domingo, 18 de janeiro de 2009

Ó isso já foi há muito tempo!

Foi assim também que a vida social portuguesa, agora pacificada, normalizada, viu a não inscrição reassumir os seus privilégios em todo o seu esplendor. Tal ministro que se aproveita ilegalmente de uma lei para escapar ao fisco demite-se para voltar á tona incólume, meses ou anos depois; o escândalo que mancha a acção de um governante, longe de o afastar definitivamente da política, pode ser mesmo a ocasião para começar uma carreira com um futuro ainda mais brilhante (…) Nada tem realmente importância, nada é irremediável, nada se inscreve.

E tudo se desenrola sem que os conflitos rebentem, sem que as consciências gritem, é porque tudo entra na impunidade do tempo – como se o tempo trouxesse, imediatamente, no presente, o esquecimento do que está à vista, presente.

José Gil
Comentário:

Mutatis mutantis … por aqui bem perto. Esquecer o que está à vista, bem perto, bem presente. As operações de branqueamento limpam mais branco que a lixívia ... Ó isso já foi há muito tempo! Ossanas à paz dos cemitérios! Vamos recomeçar de novo, vai ser tudo diferente, com os mesmos artistas de glória, incólumes nos lugares de sempre. Os esqueletos são muitos... mas estão bem guardados no armário. "Que chatisse pá, vens agora com isso, olha o futuro. Deram-te na tromba? E depois, isto é mesmo assim, os outros também levam, faz parte... Não sabias?". A realidade não existe... Vivemos na ficção da realidade feita de patéticas gargalhadas e amarelos sorrisos que dissimulam a podridão. Não há lugar para ser; apenas para parecer. ..

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