Em nome de “uma liberdade … de questionamento” (não direi “incondicional”), que se proclama em tempo de eleições, vale a pena perguntar qual é o preço dessa forma de estar na vida académica.
Qual é o preço de (tentar) ser livre?
Dou-vos o testemunho da minha experiência pessoal de 20 anos de vida na UM:
É um preço pesado demais para as forças de um ser humano ! Já não era suposto eu cá estar.
Gostaria pois que nesta campanha as palavras fossem usadas para significar o se pretende significar. E que se seja consequente!Se assim for o futuro é promissor…
Se a lista A defende a Universidade como um espaço de “uma liberdade incondicional de questionamento” e a lista B defende para a Universidade a “vocação de lugar de insatisfação, inquietação e crítica permanentes”, estaríamos perante um consenso favorável a grandes transformações. Seria assim, aparentemente.
Acontece porém que o discurso e a discussão se situam no plano macrossistémico da instituição. Mas esse nível de análise só ganha grande relevância quando se articula com a dimensão microssistémica. Fala-se de projecto, de gestão, de organização, de grandeza da instituição, mas não se fala das condições de vida das pessoas. A facilidade de um discurso abstracto, sem qualquer preocupação de coerência entre o que se enuncia e o que se faz, torna perfeitamente natural que gente muito pouco recomendável apareça a “defender” valores e princípios que são a antítese da sua conduta académica.
A real transformação da Universidade joga-se na tecitura das relações humanas de que é feita a malha institucional. É aí que a alarmante degradação das relações interpessoais corrói a saúde mental das pessoas, tendo um efeito devastador das energias produtivas e criativas da instituição.
Podemo-nos eventualmente contentar com alguns grupos de referência internacional, mas é pouco. A força de uma instituição, de um País, não se jogam no brilhantismo das excepções; joga-se sim num nível médio elevado. Isso é muito complexo e requer uma grande visão estratégica. Nessa visão entra a compreensão de que a “causalidade microscópica tem efeitos catastróficos (ou de sucesso) a uma escala mil vezes superior”, como nos diz o filósofo José Gil na sua visão lúcida do Portugal, hoje.
Na última campanha eleitoral para Reitor tentei introduzir estas questões tendo escrito na altura que:
“Seria interessante realizar-se um estudo sobre os níveis de satisfação profissional, bem como da qualidade do contexto laboral na UM, do ponto de vista da promoção/degradação da saúde mental das pessoas que nela trabalham. Constata-se que a narrativa das lamentações de corredor e em encontros informais, é completamente dissonante com o discurso assumido em contextos formais. (…) Seja a UM capaz de usar os recursos de que dispõe para se investigar a si própria.”
Depois disso, por coincidência ou não, chegou a ser divulgado pela um-net um inquérito sobre o grau de satisfação profissional, dito anónimo. Tinha que se enviar as respostas pela intranet e eu, tendo respondido, comuniquei a opinião de que um inquérito remetido aos serviços por via electrónica não poderia ser considerado anónimo.
A meu ver, as principais causas da degradação da malha institucional e da elevada insatisfação profissional que se vive na UM reside:
a) nos abusos de poder, exercidos à margem da legalidade e em profundo desrespeito pelas pessoas e pelos seus legítimos direitos (2);
b) na injustiça inerente ao favorecimento de uns em detrimento de outros, em termos de oportunidades profissionais e de progressão na carreira.
Retomo a ideia do estudo já sugerido. Os resultados permitirão à instituição uma elevada consciência de si e conterão certamente importantes indicações para realizar mudanças necessárias. É possível, em sede de elaboração dos estatutos da UM, introduzir regulamentação que aponte o caminho de um Universidade mais justa, mais democrática, mais humana e mais transparente quando ao reconhecimento dos méritos e competências das pessoas. Faço votos de que a futura Assembleia Estatutário funcione com suficiente abertura para considerar propostas de outros docentes para além dos que lá estarão.
(1) No que me diz respeito, são irrefutáveis as conclusões da Inspecção-Geral da Inovação e do Ensino Superior, homologadas por despacho do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, de 27 de Julho de 2006. A Provedoria de Justiça acompanhou e inquiriu a Universidade do Minho, sobre este processo, durante um ano e meio.
PS: Texto divulgado na UM, em 28/11/07, durante a campanha eleitoral para a Assembleia Estatutária.
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