domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Tribunal do Santo Ofício anda por aí!

A propósito da Inquisição em Portugal escreve José Hermano Saraiva (1):

"A censura intelectual revestia três aspectos:

1)... 2)...

3) Submissão da produção literária interna à prévia censura do Santo Ofício. Só depois de examinadas e aprovadas, as obras podiam ser impressas. A censura incluía o direito de correcção do texto, cortando e modificando o que parecesse aos censores menos conveniente. A segunda edição d' Os Lusíadas saiu com cortes de grande extensão.

Os regulamentos inquisidores foram aplicados com todo o rigor. (...) Durante uma parte do sécuo XVI e ao longo de todo o século XVII, a Inquisição conseguiu manter a actividade cultural portuguesa isolada do movimento das ideias europeias, movimento que precisamente nessa época foi extremamente intenso e inovador. (...) Mas à acção isoladora associou-se a acção intimidadora: o escritor sabia que entre ele e o prelo havia a Inquisição (...). A produção literária afastou-se então de tudo o que pudesse levantar problemas. (...) Os temas dominantes serão de futuro os que não implicam risco: seráficos, agiológicos, edificantes, congratulatórios".

(Benditos os que só levantam a voz para actos laudatórios do seu chefe! Deles será o reino dos céus na terra!)

É pois claro que tudo o que pareça ao censor "menos conveniente" vai inexoravelmente "levantar problemas" a quem se torna "inconveniente". O tribunal do Santo Ofício está investido do poder divino de lançar à fogueira quem pratica o "inconveniete" de graves ofensas à Santa Fé.


Vem tudo isto a propósito da notícia que circula em vários forum da net, segundo a qual:

"um órgão da Universidade do Minho obrigou [um] docente a encerrar os seus projectos criativos na net, os quais tinham já uma visibilidade de âmbito nacional".

(ver em:

http://mediascopio.wordpress.com/2008/01/24/televisao-passado-e-futuro/#comments)

Que órgão é esse?

De que graves ofensas à Santa Fé é acusado o citado docente?

Isto passa-se realmente numa universidade ... pública?

No século XXI?

Bom, se fosse num país de radicalismo islâmico, seria um facto natural...

Mas, num país democrático europeu?

Certamente é porque nesse país europeu, o espírito inquisitorial está sempre à espreita... condicionando e aprisionando os indivíduos e a consciência colectiva. E, por via disso, muito frágeis são os valores da Liberdade e da Democracia. A todo o momento os potenciais agentes do Santo Ofício empunham a sua VERDADE castradora.

Retomemos José Hermano Saraiva:

"O funcionamento eficaz, durante um período muito longo (dois séculos) de um serviço de controlo da actividade intelectual e de repressão de opiniões e práticas confessionais é, sem possibilidade de dúvida, um facto de extrema importância. Penso, assim, que não falta razão aos historiadores que consideram a prolongada vigência do Santo Ofício um dos factos capitais do processo português."

Ora, aqui está boa parte da idiossincracia que nos amarra ao atraso cultural, científico, económico e cívico. Sem espaço para que o potencial criativo humano floresça não há progresso e desenvolvimento.

As universidades deveriam ser o lugar da livre criação por excelência.

Lutemos por esse ideal, já que a realidade estilhaça as nossas ilusões.

(1) Saraiva, H. J. (2004). História de Portugal. Mem Martins: Publicações Europa-América Lda.

7 comentários:

Anónimo disse...

Ainda tropeças neles...

Anónimo disse...

Onde está o Sindicato? Quem protege este colega destes Catedráticos?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Isto ainda vai dar bronca da grossa. E quem se vai lixar é o mexilhão, como sempre acontece nestas situações, porque a universidade é grande e poderosa.

Joaquim Sá disse...

Os comentários eliminados poderão ser publicados mediante a identificação dos autores.

Anónimo disse...

http://sol.sapo.pt/blogs/meiadeleite/archive/2008/01/15/Dissidencias_3A00_-MAS-N_C300_O-H_C100_-VERGONHA-NA-CARA_3F00_.aspx