sexta-feira, 11 de abril de 2008

CIÊNCIAS EXPERIMENTAIS PARA CRIANÇAS


Fui professor de Físico-Química do Ensino Secundário até ingressar na carreira universitária para ser formador de educadores de infância e de professores do 1º ciclo, na componente de Ciências. Confrontado com essa responsabilidade, não pude deixar de me colocar uma questão fundamental:

- que sei eu acerca do que fazer para que estes jovens venham a ser capazes de ensinar ciências às crianças?

Eu tinha feito um Mestrado em Ensino das Ciências e tinha lido uns quantos livros e artigos acerca do que se ia fazendo noutros países, desde a década de 60; mas isso não resolvia a questão. Estávamos em 1990 e não existia literatura que me pudesse elucidar acerca da educação científica nas nossas escolas primárias, quer do ponto de vista dos alunos, quer do ponto de vista dos professores.

E mesmo que existisse, as questões persistiam:

- como vou fazer destes jovens, professores de ciências de crianças, se eu próprio não sei – de experiência vivida - como ensinar ciências às crianças?

- como vou formar professores de crianças se me intimida a simples ideia de ter um grupo de crianças à minha responsabilidade?

A minha única vivência com crianças, em contexto de ensino, resumia-se à vaga e já distante recordação do que fora a minha instrução primária.

Senti-me compelido a enfrentar o desafio de eu próprio me tornar competente no ensino de ciências experimentais a crianças. Por isso, de um modo informal, fui estabelecendo contacto com professores do 1º ciclo e pedia-lhes que me permitissem ensaiar o ensino experimental de alguns tópicos por mim planificados; por outro lado, colaborava com os alunos estagiários a orientar actividades de ensino planificadas sob minha supervisão. E assim, desta forma exploratória, que durou cerca de 2 anos (90/91 e 91/92) fui ganhando confiança e autonomia na condução de uma turma.

E os resultados desse trabalho caiam-me em abundância no regaço, como fruta madura em tempo de colheita.

O envolvimento das crianças nas actividades, a sua alegria e satisfação constantes, a atmosfera de efervescência intelectual nos grupos e, sobretudo, o desmuronar de ideias feitas acerca das aprendizagens "possíveis", deram-me o sentimento de ter descoberto algo fascinante. A experiência era empolgante e, o que quer que ela significasse, em termos da carreira académica, diziam-me as crianças que eu tinha que dar continuidade ao trabalho iniciado. Foi assim que surgiu o projecto de doutoramento e a subsequente actividade de investigação que tenho desenvolvido.

A permanência nesta temática, ao longo destes anos, suscitou alguma perplexidade em alguns colegas que me chegaram questionar sobre o porquê desta “paixão”. Assumo a paixão e para ajudar à sua compreensão dou a palavra a Karl Popper, quando falava aos seus alunos:

"(...) penso que só há uma caminho para a ciência ou para a filosofia, (...): encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte vos separe - a não ser que encontrem um outro problema ainda mais fascinante, ou, evidentemente, a não ser que obtenham uma solução. Mas mesmo que obtenham uma solução, poderão então descobrir, para vosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos, encantadores ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderão trabalhar com um sentido, até ao fim dos vossos dias."

E não há dúvida de que todo o trabalho realizado é apenas o começo. A concretização do Mestrado em Ensino Experimental das Ciências no Ensino Básico, na Universidade do Minho, a iniciar no próximo ano lectivo, poderá dar uma expressão maior à formação dos professores para o ensino experimental nas escolas do 1º ciclo.

Artigo publicado no jornal ComUM, edição impressa nº 6, em 6/04/08

2 comentários:

Anónimo disse...

obrigada Professor por ter encontrado um "problema" ver a sua beleza, ter-se apaixonado por ele, já casou e o mestrado são os filhotes... quanto ao viver feliz penso que está na continuação da dinamica das suas aulas, no modo como ensina. obrigada por me ter ensinado o caminho das ciÊncias no JI algo que até à bem pouco tempo achava ser uma utopia :)

Anónimo disse...

Boa Tarde!
Também sou Licenciada em Ensino de Física e Quimica, como no fim de acabar o curso, não tive emprego, começei a fazer voluntariado numa IPSS, implementei lá actividades de Ciência, hoje estou a dar aulas de Ciências Experimentais em algumas escolas do Concelho de Sever do Vouga e a dinamizar um projecto de Ciência em todos os Jardins do mesmo Concelho.
As crianças são muito observadores, nunca pensei que me senti-se tao relizada...
E como de pequenino se torce o pepino!” A cIÊNCIA É UMA MANEIRA DE ESTAR NA VIDA.
Aí vai o meu contacto: soniatvouga@gmail.com