quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Assédio sexual e assédio moral: faces da mesma moeda

A propósito do post anterior pode ler-se em Novos Rumos Novos Desafios
http://um-novosdesafios.blogspot.com/2010/08/assedio-moral-na-uminho.html :

Sou mulher e não vi retratado o assédio que tenho sentido há muitos anos, o assédio sexual perverso que se faz neste mundo da universidade. Não se trata de um fenómeno passageiro. É um problema que os homens usam abusivamente para atingirem os seus fins. Estou farta que me digam que não estou bem "porque estou naqueles dias".

As razões objectivas que são propícias ao assédio moral são igualmente propícias ao assédio sexual: uma situação de poder do agente de assédio face à (potencial) vítima.

O assédio sexual é normalmente entendido como sendo exercido pelo homem sobre a mulher, todavia, nem sempre é assim. Pessoalmente não tenho conhecimento de casos de assédio sexual do homem sobre a mulher, em contexto universitário, mas do assédio da mulher sobre o homem não posso dizer o mesmo.

Determinadas senhoras, que porventura sacrificaram uma vida afectiva saudável à profissão, ao atingirem um patamar elevado e estável na carreira, e vendo os anos correr..., acham que é chegado o momento de dar um pouco mais de "picante" e colorido às suas vidas (o que, em abstracto, não pode deixar de se considerar uma aspiração legítima). Um colega, seu subordinado, provavelmente mais jovem e supostamente um homem interessante, parece presa fácil, passando a ser visto como o instrumento desse desiderato. Passa então a ser alvo de especial atenção e interesse com vista a um estreitamento do relacionamento profissional: de início é "tudo a propósito de trabalho". O elemento masculino sente-se lisongeado com o interesse pelo o seu trabalho e com o "reconhecimento" da qualidade do mesmo, por parte da superior hierárquica, encarando com satisfação os incentivos, os apoios e até a perspectiva de um trabalho "conjunto". A sedução parece surtir o efeito desejado.

Mas com o tempo, o "eleito" vê reclamada sua presença a todo o momento para "colaborar" nesta e naquela tarefa inadiável, as mensagens por diveros meios passam a sar contínuas - cartas manuscritas, telefonemas para casa, para o gabinete, textos por email -, a senhora aparece no seu caminho invocando todo e qualquer pretexto. Finalmente sente-se cercado, sem liberdade para dispor do seu tempo e da sua vida com livre-arbítrio e decide começar afastar-se, com a parcimónia de quem teme represálias.

Chega-se ao ponto de a autora de assédio sexual reconhecer esse facto por escrito, disfarçado em urgentes tarefas profissionais, nestes termos: “(…) chego à conclusão que a minha “vigilância” permanente junto às “tuas-nossas” actividades conduziu sobre ti a uma sensação de pressão, de coacção, de “horror” à minha presença” (...) “Porque eu sei (e tu sabes que eu assim penso) que tu és intelectualmente brilhante; aspecto que, reconheço, fico eu bem aquém. Assim, a tua visão teórica, intelectual, poderia ter “casado” bem com a minha capacidade efectiva de execução”.

As verdadeiras intenções são percebidas e finalmente declaradas - a situação torna-se patética e de grande embaraço. Tendo em conta a relação hierárquca, o sujeito explica de forma cautelosa que "não pode ser", que "não está interessado", mas a pressão continua, é um sufoco. Por fim, acaba por ser necessária uma atitude de mais drástica ruptura.

Temos então uma mulher que se sente rejeitada, mas essa mulher dispõe de poder sobre quem a rejeitou - está o caldo entornado. Quem não reconheceu os seus encantos femininos há-de reconhecer o seu poder da pior maneira. Segue-se então a revanche e começa o processo de assédio moral.

Assim, é na relação de poder - do homem sobre a mulher ou da mulher sobre o homem - que assenta o assédio sexual que, por sua vez, pode dar lugar ao assédio moral. Sendo os fenómenos de natureza diferente podem em certos casos ser faces da mesma moeda.

1 comentário:

Maria disse...

Também acontece esse tipo de assédio com as mulheres .... aconteceu conmigo ......e não é nada agradável.
Se no caso que contou pode ser um homem mais novo assediado por uma mulher mais velha, o que será de uma mulher mais nova, no início daquela carreira, para a qual lutou, assediada por um homem mais velho no final da carreira ..... nem queira saber .....