quarta-feira, 30 de julho de 2008

ACTUAR NOS PALCOS INSTITUCIONAIS!

Com a devida autorização publico a mensagem que me foi enviada pelo colega Joaquim E. Neves.

De: Joaquim E Neves [mailto:Joaquim.Neves@dei.uminho.pt]
Enviada: ter 29-07-2008 18:07
Para: Joaquim Gomes Sá
Assunto: Re: As vicissitude de um provimento definitivo

Colega Joaquim Sá

Permita-me que lhe manifeste, muito mais do que solidariedade pessoal perante o seu provimento de nomeação definitiva, um estranho sentimento estimulante de intervenção cívica, para a qual este tipo de situações nos desafiam e responsabilizam.

Reconheço o seu nome associado ao remetente de mensagens que circulam nestas listas de distribuição, bem como a sua pessoa, pela participação nas tertúlias recentemente realizadas por um grupo de reflexão da Universidade do Minho. Identifico, igualmente, a situação narrada como paradigmática da forma indigna, mas que se vem tornando habitual, de tramitação de certos processos burocráticos na Universidade do Minho, onde o interesse público é subordinado pela lei discricionária do mais forte, muitas vezes ditada à medida de interesses particulares de intervenientes concretos.

Contudo, dado que a denúncia isolada destas decisões, marginais a um referencial de valores partilhados, coloca os seus relatores na situação do passarinho duma conhecida anedota ( http://members.tripod.com/~Bicicchi/passarinho.htm ), importa estabelecer uma estratégia de intervenção mais eficiente, reunindo, mais do que um coro de vozes, os instrumentos e os intervenientes necessários para actuar, concertadamente, nos palcos institucionais.

Estando convencido que uma intervenção sistemática, pautada pela afirmação de valores próprios, mereceria o aplauso da academia, gostaria de ver o seu nome, juntamente com o meu, num eventual Casting, para seleccionar os protagonistas da mudança que, nesta Universidade, é incontornável.
Cumprimentos

Joaquim E Neves

terça-feira, 29 de julho de 2008

A PSICOPATIA CORPORATIVA

Segundo o professor Carlos Goldenberg da Universidade de S. Paulo, Brasil, cientistas e instituições de investigação devem estar sob observação e controlo do ponto de vista de princípios éticos. Em vista dessa preocupação, criou em 2003 o curso Enginethics, cuja finalidade é promover a ética na engenharia. O seu interesse pelo tema decorre do facto de ter tido conhecimento de um estudo segundo o qual 70% das empresas de alta tecnologia criadas nos Estados Unidos, fechavam as suas portas ao fim de pouco tempo de existência. Estudou o fenómeno e concluiu que um dos factores importantes do insucesso residia no facto de os seus dirigentes não tratarem adequadamente todos os aspectos relacionais dos seus negócios com a sociedade, especialmente não se conduzirem em conformidade com valores éticos claros. Surgiu, então, a ideia de inserir a ética na formação de “profissionais integrais”

http://www.ripa.com.br/index.php?id=814&tx_ttnews%5BbackPid%5D=471&tx_ttnews%5Btt_news%5D=720&cHash=3fd7c28b3d)

Questionado sobre como pode a falta de valores levar uma empresa à falência, responde que a arrogância aliada à ignorância é o caminho para a auto-destruição de uma organização. Dá como exemplo o caso de alguém que tendo adquirido prestígio e poder, começa a dar palpites e a interferir de forma perigosa em domínios que não são da sua especialidade, o que pode dar origem ao que designa de “suicídio corporativo”.

No curso é dada grande relevância ao estudo da personalidade do psicopata corporativo, no sentido de os futuros “profissionais integrais” serem capazes de identificar os traços dessa personalidade em indivíduos aparentemente empáticos, carismáticos e envolventes. Desse modo ficam aptos a prever e prevenir o “desastre corporativo”. O conceito de psicopata corporativo emerge da reflexão sobre comportamentos altamente competitivos das pessoas, em ambiente de trabalho, que conduzem a atitudes imorais e desprovidos de ética, numa conquista obcessiva de poder e ascensão hierárquica dentro das organizações.

Robert Hare, professor da University of Britsh Columbia, Canadá, e seus colaboradores, publicaram na revista New Scientist resultados de um estudo segundo o qual as características de certos trabalhadores psicopatas são favoráveis a que tenham sucesso na carreira. É no caos organizacional que pessoas com tal perfil alcançam rapidamente o topo.

Michael Shemer, num artigo da revista on-line Scientific American (http://www.sciam.com/) intitulado Do All Companies Have to be Evil?, escreve:

“Evil often happens in hidden places, removed from social accountability, such as in the deep recesses of Abu Ghraib. The first line of defense against evil, then, is transparency, open communication and the constant surveillance of every aspect of a system.”

sábado, 26 de julho de 2008

PROVIMENTO DEFINITIVO: UM PROCESSO "EXEMPLAR" AO LONGO DE 13 MESES

Na sequência da mensagem anterior, enviada à Academia, recebi várias mensagens solidárias e algumas perguntavam-me os factos e as pessoas. Mereceu-me particular atenção uma das mensagens. Transcrevo essa mensagem e a minha resposta.

Enviada: sex 25-07-2008
Para: Joaquim Gomes Sá
Assunto: RE: A toda a acdemia

Caro colega:

(…) fui levada a pensar, (...) que, possivelmente (aliás considero ser a única justificação) as pessoas que têm comportamentos do género dos que identifica em colegas desta universidade, não saberão agir de outro modo. Isto é, o quadro de referências/valores (?) delas foi-se construindo, destruindo-se, com base em facilitismos e mediocridades de tal modo intensas e marcantes que perderam a capacidade de juízo crítico e autoavaliação. Isto é tanto assim que chegam a pensar que os outros, aqueles que ainda vivem pensando no bem comum, no mérito individual e respeito pelas ideias dos outros, mesmo que diferentes das suas, e agem com base nos princípios mínimos de boa relação humana, "devem estar loucos"!

Será que esta justificação é suficiente para ficarmos quietos e deixarmos andar as coisas como estão? Penso que não.

Não sei o que vai conseguir mudar com esta sua longa exposição, valeu a sua atitude pela coragem em denunciar!

Um abraço solidário

A minha resposta

Cara colega,
Muito obrigado pela sua solidariedade. Tenho reflectido muito sobre a natureza das pessoas que agem deste modo. Como não haveria de pensar?

Veja.
O meu processo de provimento definitivo demorou 13 meses penosos (um caso similar pela mesma altura foi encerrado de forma célere), numa ameaça constante de um desfecho negativo, por motivo da acção persecutória de um casal de Professores Catedráticos: um fez (e faz) toda a sua carreira de científica no Centro de Engenharia Biológica da UM e o outro é proveniente do Instituto de Engenharia Biomédica (Porto). Ambos se tornaram Professores Catedráticos no grupo disciplinar de Matemática Elementar e Estudos do Meio Físico para a Criança da UM. Em regime de alternância têm dividido entre si a direcção do departamento ao longo de muitos anos

Sobre o meu provimento, havia um parecer externo positivo, mas o casal queria impor o seu parecer negativo. Esse parecer foi escrito debaixo de contestação, por via de incidente de suspeição, cujos fundamentos foram ignorados.

O parecer negativo afirma que o "Professor Joaquim Sá não refere como preparou, implementou e avaliou o desenvolvimento das disciplinas. Para nenhuma das disciplinas se referiu ao seu enquadramento curricular, aos objectivos a atingir, à selecção e organização dos conteúdos programáticos, aos processos de ensino-aprendizagem, aos métodos de avaliação dos alunos nem à lista biográfica relativa às principais obras a serem consultadas pelos alunos”.

Ou seja, invoca-se para um processo de provimento definitivo (Artº 44º do ECDU, nº 2) o que se aplica ao concurso para Professor Associado (Artº 20º do ECDU): o relatório da disciplina. Pior, eu teria de preparar não um relatório de disciplina, mas tantos relatórios quantos as disciplinas leccionadas. Como não fiz os relatórios das disciplinas, concluiu a relatora que “…Dada esta gravosa lacuna no seu relatório quinquenal (…) sou de parecer inequívoco que o Professor Joaquim Sá mostra não possuir competência, aptidão pedagógica e actualização…”.

Ora, sobre matéria pedagógico-didáctica e formação de professores, posso referir, pelo menos, que sou autor e principal co-autor de 4 livros, um dos quais em 2ª edição, sendo esse trabalho muito alicerçado na investigação realizada em sala de aula, com professores e alunos do 1º ciclo e do Jardim-de-Infância. Esses livros são amplamente utilizados em instituições de formação de professores. E, sem falsa modéstia, esse trabalho abre caminho a uma área académica nova no País, que é a do ensino e aprendizagem das ciências experimentais por crianças, o que está assinalado por quem prefaciou o 1º livro, em 1994. E foi um trabalho desenvolvido sempre na maior adversidade. O juízo daquele parecer é pois insultuoso e só por maldade pura pode ser justificado.

Entretanto em, em relatórios posteriores, a relatora contraria o critério que aplicou ao meu caso, seguindo o que é a interpretação geral da lei sobre o processo de provimento definitivo.

Perante sucessivas ilegalidades (sem atendimento aos meus apelos dentro da UM), apresentei uma queixa ao MCTES e a Inspecçao-Geral da Ciência, Inovação e Ensino Superior fez as suas averiguações. O relatório da Inspecção, homologado pelo Ministro da Ciência e Ensino Superior, recomenda que aqueles dois docentes não participem na deliberação sobre o meu provimento. Todavia essa recomendação não foi acolhida.

Com o arrastamento do processo cheguei a receber uma carta dos Serviços de Documentação que me informavam ter eu deixado de ser utilizador das bibliotecas - o que não podia ser pois eu era Associado. Um zelo extraordinário... e humilhante também. Ainda estou à espera de um pedido de desculpas.

Quando iam decorridos quatro meses após a entrega do relatório quinquenal, não havia decisão e o quinquénio do meu contrato já tinha expirado. Pedi informação sobre o processo por carta, comunicando que estava em casa sem visão, depois de um transplante de córnea, razão por que não podia solicitar a informação pessoalmente. Recebi como resposta um “pedido de audiência escrita”, por carta registada, assinada pela "Professora Catedrática Decano", como gosta de se auto-intitular. Às questões sobre o relatório quinquenal eu deveria responder no prazo de 15 dias.

Obviamente, para mim, considerando as pessoas e as circunstâncias, não era por mero acaso que tal carta coincidia com a difícil condição de visão; já tinham passado 4 meses e o parecer negativo já estava escrito e não foi modificado. Por outro lado, quem enviava o dito inquérito fazia-o à revelia do Conselho Científico de Catedráticos e Associados com provimento definitivo, que havia desencadeado o processo. Portanto, fê-lo à margem da legalidade.

Tornou-se para mim claro que se iria recorrer a um expediente qualquer para me negarem liminarmente o provimento definitivo, caso não respondesse às questões naquele prazo - era esse o objectivo. Respondi pois ditando para a minha esposa o que deveria escrever.

O problema de visão era muito complexo (era conhecido dos colegas), não sabia sequer que evolução poderia ter - estava por isso bastante abatido emocionalmente. Ser atacado, em tais circunstâncias, com aquela brutalidade, foi para mim e toda a família um verdadeiro horror. Eu não tinha ainda percebido que poderiam ir tão longe, de tal modo que só depois disto eu interpus um incidente de suspeição, que desde o início se justificava, mas que veio a ser ignorado.

Senti-me com um naúfrago a quem lhe retiram a única tábua de salvação e com ela lhe dão uma pancada na cabeça para que se afunde de vez.

Naturalmente, interrogo-me se isto é comportamento de pessoas normais. O que vivencio e observo na Universidade não pode deixar de me fazer pensar em psicopatas. Vasculhei um pouco os traços característicos dos psicopatas e lá estão:

- a completa ausência de empatia com a vítima;
- indiferença pelo sofrimento humano que provocam;
- ausência de sentimento de culpa;
- emocionalmente insensíveis;
- relações meramente instrumentais para obtenção de vantagens;
- simulados e astutos na ocultação do seu lado maligno.

Vejo com nitidez estes traços de carácter à minha volta.

E o que dizer de quem me enviou um conjunto de questões para responder por escrito, com prazo bem determinado, quando eu não estaria em condições físicas e psíquicas para o fazer? E que continua persistindo numa atitude de provocação e na obstinação de me sabotar projectos, etc?

Nenhum rebate de consciência faz esta gente reavaliar os seus actos ignóbeis e corrigir a sua conduta. A crueldade dos actos praticados é um juízo que não são capazes de fazer. Como bem diz, fizeram-se sem um quadro de referências e valores que lhes dê um sentido de moralidade e avaliação crítica da sua conduta. Fizeram-se no quero, posso e mando absoluto.

Nenhuma restrição se lhes impõe: nem o poder académico nem a sua consciência moral. O único critério quanto aos meios de que lançam mão são os seus desígnios pessoais - todos os meios são legítimos desde que sirvam esse propósito.

O que é particularmente grave é que em redor muita gente interioriza tais procedimentos como a normalidade institucional e aceita viver resignado com isso. Mais uma vez concordo consigo: os que mantêm a sua lúcida individualidade e pensamento próprio só "podem estar loucos".

Mas eu insisto que não podemos aceitar viver à mercê desta insanidade mental.

Há um grande défice de ética académica. A promoção de uma cultura de ética académica é uma necessidade básica de uma Universidade que não se cansa de dizer que é humanista.

Joaquim Sá

PS: É muito grande o manancial de provas de que disponho para tudo o que afirmo.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

"FORTES" E COBARDES!

Por um destes dias ficou mais uma vez bem patente o fenómeno que adiante descrevo.

Na UM há um certo tipo de "colegas", que são particularmente metódicos e calculistas no firme propósito de causar danos a quem não se submete aos seus desígnios pessoais. Sentem-se e actuam como se literalmente estivessem acima da lei e fazem com que todos em redor acreditem que ninguém lhes “pega”, por mais brutais que sejam os seus actos. Mas essa gente, quando se confronta com uma reacção e denúncia enérgicas, fica cobardemente assustada. Tornam-se então cordeiros mansos, sorrateiros, são até capazes de chorar (literalmente) tentando comover quem possa ficar do seu lado na eventualidade de a justa punição ser aplicada por via disciplinar. Se isso acontecesse seria o descalabro da farsa e da mentira em que vivem.

Mas entretanto, nada acontece, a borrasca passa, o tempo de aperto foi-se e uma vez atrás de outra vão ficando ilesos e incólumes. De cada vez que percebem ter “escapado”, logo voltam ao mesmo padrão de conduta, "fortes" na provocação e escárnio sobre as pessoas que atacam. Vão-se "safando" sempre e desse modo acumulam um "currículo" de patifarias que é de um modo geral conhecido, mas que se faz de conta que não existe, e tudo se passa como se estivessem investidos de uma plena autoridade académica.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

OS TRIBUNAIS COMO ARMA DE INTIMIDAÇÃO

Num Estado de Direito Democrático servem os Tribunais para aplicar a Justiça. Porém, em Portugal, o cidadão comum está longe de ter essa percepção – é um lugar comum dizê-lo. A justiça, quando chega, vem sempre fora de tempo, indiferente à ruina irreversível da vida de muitas pessoas, que não suportaram os danos da injustiça inicial mais os danos do tempo de espera por uma justiça que já não o chega a ser.

Os pobres não conseguem que um bom advogado se interesse por uma questão que queiram levar a Tribunal. Podem até ser recebidos, mas os seus processos ficam lá no fundo das prioridades, acabando no esquecimento e na perda de paciência de quem espera. Já para os ricos e poderosos qualquer questão se torna prioritária para advogados de grande nomeada. Os ilimitados honorários são forte argumento para um empenhado esforço nas manobras dilatórias, nas jogadas processuais e nos truques de retórica que conseguem convencer o juiz da inocência do cliente bem pagante.

Mas há um lado da justiça dos "fortes" que é particularmente perverso: o recurso aos tribunais para a intimidação dos cidadãos. Certos poderes recorrem com facilidade à queixa contra cidadãos cujo “crime” mais não é do que terem uma conduta cívica que condiciona e incomoda a pretensão de livre arbítrio de tais poderes. Tomam-se por vítimas para atacar quem não se submete à sua vontade. Sei da minha própria experiência o que isso é, e não pude deixar de me recordar do sucedido em 1997 quando li no blog http://universidadealternativa.blogspot.com/ o seguinte:

“FORAM FAZER QUEIXA AO JUIZ! [...] A DENÚNCIA, INTENTADA À MINHA PESSOA [...] TEM UMA VEZ MAIS UM CARIZ INTIMIDATÓRIO. DIZ RESPEITO, SEGUNDO ELES, AO ENVIO DE NOTÍCIAS e COMENTÁRIOS sob a forma de e-mails PARA O BLOG DO PROFESSOR CADIMA RIBEIRO.” (Identifica-se como autor do texto Nuno Soares da Silva).

Em 1997, na qualidade de dirigente da Associação Cívica Arco-Íris, depois de bem informado, denunciei publicamente um plano para extinguir a Escola de S. João do Souto (1º ciclo). O plano estava já em marcha e ao ser extinta a escola, no mesmo local seria construída uma unidade hoteleira, bem no centro da cidade. Mas a Direcção da Escola, os professores, a Associação de Pais, as famílias residentes e o Presidente da Junta de Freguesia pretendiam conservar a escola naquele local.

A escola apresentava-se muito degradada, como pude constatar, e a directora reclamava obras urgentes por parte da Câmara Municipal, tornando público o seu protesto pela situação existente. A autarquia mantinha-se intransigente, alegando os responsáveis que o edifício não tinha condições “fisicotecnodidácticas” para funcionar como escola. Na sequência da minha denúncia o Sr. Presidente da Câmara de Braga moveu contra mim uma queixa-crime. As averiguações feitas no processo de inquérito apuraram de forma bem eloquente os factos que sustentavam as minhas alegações; concluiu o Juiz que eu tinha agido de boa-fé na defesa legítima de um interesse público. O negócio abortou e pouco tempo depois fizeram-se avultados investimentos de recuperação do edifício, gozando hoje a escola de boa saúde, livre de qualquer ameaça.

Com isto incomodaram-me sem razão, andei em stress e aborrecido com essa situação, fui duas vezes ao Tribunal, tive que arranjar um advogado etc. E no final provou-se que eu não tinha feito nada de condenável, pelo contrário, tinha agido na “defesa legítima de um interesse público”. A queixa-crime contra mim foi notícia nos jornais, mas não foi notícia o despacho do seu arquivamento. E no final não disponho de qualquer meio para exigir ser ressarcido dos danos que tudo isto me causou. Era justo poder fazê-lo, mas não posso.

É nisto que consiste a utilização dos tribunais como arma de intimidação e de dissuasão de uma conduta de cidadania – uma perversão do sistema democrático. Pessoas ou poderes a quem uma determinada conduta cívica incomoda, sabem que podem impunemente e de forma gratuita causar sérios danos na vida de uma pessoa de bem. Um cidadão que viva de forma digna, no estrito respeito da lei e em boa harmonia com a sociedade pode assim dar de caras com um agente da polícia à porta, intimando-o para comparecer em Tribunal.

É esse carácter intimidatório que aparenta a queixa apresentada contra Nuno Silva Soares. E a ser verdade que se invoca o envio de notícias e comentários em forma de email, e não algo que tenha sido publicado, fica para responder uma importante questão: será que a obtenção da matéria recolhida para a queixa lançou mão da violação das caixas de correio electrónico? A ver vamos... São grandes as suspeitas e rumores na UM sob essa matéria.

Não se deixem intimidar os que se movem com elevado sentido cívico e ético na defesa do bem comum. O mundo seria bem pior sem a sua determinação e coragem.

Não nos esqueçamos porém que a raposa dá as papas a comer à cegonha num prato raso. Por mais que se esforce, a cegonha jamais conseguirá sequer provar as papas.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Matemática 9º ano: 2007 - 72,8% negativas; 2008 - 44,9% negativas. Quem não se alegra com mais sucesso?

Notícia do Públio-on line:10.07.2008 - 21h59 Isabel Leiria

Negativas na prova de Matemática do nono ano caem quase 40 por cento num ano.

Depois do sucesso no exame nacional de Matemática do 12.º ano, com a média nacional dos alunos internos a disparar para os 14 valores (em 20), agora foram os alunos do 9.º que revelaram uma melhoria muito significativa em relação à prova de 2007. A percentagem de negativas caiu de 72,8 por cento para 44,9 por cento, o que significa que há menos 38,3 por cento de notas negativas face à prova de 2007.

Em comunicado, o Ministério da Educação (ME) sugere algumas explicações para esta evolução. A saber: o “esforço dos professores e alunos” e os “instrumentos de apoio”. “Os alunos que agora fizeram exames trabalharam pelo segundo ano consecutivo no contexto do Plano de Acção para a Matemática”, lembra o ME.

Este programa, estreado em 2006 nas escolas básicas com 2.º e 3.º ciclo, não deu quaisquer frutos em termos de resultados nos exames nacionais no ano passado. Em 2007 aconteceu mesmo o pior resultado de sempre, com quase três em cada quatro alunos a chumbar na prova.

Mas para os professores da disciplina existem outras razões que podem explicar o sucesso deste ano, que se traduz numa duplicação das positivas. Tanto a Associação de Professores de Matemática (APM) como a Sociedade de Professores de Matemática (SPM) consideraram, no dia em que foi conhecida a prova, que o exame tinha sido o mais fácil de sempre (foram estreados em 2005).

“Em todos os casos os conceitos avaliados são simples e testados com exemplos demasiado elementares”, apontou a SPM em comunicado, acrescentando que havia questões que podiam ser resolvidas por alunos do 2.º ciclo e até do 1.º (até ao 4.º ano) e que de fora tinham ficado tópicos “importantes do 9.º”, como equações e polígonos. A APM fez um comentário semelhante e escreveu que, sendo muito provável que os resultados venham a ser melhores face aos dos anos anteriores, tal não significará necessariamente que “existiu uma melhoria nas aprendizagens dos alunos”.

Esta alegada maior facilidade poderá ajudar a explicar o facto de a percentagem de notas de nível 5 (a mais alta) ter subido de 1,4 por cento para 8,3 por cento. As classificações equivalentes a Bom (nível 4) dispararam de oito por cento para 21,4. A que se juntam 25,5 por cento de Satisfaz. Tudo somado, houve mais alunos a ter positiva do que negativa a Matemática. A classificação mais baixa de todas (nível 1), por exemplo, foi atribuída a apenas 3,3 por cento. Em 2007, foram 25 por cento a ter esta nota.

O director do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), organismo responsável pela elaboração das provas, sempre rejeitou estas críticas e alegou que o exame tinha sido “muito claro”, o que fez com que “a leitura fosse mais simples, mesmo quando as questões eram mais complexas”. Além disso, a prova contou com mais meia hora de duração em relação aos anos anteriores.

Comentário:


Esta política do "sucesso" é um insulto à inteligência das pessoas, uma falta de decoro total. Chegados aqui haverá alguma coisa que possa ser levada a sério na actuação do Ministério da Educação? O que não é para levar a sério não merece a consideração de um crítica séria. Como cidadão, sinto revolta, indignação e impotência ...


segunda-feira, 7 de julho de 2008

A reeleição da lista dos funcionários não docentes – OBRIGADO PELO VOSSO EXEMPLO!


No passado dia 26/06/08 a Comissão Eleitoral divulgou a eleição dos representantes dos funcionários não docentes para o Senado e a Assembleia da Universidade, a saber: a) para o Senado - Albano José Dias Serrano, Amaro António M. Rodrigues, António Ovídio M. Domingues, Maria Fernanda Teixeira Ferreira; b) para a Assembleia - António José Teixeira Sousa, José Emílio Palmeira, Maria Emília Sampaio C. Rodrigues, Maria Fernanda Teixeira Ferreira, Maria José Lage Alves, Mauro Miguel Moutinho P. Fernandes. Nada de especialmente relevante haveria nesta informação se estivéssemos simplesmente na presença de uma eleição, a que concorreram duas listas, tendo uma sido derrotada (Unir a Academia) e outra saído vencedora. Mas foi muito mais do que isso o que aconteceu.

Num primeiro momento da eleição dos representantes dos funcionários não docentes a única lista candidata foi rejeitada por uma maioria de votos brancos. Esse facto não foi notícia, e eu soube disso já algum tempo depois. Confesso que não conhecia até então algo semelhante. De um modo geral, em qualquer eleição a que se apresenta uma única candidatura, esta acaba por ser eleita, sendo frequente lamentar-se a reduzida participação eleitoral, bem como e a fragilidade do mandato dos eleitos, em tais circunstâncias. Situações que revelam um elevado grau de alheamento em relação ao processo eleitoral. Não foi esse o caso daquela eleição. Fiquei pois perplexo com a força de afirmação da vontade e do sentir dos funcionários, expressa naqueles votos brancos.

Procurei entender melhor o fenómeno. Que tipo de lista suscitava tanta rejeição? Porque não se teria constituído uma lista alternativa, capaz transformar o protesto dos votos brancos em votos de apoio a essa alternativa?

Obtive duas respostas simples:

a) a lista era promovida e constituída por certas chefias que nos últimos anos foram nomeadas pelo Sr. Reitor;

b) o clima existente entre os funcionários, resultante de certas formas de exercício do poder, inviabilizou a possibilidade de se constituir uma lista alternativa

Não tendo sido eleitos os representantes dos funcionários, organizou-se novo acto eleitoral. A força dos votos brancos tornou inevitável a constituição de uma lista alternativa que, sem surpresa, ganhou as eleições em 28/03/07. Mas o que estava em jogo parecia demasiado importante para quem as tinha perdido: a lista e os poderes que a apoiavam. Foram pois as eleições impugnadas judicialmente por causa dos cadernos eleitorais - que na eleição anterior não tinham qualquer problema -, envolvendo processos muito pouco edificantes. O juiz anulou as eleições e deu um prazo de três meses para repetir o acto eleitoral. Mas havia muita pressa e, no dia seguinte à decisão do Tribunal, o Sr. Reitor decidia o afastamento dos funcionários eleitos dos órgãos a que pertenciam.

A repetição das eleições ocorreu no dia 25 de Junho, tendo sido reeleita a mesma lista de funcionários, face a uma outra lista que pretendia Unir a Academia. No dia 26, os funcionários eleitos divulgam um comunicado de que transcrevo um excerto:

Registamos, com apreço, o facto dos funcionários terem confirmado, de forma inequívoca, o sentido de voto manifestado na eleição de 28 de Março de 2007, conduzindo, deste modo, à nossa (re)eleição.

Ficou, assim, não só claramente legitimada (para quem a questionava) a nossa participação nos órgãos colegiais de governo da Universidade, como se confirmou que os resultados antes verificados não foram fruto do erro e do acaso, mas sim de uma vontade esclarecida e responsável do corpo de funcionários da Universidade.

Entendemos ainda esta votação como a expressão da confiança e apreço em nós depositados, pelo trabalho desempenhado não só nos órgãos de governo, como no nosso quotidiano, com seriedade e independência, norteados apenas pela defesa dos interesses dos funcionários e da Universidade do Minho.

Ao longo dos últimos meses, regemo-nos sempre por um sentido institucional, em que procuramos preservar, acima de tudo e em diferentes instâncias, a imagem e a credibilidade da Universidade, sentido este que, a nosso ver, com pesar, não foi por todos compartilhado.

São palavras de uma grande dignidade, serenidade e sentido de serviço institucional, no momento em que finalmente fazem vencimento os seus valores e princípios, bem como a sua capacidade de interpretarem o sentimento profundo e a vontade do corpo de funcionários não docentes.

O que é de uma grande indignidade em tudo isto são as tentativas do poder em sonegar ao corpo de funcionários não docentes o legítimo direito de terem nos órgãos de governo da UM aqueles que os representam. É profundamente deplorável que se tenha pretendido calar a voz dos funcionários, afastando os seus representantes. Só a coragem, a determinação e a clarividência dos funcionários eleitos impediu que tal desiderato se tenha consumado. E com isso ganhou toda a Academia. Ganhámos todos, funcionários docentes e não docentes.

MUITO OBRIGADO PELO VOSSO EXEMPLO!

sábado, 5 de julho de 2008

Os nossos jovens já são bons a Matemática mas muito maus a Português!

Evolução das médias a Matemática A do 12º ano:

2004: 8,8
2005: 8,1
2006: 8,1
2007: 10,6
2008: 14

As notas dos exames nacionais de Matemática A foram as mais altas de todas as disciplinas, atingindo uma média de 14 valores. A percentagem de chumbos desceu de 18 para sete por cento. Por oposição, os resultados de Português foram os piores dos últimos 12 anos.

Notícia do Público: 5/7/08

Comentário
:

A receita para o sucesso escolar está encontrada. Basta agora aplicar às outras disciplinas a mesma filosofia de avaliação que conduziu ao sucesso na Matemática. Teremos assim em 2-3 anos o milagre-maravilha de termos passado de um sistema de ensino atrasado para um sistema de ensino de superior qualidade. Quando os estudos comparativos internacionais disserem o contrário, logo se verá como descalçar a bota. Para já, enquanto o pau vai e vem folgam as costas. No imediato, para efeitos de política interna, o que interessa é a aparência de que o ME está a superar o tradicional insucesso em Matemática. Mas o ME criou para si e para os cidadãos um grande dilema: qual é afinal o critério aferidor da qualidade das suas políticas? As boas notas na Matemática ou o estrondoso fracasso no Português?

Agora a sério:

As pessoas que pensam estes problemas e que sinceramente, de boa-fé, têm contributos para dar (sociedades científicas, académicos, associações de professores, etc), em nome do interesse geral do País, já perceberam que as suas ideias e críticas contam apenas com o desdém e o desprezo do poder. Tudo isto é de uma arrogância desmedida e de uma grande falta de respeito, para que alguém se sinta motivado para um trabalho de séria reflexão e análise cujo destino é chacota politiqueira. É um sentimento terrível que vai privando o País do relevante contributo da massa crítica de que dispõe, na abordagem dos problemas da educação.