terça-feira, 7 de abril de 2009

O assédio moral nas universidades: uma disciplina científica

Kenneth Westhues é Professor de Sociologia na Universidade de Waterloo, Canadá, sendo um dos seus principais domínios de investigação científica o academic mobbing, expressão que, em português, se aproxima do significado de assédio moral nos meios académicos. Dos vários livros sobre esta matéria, publicados por Kenneth Westhues, são especialmente elucidativos os seguintes títulos:

- Workplace Mobbing in Academe: Reports from Twenty Universities.
- The Envy of Excellence: Administrative Mobbing of High Achieving Professors
- Eliminating Professors: A Guide to the Dismissal Process
(uma sátira)

Existem diferentes terminologias para designar esta problemática, nomeadamente: assédio moral, em Portugal e no Brasil; mobbing nos países nórdicos, na Suiça, na Alemanha e na Itália; harassment ou mobbing nos Estados Unidos da América; ijime, no Japão; acoso moral em Espanha; bullying, na Inglaterra; harcèlement moral, na França.

Uma pesquisa na Internet com as palavras-chave “academic mobbing” ou “academic bullying” permite-nos subitamente tomar consciência de um fenómeno humanamente corrosivo no seio das universidades, que é amplamente objecto de investigação científica, contrariamente ao que se imagina em Portugal. Aí se encontram igualmente testemunhos, relatados na primeira pessoa, de académicos que viram as suas vidas devastadas pelo fenómeno de mobbing, de que foram vítimas.

O conceptualização do assédio moral no trabalho como matéria de interesse científico deve-se a Heinz Leyman (1932-1999), psicólogo alemão que desenvolveu os seus trablhos na Suécia, tendo para o efeito cunhado o termo mobbing. Segundo Messias Carvalho “a palavra 'mobbing' deriva do verbo inglês 'to mob' que, em português, significa atacar, maltratar, tratar mal alguém, cercar, rodear, … O substantivo 'mob', donde deriva o verbo, significa populaça, gentalha, turba, ralé… “

Segundo Leyman (1990):

Psychical terror or mobbing in working life means hostile and unethical communication which is directed in a systematic way by one or a number of persons mainly toward one individual. (…) These actions take place often (almost every day) and over a long period (at least for six months) and, because of this frequency and duration, result in considerable psychic, psychosomatic and social misery.

Entre vários dos efeitos do mobbing sobre as vítimas, o mesmo autor refere:

Psychological: A feeling of desperation and total helplessness, a feeling of great rage about lack of legal remedies, great anxiety and despair.

Psychosomatic and psychiatric: Depressions, hyperactivity, compulsion, suicides, psychosomatic illness. There are suspicions that the experiences deriving from this social situation have an effect on the immune system (one company physician observed a couple of "mysterious" cases of cancer).

Tais fragilidades permitem aos mobbers (agentes de mobbing - agressores) a acção perversa de tentarem capitalizar a seu favor os danos que conseguem causar sobre os mobbed (vítimas de mobbing), apontando os seus problemas de saúde e as dificuldades de desempenho profissional como a “prova” de que todo o problema reside neles. O que é preciso então é a “solução final”: eliminá-los. Segundo Davenport, Schwartz, e Elliot (1999) o objectivo final do mobbing é de facto “dominar, subjugar e eliminar”. Os meus aturados "estudos" sobre esta matéria não me deixam a mais pequena dúvida sobre a verdade do que afirmam estes autores.

E se aquele que é alvo de mobbing, alega em sua defesa os danos que lhe estão sendo causados, em consequência da violência psicológica a que está sujeito, aponta-se-lhe de novo o dedo acusador: com escárnio e desprezo diz-se-lhe que se vitimiza como justificação para as suas fraquezas. Na perspectiva desta teoria, os sobreviventes dos campos de concentração nazi seriam poibidos de relatar os horrores por que passaram: não seriam vítimas, estariam a fazer-se de vítimas. Mas, pior do que uma simples teoria estúpida, do que se trata é de uma acção que tende a fazer a vítima acreditar que tudo o que possa fazer em sua defesa se volta contra contra si própria, que está cercado por todos os lados, e que não há outro caminho que não seja deixar-se desfalecer no silêncio.

Títulos como A Inveja da Excelência: o Ataque dos Dirigentes a Professores de Elevado Mérito... não podem deixar de nos arrepiar. E quantas vezes os mobbers usam o discurso da Excelência, do supremo Bem das instituições/departamentos, para legitimar as suas agressões? Discurso falacioso da cultura de pensamento único! Os especialistas demonstram de forma bem fundamentada os enormes prejuízos que resultam do fenómeno de mobbing para as organizações e a sociedade.

Alguns links sobre academic mobbing:

3 comentários:

Anónimo disse...

"Destruir o que os outros constroem é a compensação que resta aos que não são capazes de criar, de transformar. Rende mais, é moda, é in, dizer mal, até porque não tem consequências dizê-lo; a capa da liberdade fez-se álibi, manto diáfano de impunidades para a traficância, a chantagem, a devassa, a calúnia, a insinuação, o cinismo, a cobardia.
Carreiras, dignidades, projectos, iniciativas, sonhos, são demolidos, inibidos, ante alarvidades públicas e desesperos privados.
Os julgadores não estão, sabe-se, do lado da ousadia, do golpe de asa, do futuro, da mudança, da experimentação; estão do lado do lugar-comum, do instituído, do previsível, do correcto – a que dão voz para ter voz e proveito".

In “Os Mal-Amados” de Fernando Dacosta

Monteiro disse...

Sou aluna de mestrado em psicologia forense e gostaria de obter informação sobre o Mobbing. Será possível ajudar-me...

Joaquim Sá disse...

Sim, estou disponível para conversar consigo. Contacte-me.