Não se pode nem deve avançar com nomes para Reitor antes de completar o Conselho Geral com a cooptação de elementos externos. O que importa é definir o que deve ser o novo reitor da UM. Entendemos que deve ser uma pessoa com visão estratégica do futuro da Universidade, mais preocupada em incentivar as unidades orgânicas da UM (escolas, centros de investigação e outras) e em conceder-lhes os meios possíveis para atingir objectivos devidamente integrados numa política da UM do que em controlá-las, sujeitando-as às ordens da Reitoria. Precisamos de um Reitor que saiba coordenar e mobilizar a academia sem ser visto como um Rei (tor).

PROPOSTA III – O Reitor deve vir à Academia e não deve ser a Academia a ir ao Reitor, como sucede agora. Gualtar e Azurém deveriam ter vice-reitores sediados em cada um dos campi.

Justificação: O Reitor não pode estar distante da Academia. Esta não pode, nem deve, estar sempre a correr para o Paço (até parece o Terreiro do Paço!). A permanência de um vice-reitor em Gualtar e outro em Azurém, devidamente coordenados com o Reitor, colocava os Campi em igualdade e proporcionava mais governabilidade e presença, como é necessário.

PROPOSTA IV – O Reitor é importante, mas mais importante é a UM e a sua Academia. As grandes decisões devem ser tomadas pelo Conselho Geral, mas este, antes de decidir, deve consultar os corpos da academia através de meios de fácil utilização.

Justificação: Se o Reitor não é, nem deve ser, o dono da UM (quando o for os membros da academia serão dele súbditos) então a Academia não só deve estar informada (bem informada) como deve emitir opinião sobre as questões que interessam à Universidade, cabendo ao Conselho Geral auscultar regularmente a vontade da Instituição e actuar tendo em devida conta essa auscultação.

PROPOSTA V – A UM deve ter objectivos ambiciosos nos domínios do ensino, da investigação e da prestação de serviços, bem como no da afirmação a nível regional, nacional e internacional. Uma vez definidos, eles devem ser executados. O Reitor deverá, regularmente, prestar contas sobre as metas atingidas nesses domínios perante o Conselho Geral e este deverá prestar contas perante os seus representados (corpos da academia).

Justificação – Sem um plano de actividades, que a UM não tem, não é possível avaliar o que se pretendeu fazer e o que se fez efectivamente.

PROPOSTA VI – A Universidade deve fazer circular a informação sobre os assuntos de interesse de forma clara e a mais completa possível. Deve debater os seus principais problemas de forma aberta. Deve tomar decisões e depois deve executá-las de acordo com a vontade da maioria.

Justificação: A Universidade deve ser uma "escola de democracia" e provar que a democracia permite encontrar as melhores soluções e aumentar a eficácia. Nada pior de que uma Universidade dominada por um grupo de poder que se arvora em intérprete da vontade da UM.

PROPOSTA VII – O diálogo frutuoso dentro do Conselho Geral e não o confronto pelo confronto deve ser o ambiente do Conselho Geral e a Academia deve estar a par do que lá se passa. O Conselho Geral representante dos professores e investigadores, alunos e funcionários deve ter um boletim informativo digitalizado, de fácil leitura.


Justificação: É preciso dar importância aos eleitores e não só no tempo de eleições. Os membros do Conselho Geral são representantes dos corpos da academia e não donos deles.

Saudações académicas

José M. P. Vieira

Lista B - Novos desafios, novos rumos

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

COINCIDÊNCIAS ELEITORAIS!

Caros colegas Professores e Investigadores,

O último texto da lista C (11/02/09) tem alguns aspectos curiosos de aggiornamento de linguagem e discurso, para efeitos eleitorais, que importa registar. A título de exemplo chamamos especial atenção para o seguinte excerto:

O movimento uma universidade com futuro! está convicto de que a gestão dos campi e restantes estruturas da Universidade do Minho deve seguir uma orientação de respeito pelo meio ambiente e de sustentabilidade ecológica, sendo exemplo de boas práticas neste domínio. Este entendimento deverá estar presente na criação de novos espaços físicos da Universidade e na implementação gradual de adaptações nos já existentes.Desta forma, e ainda pela promoção de práticas respeitadoras do meio ambiente por parte de toda a comunidade académica, existirão ganhos a diferentes níveis e registar-se-ão melhorias significativas no bem-estar de todos.

Agora pedimos ao leitor que compare o que acaba de ler com o seguinte excerto do artigo de José Vieira, intitulado Universidade do Futuro: Espaços e Lugares para Aprendizagem, Inovação e Transferência de Conhecimento, publicado no blogue “Novos Desafios, Novos Rumos" em 23/12/09:

Com o aproveitamento dos meios tecnológicos disponíveis é possível desenhar um campus ambientalmente sustentável baseado em princípios modernos de racionalização de custos, onde os espaços simples e combinados, criados em ambientes naturais com a presença de água, permitam usufruir do convívio com a natureza. O nível ecológico de um campus deve ser um elemento fundamental de análise ao desempenho dos seus espaços e lugares.Cada vez mais, a sustentabilidade e o respeito pelos ecossistemas se impõem como factores determinantes para o sucesso do ensino e da investigação pois contribuem decisivamente para que as pessoas se sintam mais motivadas, mais realizadas e mais felizes. (…) Neste contexto, a questão dos espaços e das instalações universitárias assume relevância especial. A necessidade de implementar formas diferentes de ensino, (…) implica a disponibilidade de espaços lectivos versáteis, polivalentes e flexíveis, o que requer abertura para a alteração, transformação e adaptação de espaços existentes.(…)

Tire o leitor as suas conclusões quanto às coincidências eleitorais. Por nós, resta congratularmo-nos pelo facto da lista C importar para o seu ideário as propostas e ideias que José Vieira apresentou enquanto candidato da Lista B.

(reprodução de comunicado entretanto distribuído universalmente na rede electrónica da UMinho)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

DA VACUIDADE RETÓRICA AOS PROBLEMAS DA VIDA NA ACADEMIA

Caros Colegas, Professores e Investigadores,

Continuo esforçando-me por entender o presente…

No século XVII, em Portugal o ensino dos jesuítas lutava fervorosamente contra o espírito da “Reforma que nascera da liberdade mental, do direito que cada um se arrogara de pensar por si” (Saraiva, 2004:222). Os dogmas da fé só poderiam sobreviver ao movimento libertador da Reforma, disciplinando a mente para não pensar, e assim o ensino por todo o País foi transformado “num alicerce para crer”. Consequentemente,

“a cultura desgarrou-se da vida e dos problemas vivos da época; evitou os temas quentes e as inovações que podiam chamar a atenção do inquisidor português (…). As palavras dissonantes eram arriscadas e os atrevimentos acabavam no cárcere. Por isso, a actividade mental encaminhou-se para dois caminhos: a submissão religiosa (…) e um puro culto da forma, que leva a usar da palavra como algo que vale por si, desligada da ideia. (Saraiva,2004: 221-223).

Enquanto Galileu, Descartes, Pascal, Espinosa, Bacon e Newton eram a expressão do esplendor da ciência na Europa, em Portugal a única influência vinda de fora era um Tratado de Ciência da Cabala - “uma erupção de irracionalismo, ocultismo e messianismo”. É o peso desta tradição do culto da forma que faz com que, nos meios académicos portugueses, muito do que hoje se diz ser ciência, particularmente em certas áreas, nada tem de científico. O estatuto de autoridade, que a ausência de espírito crítico levianamente concede à vacuidade retórica, sobrepõe-se à árdua tarefa de construção de rigorosos critérios de validação do conhecimento – esta bem mais produtiva, mas igualmente bem mais distante da ribalta.

Nos tempos eleitorais recentes e em curso na Universidade de Minho, têm sido postos em evidência esses traços de cultura do século XVII, a saber:

- disciplinar as mentes para não pensar;
- um discurso eleitoral de costas voltadas para a vida;
- evitar os temas quentes da vida na academia, porque isso paga-se caro;
- o subterfúgio da retórica, sem ideias nem relevância.

“Uma universidade que deve ser global” ou “uma governação democrática” são exemplos de slogans que recusam uma genuína reflexão sobre os problemas da vida da academia. “Universidade global” é uma expressão gongórica cujo conteúdo nos escapa. A “governação democrática”, sem referência à qualidade da vivência das pessoas no contexto laboral, remete-nos para a necessidade do exercício de desmontar o carácter instrumental de um discurso, cujos fins não coincidem com os enunciados. A “universidade cidadã”, que remete para a super-estrutura do CG, onde supostamente alguém fará um “teste à maturidade democrática” (como será o teste?), sem uma preocupação com os cidadãos que habitam a academia, é claramente um figura de retórica, na linha do vazio de ideias e da irrelevância face aos reais problemas.

Entre as listas A e C há um acordo tácito para evitar os temas quentes, tendo isso ficado patente nas últimas eleições (estimados amigos de um lado e de outro, isto é o debate – conto com o vosso fairplay). Com efeito, se ambos os projectos se apresentaram à academia com enunciados humanistas, valores democráticos, preconizando o primado da liberdade, o que haveria de ser discutido?

A discussão faz-se com recurso à palavra, contrapondo argumentos ao que é tido por diferente, contrário. Todavia, se nos enunciados fundamentais não há contradição mas convergência, toda a discussão é um exercício de retórica redundante, em torno de uma mesma coisa. Navega-se num consenso difuso, sem vectores, como se o objecto de discussão - a vida académica - fosse uma realidade sem esboço de forma, desprovida de arestas, de vértices, de tudo o que aponte um sentido de diferença ou de ruptura. O debate não existe e o pensamento fica enclausurado: o dos candidatos, o dos que querem intervir no debate e o dos que ouvem.

Para as pessoas que vivem a sua actividade académica como um fardo pesado que carregam para ganhar a vida - habitando o espaço universitário sem o calor dos afectos, onde se sentem excluídas, humilhadas, desrespeitadas, não estimuladas - pouco importam as grandes considerações sobre a missão da Universidade. A força e a vitalidade de uma organização assentam na saúde do tecido social que a sustenta (Bhom & Peat, 1995; Goleman, 1995). Isso requer um debate orientado para um esforço de transformação da cultura institucional vigente, que tenha no horizonte uma vivência académica subordinada a princípios e valores adoptados pelo Movimento que dá corpo à lista B: honestidade, confiança, transparência, respeito e responsabilidade (ver http://um-novosdesafios.net ).

É pois necessário falar das venalidades enraizadas na cultura institucional, a saber: o desrespeito da legalidade; o autoritarismo e a intimidação; a atmosfera de medo e de opressão; a violação de direitos legítimos das pessoas; o favorecimento de uns em detrimento de outros; a degradação das relações interpessoais; o clientelismo; as restrições à liberdade de expressão; as situações de injustiça, sem apelo nem recurso; a intromissão abusiva em matérias científicas em função do cargo que se exerce e não de critérios científicos; ausência de liberdade de escolha de orientadores científicos e de temáticas de investigação.

São particularmente os docentes mais jovens que mais sentem este tipo de problemas e mais vulneráveis se encontram para lhes fazer face. Um futuro de maior esperança para eles passa pelo fortalecimento do Movimento Novos Desafios, Novos Rumos, que intervém agora através da candidatura da lista B ao CG e prosseguirá a sua intervenção académica no futuro, no sentido da construção de uma comunidade académica mais justa e humanizada.

Joaquim Sá

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O QUE RESTA DO HUMANISMO PARA ALÉM DA RETÓRICA?

(…) quem ousaria opor-se á prevalência
do discurso humanista, sob pena de cair
na extrema barbárie de ser contra o homem?
(…) Mas que homem? Que tipo de homem?
Interrogações que abrem dúvidas no unanimismo
à volta do humanismo.
(José Gil, 2004)

“Humanismo”, aí está uma palavra que tenho cada vez mais dificuldade em utilizar. O último processo eleitoral ocorrido na UM veio reforçar o fundamento de tais reservas. Com efeito, se ambos os projectos se apresentaram à academia com enunciados humanistas, valores democráticos, preconizando o primado da liberdade, o que haveria de ser discutido?

A discussão faz-se com recurso à palavra, contrapondo argumentos ao que é tido por diferente, contrário. Todavia, se nos enunciados fundamentais não há contradição mas convergência, toda a discussão é um exercício de retórica redundante, em torno de uma mesma coisa. Navega-se num consenso difuso, sem vectores, como se o objecto de discussão - a vida académica - fosse uma realidade sem esboço de forma, desprovida de arestas, de vértices, de tudo o que aponte um sentido de diferença ou de ruptura. O debate não existe e o pensamento fica enclausurado: o dos candidatos, o dos que querem intervir no debate e o dos que ouvem.

Que sentido faz discutir-se o direito de participação na vida académica se não há coragem para abordar a premente necessidade de mecanismos de acção eficazes que ponham cobro ao cinismo com que se aviltam as pessoas nos seus direitos legítimos? Há alguma noção de quanto isto corrói a vida das pessoas e o potencial humano da instituição?

A simples garantia do estrito respeito da legalidade dentro da UM teria o efeito de uma autêntica revolução na cultura institucional... Para melhor, muito melhor, na direcção de uma Universidade em que o humanismo em vez de um slogan eleitoral seja uma vivência substantiva, parte integrante do quotidiano das pessoas.

Ter-se-ia então que entrar na desmontagem do carácter instrumental do discurso humanista para finalidades diferentes das enunciadas, o que se torna um exercício intelectual bem mais complexo. Essa instrumentalidade está frequentemente em lados aparentemente opostos. Por isso, se quisermos o debate substantivo na academia, teremos que entrar na discussão da (in)coerência entre os princípios enunciados e a conduta dos personagens. Porque, para efeito de consumo público, é humanista o opressor, é-o o oprimido e é-o também o justo. Há os que reclamam liberdade e democracia quando olham para o alto, fincando bem as botas em cima dos que estão por baixo.

Dificilmente haverá melhor critério para se sair do impasse do que a possibilidade de se fazer um juízo sobre quem proclama os valores humanistas, em função da sua praxis no lugar, no tempo e com as pessoas com que se faz o seu quotidiano. Isto remete-nos para o tema das públicas virtudes versus vícios privados, no mundo académico.

Uma certa casta de humanistas, democratas, politicamente posicionados de forma muito “correcta” à esquerda, decidiram, depois do fulgor de Abril, que o destino tinha para eles o desígnio de grande notoriedade. Universidades adentro, foram tecendo uma estratégia de ascensão muito própria. Sempre bem encostados ao poder, de verbo fácil, confundem discurso académico com discurso político, confundem ciência com ideologia e qualquer ideia de rigor de investigação é um vício positivista, incompatível com a pós-modernidade académica, de que são os pioneiros.

Estabeleceram a sua bitola de humanismo, a cartilha a que devem obedecer os seguidores que assim podem provar dos benefícios do poder. Se alguém não assimila de forma “correcta” esse padrão humanista aplica-se uma implacável correcção dos desvios. E não lhes treme a voz quando, perante o despedimento arbitrário e ilegal de um(a) colega (a correcção do desvio), argumentam que o “parecer jurídico do sindicato não tem valor vinculativo”. Testemunhei tais comportamentos humanistas no ano 2001.

Dos pregadores Frei Tomás não esperemos nada. Bem melhor será que saibamos ao que vão.

Artigo publicado no ComUM, edição impressa de 3 de Março de 2008