sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Contributo dos Representantes dos funcionários para os Estatutos da UM

De: Albano Serrano [mailto:albano@di.uminho.pt] Enviada: quinta-feira, 28 de Fevereiro de 2008 23:04Para: todos@iec.uminho.pt; todos@ecum.uminho.pt; todos@eeg.uminho.pt; todos@eng.uminho.pt; todos@ics.uminho.pt; todos@iep.uminho.pt; todos@ilch.uminho.pt; todos@direito.uminho.pt; todos@arquitectura.uminho.pt; todos@ecsaude.uminho.pt; todos@ese.uminho.pt; todos@reitoria.uminho.ptAssunto: Novos Estatutos da UMinho: Contributo dos funcionários não docentes


Os Representantes dos funcionários não docentes no Senado Universitário apresentaram à Assembleia Estatutária, no passado dia 14 de Fevereiro, no âmbito do processo de audição e de debate, a que alude a circular RT-17/2007, de 27 de Dezembro, um contributo para a elaboração dos novos Estatutos da Universidade do Minho.

Tendo em conta a ordem de trabalhos da reunião da Assembleia Estatutária de 15 de Fevereiro, o documento apresentado incidiu, particularmente, sobre os órgãos de governo e sobre o Senado Académico, abordando-se embora, também, as Unidades Orgânicas de ensino e investigação.

A Lei n.º 62/2007 consagrou a possibilidade de criação do Senado Académico, com a finalidade de assegurar a coesão da Universidade e a participação de todas as Unidades Orgânicas na sua gestão.

Porque assim, propusemos a constituição de um órgão com representação alargada, a funcionar em plenário e em comissões especializadas – Comissão para o Aconselhamento e Apoio ao Reitor nas linhas gerais de orientação da Universidade e no plano estratégico; Comissão para os Assuntos Académicos; Comissão para os Assuntos Científicos; Comissão Cultural; e, principalmente, a Comissão Disciplinar.

No essencial, o documento recuperou as ideias gerais contidas na “Mensagem” por nós difundida à Academia, no dia 5 de Dezembro de 2007, em que apelávamos à Assembleia Estatutária, no respeito dos princípios da democraticidade e da participação, que promovesse activamente a coesão da Universidade, designadamente, acautelando a nossa representatividade nas instâncias decisórias e na formação das decisões em que somos parte activamente interessada.

Porém, algumas posições concebem o Senado Académico como uma mera adição de uma Comissão Pedagógica a uma Comissão Científica, sem a representação de funcionários, dada a especificidade das competências que lhes estariam atribuídas.

Esta concepção é naturalmente legítima e merece-nos todo o respeito, enquanto exercício da liberdade e da pluralidade de pensamentos. Porém, denota, a nosso ver, uma falta de sensibilidade ao sentir maioritário da Academia, sobre a problemática da constituição e competências do Senado Académico.

Este órgão, de consulta obrigatória, foi concebido, pelo legislador, como instância de coesão universitária, sendo ainda potencializador de alguma atenuação dos poderes hegemónicos do Reitor e do Conselho Geral (neste sentido, pronunciou-se largamente a comunidade académica, em diversos documentos enviados à Assembleia da República, aquando da discussão parlamentar da proposta governamental do novo regime jurídico das instituições do ensino superior – vidé doc. dos funcionários em anexo).

Assim, tendo em vista a promoção do debate sobre o processo de elaboração dos novos Estatutos da Universidade do Minho, parece-nos ser importante difundir o documento já apresentado à Assembleia Estatutária.

Braga, 28 de Fevereiro de 2008

Os Representantes dos funcionários não docentes no Senado Universitário

Albano José Dias Serrano
Amaro António Magalhães Rodrigues
Antonio Ovídio Marques Domingues
Maria Fernanda Teixeira Ferreira

Comentário:
Gostei de ler! É uma constatação gratificante ver que há funcionários não docentes que continuam pensar a universidade.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O nosso colega DANIEL LUIS vive uma situação dramática!

No passado dia 3 de Fevereiro, fiz eco de uma notícia que corria na blogosfera segundo a qual "um órgão da Universidade do Minho obrigou [um] docente a encerrar os seus projectos criativos na net, os quais tinham já uma visibilidade de âmbito nacional". Esse nosso colega é Daniel Luís e acaba de dar uma entrevista ao jornal comUM
Transcrevo alguns excertos da sua entrevista.


O Conselho de Departamento (…) deliberou, numa reunião, que estes meus projectos na blogosfera tinham que ser encerrados. Segundo argumentam, desprestigiam a minha própria imagem, a imagem do departamento e, acima de tudo, a imagem da universidade. Além disso, (…) dizem que eu faço lá coisas que não têm nada a ver com a minha profissão e que um docente universitário não pode ser escritor criativo nem humorista. Portanto, proibiram-me também de participar em eventos ligados ao humor.
(...)

comUM: Por que é que acatou essa decisão e não recorreu a outros órgãos da Universidade?

Eu pensei nisso tudo. Agora o que é facto é que esta foi uma decisão tomada em família. Sou casado, a minha mulher não tem emprego, tenho um filho pequeno para criar e preciso do ordenado para pagar a dívida da casa, para pagar o carro e por aí fora.

(...)
Penso que isto foi um processo de clara perseguição e censura da liberdade de expressão e uma tentativa de matar a minha criatividade. (…) [ O que fazia] trata-se de humor, nomeadamente da sátira política e social, da criatividade, da escrita non-sense e isso não é entendido como arte. Ou seja, o humor é entendido como provocação e como sendo algo que quer desestabilizar o sistema.
(…)

Vejo todos os dias à minha volta pessoas com medo de falar e de escrever aquilo que pensam, pessoas com medo de assumir aquilo que lhes vai na alma, precisamente com medo de sofrer represálias (…).
(...)

Isso foi das coisas que mais me chocaram no meio disto tudo. Nunca pensei que numa universidade virada para o futuro se pudesse, em princípio do século XXI, passar por algo deste tipo, ou seja, haver um professor – na prática acabaram por ser dois – incumbido de pesquisar a minha vida na net e na blogosfera. (…) Fui deste modo bisbilhotado na minha esfera íntima e pessoal. Eu sei que aquilo que está na net é público, mas fiquei chocado por haver alguém que foi mandado acompanhar os meus passos. A vida privada é íntima.
(…)

A partir do momento em que estou a dar esta entrevista eu sei que as coisas se vão complicar ainda mais para o meu lado, a vários níveis, (…) mas também acredito, por outro lado, que na universidade existe gente que não tem medo de falar e que também apoia o meu caso. Por isso, tenho esperança. (…) [As universidades] não são só compostas por pessoas que querem calar as outras, também são compostas por pessoas que querem contribuir para a emancipação do ser humano, para a liberdade de expressão, para a construção de uma universidade baseada na criatividade, em que nós somos livres de pensar.

(…) a partir do momento que isto me aconteceu, eu não tenho conseguido dormir nem comer. Isto começou a somatizar-se, apanhei mil e uma doenças e comecei a ficar muito perturbado emocionalmente porque não podia acreditar no que me tinha acontecido. Apesar de ter fechado os blogues logo que o meu director me pediu, o que é facto desde que isso aconteceu, em Dezembro, nunca mais escrevi uma linha nem para o doutoramento nem para a escrita criativa.

Comentário:

É inequívoco que o colega Daniel Luís vive uma situação dramática, do ponto de vista profissional, pessoal e familiar.

A quem pode recorrer um colega nestas circunstâncias?

Não acabou a Assembleia Estatutária de aprovar há dias que a Universidade do Minho preconiza contribuir para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Com diz a canção "Somos livres...não voltaremos atrás!"

Assembleia Estatutária
Nota Informativa nº 2

1. A Assembleia Estatutária (AE) da Universidade do Minho reuniu hoje, dia 15 de Fevereiro de 2008, na Sala de Reuniões da Reitoria, no Largo do Paço.

2. Relativamente ao enunciado da Missão da Universidade foi aprovada a formulação que a seguir se transcreve:

A Universidade do Minho tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos, promovendo a educação superior e contribuindo para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas, tendo o saber, a criatividade e a inovação como factores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade.

Comentário:

Tomemos então à letra a afirmação do princípio da Liberdade na Universidade. Tomemos também à letra a manifesto eleitoral que afirma a Universidade como lugar de “liberdade incondicional de questionamento e de proposição”. Como diz a canção, "somos livres... de voar, não voltaremos atrás".

Porém, tenha-se na devida conta que nem o prisioneiro, com uma arma apontada à cabeça deixa de ter liberdade de pensamento - o que não tem é liberdade de expressão do pensamento. Sugiro pois que no texto aprovado a Assembleia Estatutária susbtitua a expressão liberdade de pensamento por liberdade de expressão do pensamento.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Tertúlia: o medo e as oportunidades!

A tertúlia de 4ª feira passada, promovida pel' O Grupo de Reflexão sobre a Universidade do Minho, foi um debate vivo, interessante e até divertido. Falou-se muito em "nós": que queremos nós para a nossa universidade? Alguém achou por bem lembrar que universidade não é nossa. O "nós", como entidade decisora, não existe, digo eu - será mais algo do género "eles".

Mas o que me apetece aqui realçar é o reforço de convicção que aí ganhei de que um projecto universitário não pode prescindir da realidade subjectiva dos homens e das mulheres que laboriosamente dão corpo e alma a esse projecto. Eu insisto que há uma triste realidade humana, não assumida e não confessada, por cima da qual se cruzam discursos, propostas de estratégia, projectos de estatutos e até grandes desígnios democráticos e humanistas. E a propósito de humanismo e democracia vai-se tornando cada vez mais claro que bem prega Frei Tomás, entre nós.

A triste realidade humana de que falo empobrece a vida das pessoas, empobrece a instituição e prejudica enormemente o cumprimento da sua responabilidade social.

Em dada altura, falava-se que no lugar do medo se deveriam colocar as novas oportunidades... como se o medo, uma realidade que faz parte da vida de muitas pessoas no momento de crise que vivemos, pudesse ser exorcizado de forma tão ligeira. Frequentemente quem fala alto, esquece-se que quem tem medo, quem sofre, quem se sente fragilizado, não o confessa porque sente que isso o(a) fragilizaria ainda mais e, por outro lado, não têm forças para afirmar o seu protesto. Há um silêncio pesado de uma realidade que não tem voz; e quantas vezes os tiranetes se valem da situação de crise para ficarem mais "fortes", apertando ainda mais a malha do controlo.


O medo de se perder o emprego, por exemplo, coloca as preocupações dominantes ao nível das necessidades básicas individuais.

Que pensamento estratégico e que novas oportunidades para a UM pode construir quem vive esssa situação? E que poder está nas suas mãos?

Nenhum povo come Filosofia para matar a fome!


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vozes discordantes: os "inimigos" internos da UM!

Transcrevo a seguir a tomada de posição do colega Paulo J. S. Cruz, a propósito do debate em curso sobre a actuação do suposto jornal UMdicas, divulgado na UM em 6/02/08.

Caros Colegas,

É preocupante que se pretenda que a Universidade do Minho despenda energias em debates laterais, rotulados de "questões de princípio", cuja persistência parece resultar de uma estratégia deliberada para inibir a discussão dos seus verdadeiros desafios e impedir um processo de reforma que o momento actual deveria exigir. Não me parece que a Universidade deva dissipar a energia e o tempo dos seus elementos em questões demagógicas e enredadas num conceito estranho do que é e deve ser uma "Universidade Democrática". Temos vindo a assistir a intervenções exacerbadas mas esvaziadas de substância, que, insistentemente, ao abrigo de uma aparente promoção do debate interno, ofendem os membros da Academia que entendem não alimentar tal processo. Infelizmente, limitam-se a procurar gerar entropia, desfocar a comunidade académica dos seus verdadeiros problemas e comprometer as possibilidades de um verdadeiro debate. Os desafios de assegurar a relevância da Universidade Minho, no espaço de ensino superior europeu e no seio da sua envolvente sócio-económica, não se compadecem com processos de destruição interna de motivação duvidosa. Há o tempo de eleger os nossos órgãos e de sufragar programas de acção… E há o tempo de construir o projecto Universidade do Minho! As ameaças à Academia só deveriam proceder do exterior. No entanto, lamentavelmente, parece ter desenvolvido dentro de si uma vertigem que a atordoa e a tenta desviar da razão…

Com os melhores cumprimentos,

Paulo J. S. Cruz

Comentário:

Presume-se então que o colega não ficará ofendido, se um folheto informativo - impresso nesta universidade, pago com o seu dinheiro e amplamente distribuído no exterior - decidir colocar a sua fotografia em grande plano, com um subtítulo "Por que no te callas?", e lhe juntar uma notícia falsa de conteúdo atentatório do seu bom-nome e dignidade.

É bom fazermos o exercício de nos colocarmos no lugar do outro, neste caso o nosso colega que foi alvo da atenção do UMdicas. A isso se chama capacidade de empatia - ajuda-nos muito a tratar os outros com o mesmo respeito com que gostamos de ser tratados.

O colega não se indignará com tal situação e recomendará que fique quieto quem pretenda ter para consigo uma atitude solidária. Argumentará que qualquer gesto de repúdio por essa forma de actuação:

a) "ofende os membros da Academia que entendem não alimentar tal processo;"

b) será um dispêndio de "energias em debates laterais, rotulados de "questões de princípio";

c) dará alento a "questões demagógicas e enredadas num conceito estranho do que é e deve ser uma "Universidade Democrática";

d) etc...

É claro que neste caso, apesar de todo o discurso eufemístico, o colega fez a sua escolha. É livre de a fazer...

Mas sou levado a retomar José Hermano Saraiva:

"O funcionamento eficaz, durante um período muito longo (dois séculos) de um serviço de controlo da actividade intelectual e de repressão de opiniões e práticas confessionais é, sem possibilidade de dúvida, um facto de extrema importância" [na nossa História].

Ora, aqui está boa parte da idiossincracia que nos amarra ao atraso cultural, científico, económico e cívico: a cultura repressiva da livre expressão do pensamento que estrangula as ideias e definha a capacidade de inovação do País.

O colega acredita que o projecto da Universidade do Minho se faz por cima do silenciamento das vozes discordantes. Digo-lhe eu que isso é aniquilar grande parte do potencial criativo da nossa Universidade.

Atribui-se a si uma seriedade que contrapõe à suposta leviandade dos que pomovem "processos de destruição interna". Mas, com toda a franqueza, não acho que acredite ser mais empenhado no bem do instituição do que aqueles que critica. Essa atitude radica-se em motivos de outra natureza.

Tem mais a ver com o facto de que certos poderes precisam de construir a imagem de que eles próprios e os seus modos de actuação se confundem com o interesse da instituição... país... município, etc. e, consequentemente, com os interesses directos das pessoas. Na outra face da moeda estarão os que discordando de tais poderes, representam danos para as pessoas. É uma táctica muito conhecida.

Há sem dúvida diferentes perspectivas quanto ao modo de fazer face ao futuro da UM, bem como quanto ao modo de fazer o quotidiano da UM. O quotidiano de hoje é muito preocupante... mas são encorajadores os sinais de mudança.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

UMdicas enxovalha um docente! Continuação...

De: Luís Manuel Couto GonçalvesEnviada: seg 04-02-2008 23:01Para: Pedro Nuno Ferreira Pinto Oliveira; Senado Universitário; iec-todos; ecum-todos; EEG - Todos; eng-todos; ics-todos; iep-todos; ILCH - Todos; Direito - Todos; Todos - Arquitectura; ecs-todos; ESE - Todos; UM Reitoria, Órgãos e ServiçosAssunto: RE: Reunião ordinária do Senado Universitário - Notícia

Caro Colega
Prof. Doutor Pedro Oliveira

Se a sua única preocupação é, como confio que seja, a da reposição da verdade objectiva do que se passou na reunião do Senado de 28 de Janeiro permito-me, modestamente, lembrar que os dois procedimentos adequados para o efeito são os seguintes:

1º- Solicitar ao órgão, autor da notícia, que deveria acrescentar no ponto "outros assuntos" que o Senado deliberou por unanimidade adiar a apreciação do problema suscitado por uma notícia publicada no "UMdicas";

2º- Propor, na próxima reunião do Senado, a alteração da proposta de acta se esta vier a ser omissa em relação à deliberação referida.

Apesar de ter adoptado outro procedimento, com mais visibilidade e prolixidade, faço-lhe a justiça de pensar que não era esse o sério propósito do colega.

Saudações cordiais,

Luís Couto Gonçalves


Comentário distribuído na UM:

Caro colega

Para quê a ironia de: "faço-lhe a justiça de pensar que não era esse o sério propósito do colega [visibilidade e prolixidade]:" Todos sabemos bem qual é o sério propósito do colega Pedro Oliveira. É, sem dúvida, deixar claro perante a academia que matéria de grande gravidade, como as inqualificáveis ofensas a um colega, ex-candidato a Reitor, praticadas por um jornal (que não o é nem pode ser), porém pago com dinheiros da UM, que veicula para o exterior a imagem da UM (em encarte no Diário do Minho), porém dirigido por um funcionário não docente, foram objecto de discussão no Senado e que a notícia oficial sobre essa reunião ignorou essa discussão.

Mais, que testemunhas qualificadas e credíveis afirmaram, por escrito, ser o conteúdo da "notícia" infame uma falsidade!

Mais, que denuncia o facto de essa miserável notícia, anónima, sugerir que que se cale a voz de um Professor que assumidamente tem um pensamento divergente da actual Reitoria, tendo por isso disputado as últimas eleições para Reitor.

Se este tem que se calar que espaço de opinião fica para os restantes nesta universidade?

Onde estamos nós afinal?

Então caríssimo colega nada disto tem a ver com a "reposição da verdade objectiva do que se passou na reunião do Senado de 28 de Janeiro".

Então o que é a "verdade objectiva"?

Nada disto tem importância, do seu ponto de vista?

A quem convém fazer parecer que nada se passa?

Cada um é livre de tomar posição e de a assumir. De igual modo somos livres de fazer a leitura dos eufemismos.

A posição assumida pelo colega Pedro Oliveira é um sinal de capacidade de indignação da academia perante uma infâmia cometida contra si (a academia) e uma demonstração de que estamos vivos. Por isso estou-lhe grato pela iniciativa.

Cumprimentos.
Joaquim Sá

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

UMdicas! Coisa impensável numa Universidade

No dia 4/02/08, o colega Pedro Oliveira distribuiu pela academia a informação seguinte, a que dei o título em epígrafe:
“Notícia” da reunião do Plenário do Senado de 28 de Janeiro

No período “antes da ordem do dia” do último Plenário do Senado, o Prof. Moisés Martins pediu para ser discutida uma notícia publicada no UMdicas. Argumentou o Professor Moisés que esta publicação, usando da mentira e do insulto, o enxovalhou. O Presidente do Senado decidiu incluir essa discussão nos Outros Assuntos. A reunião, com início pelas 10 horas, prosseguiu com os pontos agendados até cerca das 11h30, sendo a questão colocada pelo Prof. Moisés discutida na última hora e meia da reunião.

Devo assinalar, em primeiro lugar, que é deveras surpreendente que um tema que ocupou cerca de metade da reunião do Senado não seja sequer mencionado na “Notícia” que dele foi dada.

Mas afinal o que é que foi discutido? O Prof. Moisés proferiu uma declaração em que se insurgiu contra o modo como tinha sido tratado na notícia sobre a Primeira Mostra Científica do Curso de Geografia, publicada na última edição do UMdicas, cujo subtítulo, acompanhado da sua fotografia, foi “Por que não te callas?”.

Referindo que a notícia não correspondia à verdade, conforme testemunho escrito de diversos professores presentes na cerimónia, o Prof. Moisés questionou o Sr. Reitor e o Senado sobre o facto de um jornal da Universidade do Minho poder publicar uma notícia, sob anonimato, ofensiva para um professor, também Presidente do Instituto de Ciências Sociais. E perguntou, ainda, que sentido havia em a Universidade entregar a amadores a responsabilidade pela sua imagem externa. O Professor Moisés não entendia como é que era possível a Universidade ter como sua expressão externa (o UMdicas é distribuído para toda a região como encarte do Diário do Minho), uma publicação ilegal, não registada na Entidade Reguladora da Comunicação Social, sem jornalistas profissionais, e sem estatuto editorial conhecido.

O Administrador dos SASUM interveio, de seguida, para responder que ele e os seus serviços se sentiam acossados por um conjunto continuado de referências à sua actuação, e, surpreendentemente, distribuiu, muito prontamente, fotocópias de notícias sobre a mesma mostra publicadas em jornais da região. Afirmou ainda que a reacção do Prof. Moisés, ao abrigo do direito de resposta, ia ser publicada em próxima edição do UMdicas.

Em nome da Escola, o Prof. Miguel Bandeira, vice-presidente do Instituto de Ciências Sociais, leu uma declaração onde o Conselho do ICS, por unanimidade, repudiava as “afirmações falsas e insidiosas, […] uma atitude que, sendo ilegítima, por arbitrária e anónima, a não ser condenada, não garante, doravante, a todos os que laboram na Universidade do Minho o direito ao seu bom nome e o respeito pelos órgãos académicos legítimos”.

Vários membros do Senado entenderam que esta não era uma questão que merecesse ser debatida, que a mesma deveria ser resolvida com o direito de resposta ou por recurso aos tribunais. Houve mesmo quem sugerisse que uma condenação do UMdicas configuraria um acto de censura.


Em contrapartida, outros elementos do Senado, interrogaram-se sobre a atitude que a Universidade tomaria, caso algum jornal do país publicasse uma notícia ofensiva para a Universidade, ou para um dos seus membros. Certamente haveria lugar a uma tomada de uma posição institucional. Como se compreendia, então, que um jornal pago com o dinheiro da Universidade, fosse usado para insultar um docente?

Apesar de ter sido posta à votação no Senado a proposta de condenação do UMdicas, tal não veio a acontecer, dado alguns dos presentes na reunião não se considerarem suficientemente informados. A proposta foi, pois, retirada, sendo deliberado que este assunto seria agendado em futura reunião do Senado.

Pergunto-me se este era ou não um assunto suficientemente relevante para ser noticiado? E por que razão não se ouviram vozes de protesto pelo facto de a “Notícia” deixar de fora esta questão, sobretudo quando se advoga para a nossa Universidade o modelo de uma “universidade moderna”, que “deveria ser sem condição”, com “uma liberdade incondicional de questionamento e de proposição”.

Se, de facto, todos nos revelamos pelas posições públicas que assumimos, não nos revelamos menos pelos nossos silêncios cúmplices e comprometedores.

É verdade que não há relatos neutros. O que somos capazes de fazer são relatos que reflectem sempre pontos de vista. Ora, por muito discutíveis que sejam os nossos pontos de vista, a sua expressão plural é que constitui a essência mesma da democracia.

Pedro Oliveira


Comentário:
Como escrevi em anterior post, o âmbito de competências de determinadas funções, parece variar à medida de motivações e propósitos que não se conseguem descortinar. Tende-se para um fenómeno de poderes fácticos que gradualmente se vão impondo a todos nós. Está à vista que o poder de Direcção da Academia se desloca parcialmente dos académicos para funcionários não docentes, chefes de serviços. Tal situação constitui uma distorção grave do normal funcionamento da academia. Voltarei a esta questão.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Tribunal do Santo Ofício anda por aí!

A propósito da Inquisição em Portugal escreve José Hermano Saraiva (1):

"A censura intelectual revestia três aspectos:

1)... 2)...

3) Submissão da produção literária interna à prévia censura do Santo Ofício. Só depois de examinadas e aprovadas, as obras podiam ser impressas. A censura incluía o direito de correcção do texto, cortando e modificando o que parecesse aos censores menos conveniente. A segunda edição d' Os Lusíadas saiu com cortes de grande extensão.

Os regulamentos inquisidores foram aplicados com todo o rigor. (...) Durante uma parte do sécuo XVI e ao longo de todo o século XVII, a Inquisição conseguiu manter a actividade cultural portuguesa isolada do movimento das ideias europeias, movimento que precisamente nessa época foi extremamente intenso e inovador. (...) Mas à acção isoladora associou-se a acção intimidadora: o escritor sabia que entre ele e o prelo havia a Inquisição (...). A produção literária afastou-se então de tudo o que pudesse levantar problemas. (...) Os temas dominantes serão de futuro os que não implicam risco: seráficos, agiológicos, edificantes, congratulatórios".

(Benditos os que só levantam a voz para actos laudatórios do seu chefe! Deles será o reino dos céus na terra!)

É pois claro que tudo o que pareça ao censor "menos conveniente" vai inexoravelmente "levantar problemas" a quem se torna "inconveniente". O tribunal do Santo Ofício está investido do poder divino de lançar à fogueira quem pratica o "inconveniete" de graves ofensas à Santa Fé.


Vem tudo isto a propósito da notícia que circula em vários forum da net, segundo a qual:

"um órgão da Universidade do Minho obrigou [um] docente a encerrar os seus projectos criativos na net, os quais tinham já uma visibilidade de âmbito nacional".

(ver em:

http://mediascopio.wordpress.com/2008/01/24/televisao-passado-e-futuro/#comments)

Que órgão é esse?

De que graves ofensas à Santa Fé é acusado o citado docente?

Isto passa-se realmente numa universidade ... pública?

No século XXI?

Bom, se fosse num país de radicalismo islâmico, seria um facto natural...

Mas, num país democrático europeu?

Certamente é porque nesse país europeu, o espírito inquisitorial está sempre à espreita... condicionando e aprisionando os indivíduos e a consciência colectiva. E, por via disso, muito frágeis são os valores da Liberdade e da Democracia. A todo o momento os potenciais agentes do Santo Ofício empunham a sua VERDADE castradora.

Retomemos José Hermano Saraiva:

"O funcionamento eficaz, durante um período muito longo (dois séculos) de um serviço de controlo da actividade intelectual e de repressão de opiniões e práticas confessionais é, sem possibilidade de dúvida, um facto de extrema importância. Penso, assim, que não falta razão aos historiadores que consideram a prolongada vigência do Santo Ofício um dos factos capitais do processo português."

Ora, aqui está boa parte da idiossincracia que nos amarra ao atraso cultural, científico, económico e cívico. Sem espaço para que o potencial criativo humano floresça não há progresso e desenvolvimento.

As universidades deveriam ser o lugar da livre criação por excelência.

Lutemos por esse ideal, já que a realidade estilhaça as nossas ilusões.

(1) Saraiva, H. J. (2004). História de Portugal. Mem Martins: Publicações Europa-América Lda.